Sacerdotes devem evitar "dinheiro, vaidade, orgulho", diz Card. Stella


Cidade do Vaticano (RV) - Na ação do padre não podem e não devem existir "compartimentos estanques", a ponto de dividir aquilo que é "pastoral" daquilo que é "administrativo". Trata-se de compromissos de tipo diverso, mas mesmo assim "incluídos dentro da caridade pastoral".

Foi o que sublinhou o Cardeal Beniamino Stella, ao pronunciar-se no encontro realizado por ocasião do centenário da Federação entre as Associações do Clero na Itália (FACI), realizado em Assis na manhã de 24 de outubro.

Em síntese, enquanto pastores "tudo aquilo que o padre faz e vive é pastoral, porque é voltado às pessoas, é de fato o seu rebanho, a sua família, e as envolve de uma forma ou outra".

Aprofundando os "aspectos pastorais-administrativos na espiritualidade presbiteral, o Prefeito da Congregação para o Clero ofereceu algumas indicações sobre temas de grande atualidade eclesial, a começar pela reforma dos processos de declaração de nulidade dos matrimônios introduzida pelo Papa Francisco com os Motu proprio Mitis iudex Dominus Iesus e Mitis et Misericors Iesus, de 15 de agosto.

O papel dos párocos

Hoje - disse Dom Stella - estamos diante de "uma reforma eclesial com características diferentes daquelas do passado",  uma reforma que pretende "voltar-se não somente aos agentes do direito e aos especialistas, destinatários naturais de disposições de tal gênero", mas também, e em medida importante, aos párocos e sacerdotes.

Sobressai, de fato, "a relevância jurídica da atividade pastoral dos párocos e o papel ativo a que eles são chamados a desempenhar na implementação de tal reforma".

Com efeito - observou o purpurado - tal reforma "tem profundas raízes pastorais, mesmo permanecendo uma matéria de natureza jurídica e técnica". Raízes que nascem "da semente da renovação pastoral e da atenção às "periferias" de todo tipo, sempre levadas em frente pelo Papa Francisco".

E para a vida das comunidades - observou - "talvez em muitos casos, as situações assim chamadas "irregulares", foram consideradas no passado periferias quase inatingíveis" e o instrumento do processo para a declaração de nulidade matrimonial "um castelo de muros altíssimos, onde somente poucos sortudos, ou privilegiados, poderiam penetrar".

Entre os agentes envolvidos, com competências não exclusivamente jurídico-canônicas, é de fato "mencionado, em primeiro lugar, o pároco".

Deste modo, é preenchido "o abismo muitas vezes existido entre vida cotidiana dos fiéis e o tribunal eclesiástico, percebido facilmente como entidade "abstrata" e distante".

Neste sentido, o pároco desenvolve em primeiro lugar "um ministério de escuta e de acolhida", deixando-se encontrar "por quem o procura e partindo da própria vontade a iniciativa de fazer-se próximo destes, de quem veio a conhecer a condição de divorciados recasados, ou daqueles que, pelos motivos mais diversas, chegaram a duvidar da validade do próprio matrimônio, mesmo não sendo separados ou divorciados".

Nesta fase, ao seu "faro pastoral", é "confiado o discernimento sobre o caminho pelo qual conduzir o diálogo com as pessoas envolvidas", ou seja, "o caminho da reconciliação, idealmente sempre o primeiro a ser tentado"; ou, em segundo lugar, aquele em direção "ao processo de nulidade matrimonial", lançando uma "ponte entre as pessoas e o tribunal eclesiástico".

Este ministério de acolhida - observou o Prefeito da Congregação para o Clero - é também "um ministério de discernimento, considerando que o pároco é e permanece sendo um pastor".

Administração dos bens

Outro aspecto importante para a atividade pastoral-administrativa do sacerdote, é aquele da administração dos bens. O Cardeal recordou a este propósito que na sua pregação, diversas vezes o Papa Francisco "voltou ao tema do dinheiro e da possibilidade de testemunho evangélico, ou do escândalo que pode derivar disto, ambientando o discurso em um horizonte antes de tudo espiritual".

Para estabelecer uma correta relação com o âmbito econômico, é necessário para isto "guardar-se de ceder à tentação de idolatrar o dinheiro", como disse o Pontífice na homilia matutina na Casa Santa Marta em 20 de setembro de 2013.

Do magistério do Papa Francisco - sublinhou o purpurado - podem ser extraídas duas importantes advertências para o serviço a ser prestado à Igreja por meio dos bens eclesiásticos.

Por um lado, se é chamado "a administrar os bens da Igreja antes de tudo com zelo evangelizador e espírito missionário".

Por outro, existe sempre o risco do "grande escândalo que hoje pode derivar de um uso imprudente ou desonesto do dinheiro", porque "o povo de Deus não te perdoa se tu és um pastor apegado ao dinheiro".

De fato, "dinheiro, vaidade e orgulho" são os "três degraus que nos conduzem a todos os pecados".

Quanto à "espiritualidade administrativa" a que cada presbítero é chamado a cultivar - o Cardeal convidou os padres a exercerem as suas funções "com a diligência de um bom pai de família" e com prudência e sabedoria.

De fato, um sacerdote "bom pai de família" pensa no futuro dos próprios "filhos", "não de forma ingênua e sonhadora, mas concreta e razoável".

Ele não "individa a "família" seguindo projetos pessoais, quem sabe bons, mas irreais, conhece o valor do dinheiro e se sente responsável pelos bens que a Igreja confiou aos seus cuidados", para que um dia "ele possa restitui-los a quem vier depois dele".

Um ulterior tema ligado à gestão dos bens é o da oferta recebida dos fiéis para a celebração de missas. A este respeito, o Prefeito mencionou o Decreto Mos iugiter de 1991, com as suas normas e com os convites à prudência que contém.

Por fim, o Cardeal Beniamino Stella recordou outro elemento administrativo com importantes consequências pastorais para o ministério do pároco: a possibilidade de dispensar os fieis da obrigação de observar o dia festivo por uma justa causa, conforme as disposições do bispo diocesano.

"Trata-se - explicou - de um exercício concreto da misericórdia divina, que por meio da Igreja e os seus ministro, chega aos fiéis".

(JE - L'Osservatore Romano)








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