2017-10-16 09:34:00

Cristãos perseguidos numa diáspora inquietante


“Deus não esquece os seus filhos, a sua memória é para os justos, para aqueles que sofrem, que são oprimidos e que se perguntam porquê, e mesmo assim não cessam de confiar no Senhor” – esta a confiante afirmação de Francisco na homilia da Missa na Basílica de Santa Maria Maior por ocasião do Centenário da Congregação para as Igrejas Orientais.

Nesta edição de “Sal da Terra, Luz do Mundo” recordamos as palavras de Francisco sobre as dramáticas perseguições que sofrem os cristãos no Oriente e conferimos os mais recentes dados da Fundação AIS-Ajuda à Igreja que Sofre, no seu relatório sobre a perseguição aos cristãos.

O drama dos cristãos orientais

Na manhã de quinta-feira dia 12 de outubro o Papa Francisco presidiu a uma Missa na Basílica de Santa Maria Maior por ocasião do Centenário da Congregação para as Igrejas Orientais.

Recorde-se que este organismo pontifício foi instituído no dia 1 de maio de 1917 pelo Papa Bento XV em pleno período da I Guerra Mundial. O Papa Francisco recordou-o na sua homilia assinalando que hoje em dia vivemos também uma guerra mundial, mas “aos pedaços”.

Em particular, o Santo Padre recordou que vemos hoje “tantos nossos irmãos e irmãs, cristãos das Igrejas orientais, experimentar perseguições dramáticas e uma diáspora cada vez mais inquietante” – afirmou.

Francisco assinalou na ocasião que estas perseguições aos cristãos das igrejas orientais trazem tantas interrogações, em particular, a propósito da vida dos malfeitores que, “sem escrúpulos”, tratam dos seus interesses, “esmagam os outros” e pensam apenas em “gozar a vida” – disse o Papa.

O Senhor está com os que sofrem

Mas a Sagrada Escritura dá-nos a resposta de que necessitamos pois “Deus não esquece os seus filhos” – afirmou o Santo Padre:

“Deus não esquece os seus filhos, a sua memória é pelos justos, por aqueles que sofrem, que são oprimidos e que se perguntam porquê, e mesmo assim não cessam de confiar no Senhor” – disse Francisco.

E há um modo para entrar na memória de Deus – afirmou o Papa – através da oração pois “quando se reza” assumimos a coragem da fé: “ter a confiança de que o Senhor nos escuta”, ter a “coragem de bater à porta” de Deus. E o Senhor nos dará “um dom, o Espírito Santo” – declarou o Santo Padre.

Recordemos que as Igrejas Orientais Católicas estão presentes sobretudo na Síria, no Líbano, no Iraque, na Turquia, no Egito, na Jordânia, na Arménia, na Ucrânia e ainda na Eritreia e na Etiópia.

O Papa Francisco recebeu no Vaticano na passada semana os patriarcas e arcebispos das Igrejas Orientais.

Relatório AIS: “Perseguidos e Esquecidos?”

Foi oficialmente divulgado em Portugal na passada quinta-feira dia 12 de outubro o mais recente relatório da Fundação AIS – Ajuda a Igreja que Sofre. O tema é: “Perseguidos e Esquecidos?” – uma interrogativa que visa mostrar o crescimento da violência contra os cristãos, em particular, em algumas zonas do globo.

A Ajuda à Igreja que Sofre publica a cada dois anos um relatório sobre a perseguição religiosa no mundo. O último foi publicado em 2016, sendo este agora um documento intercalar dedicado às perseguições perpetradas contra os cristãos.

Segundo este relatório da AIS, pode-se verificar que onde os cristãos são uma minoria a situação tem vindo a deteriorar-se muito nos últimos anos. Há relatos de torturas e de fugas em massa. O cristianismo corre mesmo o risco de desaparecimento em certas regiões. A AIS publica neste relatório um ponto de situação feito a 13 países num período temporal definido entre agosto de 2015 e julho de 2017.

As atividades terroristas do auto proclamado Estado Islâmico e de outros grupos radicais jihadistas fazem sentir a diferença, em particular, no Médio Oriente, onde é clara a violência contra os cristãos. Nesta zona destaque para a Síria e para o Iraque onde a situação é particularmente grave.

Em declarações à Rádio Renascença, a Emissora Católica Portuguesa, Catarina Martins, diretora da AIS em Portugal, alertou para a situação dos cristãos no Médio Oriente e disse que o “cenário” que este relatório aponta “é o da possibilidade de em três anos as comunidades cristãs pura e simplesmente desaparecerem nestes dois países. O que me choca muito porque estamos a falar do berço do cristianismo” – afirmou a diretora da AIS.

Registo neste relatório da AIS para a chamada violência de Estado contra os cristãos registada em países como a China e a Coreia do Norte. Também em subida estão os ataques e perseguições aos cristãos em África. Particularmente grave a situação na Nigéria devido às ações terroristas do grupo islâmico Boko-Haram.

Ainda em declarações à Rádio Renascença, Catarina Martins considera que, não obstante o facto de vários países, como Portugal, terem feito declarações de reconhecimento das perseguições e violências contra os cristãos, em especial no Médio Oriente, não têm havido medidas concretas: “Tem de haver medidas concretas, mas infelizmente o que continuamos a ver é que acima de tudo estão as questões económicas e as questões estratégicas, de posicionamento dos países mais poderosos do mundo” – lamentou a diretora da AIS-Ajuda à Igreja que Sofre.

Na apresentação deste relatório em Lisboa na passada quinta-feira dia 12 de outubro esteve D. Nuno Brás, bispo-auxiliar de Lisboa, que proferiu a seguinte declaração, a este propósito, como chamada de atenção para todos nós que não vivemos perseguições: “Na Nigéria, os cristãos vão à missa todos os domingos sabendo que pode rebentar uma bomba, e que podem não regressar. Mas vão na mesma. E nós aqui, que temos toda a liberdade, deixamos de fazer isso. Não deixa de ser dramático e paradoxal” – disse D. Nuno Brás na apresentação do relatório da Ajuda à Igreja que Sofre.

“Sal da Terra, Luz do Mundo” é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa.

(RS)








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