Santa Sé e China devem ter relação de "tolerância", defende jesuíta chinês


Cidade do Vaticano (RV) – “Atualmente está em andamento o diálogo entre a Santa Sé e o governo chinês: meus votos são de que a Santa Sé não desafie o governo com um ideal muito elevado ou irreal, o que nos forçaria a escolher entre a Igreja e o governo chinês”.

Foi o que afirmou ao Padre Antonio Spadaro o jesuíta chinês Joseph Shin, com 90 anos passados entre a China e Roma.

Na entrevista que abre a próxima edição da “Civiltà Cattolica”, o sacerdote que vive atualmente em Xangai revela os sentimentos dos católicos chineses e os problemas que a diplomacia deve enfrentar para manter um canal sempre aberto com Pequim, em vista da plena relação.

Entre os temas de interesse, a leitura que Padre Shih faz dos acontecimentos envolvendo o Bispo Ma Daquin, auxiliar de Xangai ordenado em 2012 com o aval do Papa, e hoje acusado de “colaboracionista” por alguns católicos.

“Embora esteja atualmente em prisão domiciliar – diz Padre Shih -  ele está tentando se aproximar de seu governo; faço votos de que a Santa Sé o apoie e o deixe tentar”.

“Sou otimista”, diz ele ao ser interpelado sobre o momento atual vivido pela comunidade católica na China. “Antes de tudo – explica - porque acredito em Deus”.

Perguntado sobre que tipo de relação deveria existir entre Santa Sé e China, respondeu: “A de oposição? Seria um suicídio! O acordo? Tampouco, porque a Igreja perderia a sua identidade. Assim, a única relação possível é a da recíproca tolerância. A tolerância é diferente do acordo. No acordo se cede algo ao outro, até o ponto que o outro fique satisfeito. A tolerância não cede, nem exige que o outro ceda”.

O convite ao otimismo da fé e à tolerância vai de encontro às afirmações feitas pelo Papa Francisco em diversas ocasiões sobre o diálogo, quer político como ecumênico e inter-religioso.

Para o jesuíta chinês, “é preciso ir além dos preconceitos e das aparências. Se não nos obstinarmos em nossos preconceitos e soubermos olhar para além das aparências, descobriremos que valores fundamentais do socialismo sonhados pelo governo chinês não são incompatíveis com o Evangelho em que acreditamos”.

“Poder-se-ia perguntar então: mas se a Santa Sé não se opõe ao governo, este último tolerará a Igreja na China? Podemos somente dizer – recorda o religioso – que a Igreja Católica na China existe e funciona. Isto significa que de uma forma ou outra, a tolerância já é vivida e experimentada”.

Como a Santa Sé e o governo chinês estão dialogando -  observa ainda Shin – “aqueles que se opõe, acentuando de modo exagerado e instrumental a diferença entre a ‘Igreja oficial’ e a ‘Igreja clandestina’, explorando este aspecto sem escrúpulos para impedir o processo em andamento”, não ajudam de fato, “a vida e a missão da Igreja na China”.

Desta forma Dom Ma Daqin, que nunca pode exercer o ministério episcopal pelas críticas feitas à Associação Patriótica em 2012 após a sua nomeação - e por isto está em prisão domiciliar desde então – hoje que tenta uma aproximação com o governo”, não trai suas convicções, nem se rende. (JE/Ansa)








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