Papa em Bolonha: dinheiro, ruína para a vida consagrada


Bolonha (RV) – O Papa Francisco falou de improviso na tarde deste domingo, ao encontrar os sacerdotes, religiosos e religiosas, seminaristas do Seminário regional e os diáconos permanentes na Catedral de São Pedro, em Bolonha, em um clima de grande familiaridade e diálogo.

Diocesanidade 

Respondendo à pergunta de um sacerdote sobre a oportunidade de alimentar a exigência evangélica da fraternidade, Francisco concentrou-se na importância para cada religioso de viver a diocesanidade, carisma próprio e imprescindível de cada sacerdote diocesano.

Esta, afirmou, “é uma experiência de pertença, quer dizer que não és livre, mas és um homem que pertence a um corpo. Acredito que esquecemos isto tantas vezes, porque sem cultivar este espírito de diocesanidade, nos tornamos muito “únicos”, muito sozinhos com o perigo de ser também infecundos, nervosos...”.

A diocesanidade – acrescentou o Pontífice – tem também uma dimensão de sinodalidade com o bispo: “o corpo tem uma força especial e o corpo deve ir em frente sempre com a transparência. O compromisso da transparência, mas também a virtude da transparência cristã como a vive Paulo, isto é: a coragem de falar, de dizer tudo. Paulo sempre ia em frente com esta coragem”.

Ser pastores do povo que cuidam do rebanho

Não à hipocrisia clerical ou ao clericalismo – recordou Francisco – sugerindo aos religiosos para serem pastores do povo, que cuidam do rebanho.

“Não quer dizer ser um populista, não! Pastor do povo, isto é, próximo ao povo, porque foi convidado para estar ali e fazer crescer o povo, para ensinar o povo, santificar o povo, ajudá-lo a encontrar Jesus Cristo. Pelo contrário, o Pastor que é muito clerical se assemelha àqueles fariseus, àqueles doutores da lei, àqueles saduceus do tempo de Jesus: “Somente a minha teologia, o meu pensamento, o que se deve fazer, o que não se deve fazer!, fechado ali e o povo lá, nunca interferindo na realidade de um povo”.

O Papa  explicou ainda: “Gostei do almoço hoje: não porque a lasanha estava muito boa, mas gostei porque estava li o povo de Deus, também os mais pobres, ali, e os pastores estavam ali, todos na mesa do povo de Deus.

O Pastor deve ter uma relação – e isto é sinodalidade – uma tríplice relação com o povo de Deus: na frente, para ver o caminho; digamos o pastor catequista, o pastor que ensina o caminho. No meio, para conhecê-los, proximidade; o pastor é próximo, em meio ao povo de Deus. E também atrás, para ajudar os retardatários e também às vezes para deixar o povo ver porque, sabe – tem bom faro o povo, eh! – para ver qual caminho escolher. Mover-se nas três direções: na frente, no meio e atrás. E um bom pastor deve ir neste movimento”.

Clericalismo, um dos pecados mais fortes

A diocesanidade, a relação entre nós sacerdotes, a relação com o bispo, com a coragem de falar de tudo, e de suportar tudo, nos ajuda a não cair no clericalismo – acrescentou Francisco, recordando como o clericalismo é um dos pecados mais fortes.

“É triste quando um Pastor não tem o horizonte do povo. É muito triste quando as igrejas permanecem fechadas  - algumas devem permanecer fechadas – mas quando se vê um aviso na porta: de tal a tal hora, depois não tem ninguém. Confissões somente em tal dia, de tal hora a tal hora. Mas tu...não é um escritório do sindicato, eh! É o lugar onde tu vais adorar o Senhor. Mas se um fiel quer adorar o Senhor e encontra a porta fechada, onde irá fazê-lo? Pastores com horizonte de povo: isto quer dizer “como eu faço para estar próximo de meu povo”.

Dois vícios da vida consagrada

Francisco, então, quis se concentrar sobre dois vícios que afetam a vida consagrada: o mais frequente é o da tagarelice: sujar a fama do irmão, com as fofocas e as reclamações.

O outro “é o pensar o serviço presbiteral como carreira eclesiástica... Me refiro a um verdadeiro comportamento galgador. Mas isto é uma peste, em um presbítero. Existem duas pestes fortes: esta é uma. Os galgadores. Que buscam fazer carreira e sempre têm as unhas sujas, porque querem subir. Um galgador é capaz de criar tantas discórdias no seio de um corpo presbiteral. Os galgadores fazem tanto mal para a união do presbitério, tanto mal, porque vivem em comunidade, mas fazendo, mas agindo assim para eles irem em frente”.

“Psicologia da sobrevivência”

O Papa respondeu ainda a uma pergunta sobre os passos a serem dados para colocar-se na perspectiva de Cristo, sendo testemunhas de alegria e esperança, capazes de tocar as chagas dos irmãos, se abstendo da psicologia da sobrevivência.

“Cair na psicologia da sobrevivência – afirmou Bergoglio – é como “esperar a carruagem”, o carro fúnebre. Esperamos que chegue a carruagem e leve o nosso Instituto. É um pessimismo desesperançado, não é de homens e mulheres de fé isto. Na vida religiosa, esperar a carruagem não é uma atitude evangélica, é uma atitude de derrota. Esta psicologia da sobrevivência leva à falta de pobreza. É buscar a segurança no dinheiro. E este é o caminho mais adaptado para nos levar à morte”.

Dinheiro, ruína para a vida consagrada

O Papa, então, convidou os religiosos a fazer um exame de consciência sobre como vivem a pobreza: “A segurança na vida consagrada, não é dada nem pelas vocações, nem pela abundância do dinheiro; a segurança vem de outro lugar”, recordou o Papa.

“Tantas Congregações que diminuem, diminuem, e os bens aumentam. Tu vê aqueles religiosos ou religiosas apegados ao dinheiro como segurança. Esta é a medula da psicologia da sobrevivência: isto é, sobrevivo, estou seguro porque tenho dinheiro. E o problema não está tanto na castidade ou na obediência, não! Está na pobreza. A psicologia da sobrevivência de leva a viver mundanamente, com esperanças mundanas, não de colocá-la na estrada da esperança divina, a esperança de Deus. Mas o dinheiro é realmente uma ruína, para a vida consagrada”.

O caminho do rebaixamento

Quanto à necessidade de tocar as chagas de Jesus nas chagas do mundo, o Papa propôs o caminho do rebaixamento, rebaixar-se com o povo de Deus, com aqueles que sofrem, com aqueles que não podem te dar nada. Terás somente a força da oração: esta – concluiu o Papa – ao contrário da psicologia da sobrevivência que se alimenta de pessimismo – é o caminho que conduz ao Reino de Deus. Não é fechada, sem horizontes, sem povo, mas é aberta, com horizontes fecundos.

Aos religiosos, a exortação final: que a vida consagrada seja um tapa na mundanidade. (JE/CS)








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