Editorial: Com os braços abertos


Cidade do Vaticano (RV) – Na última quarta-feira o Papa Francisco lançou a campanha “Compartilhe a viagem”, organizada pela Caritas Internacional, em prol das famílias obrigadas a migrar. Uma iniciativa para favorecer a cultura do encontro seja nas comunidades de origem dos migrantes, seja naquelas em que transitam ou onde escolhem viver. Durante a Audiência geral na Praça são Pedro, após a sua catequese, o Santo Padre fez um premente apelo, afirmando “que Cristo mesmo nos pede para acolhermos os nossos irmãos e irmãs migrantes e refugiados”. A imagem símbolo do lançamento da campanha foi o Papa Francisco com os braços abertos. Sim, com os braços abertos, disse o Papa, “prontos a um abraço sincero, afetuoso e envolvente, como a colunata da Praça São Pedro, que representa a Igreja Mãe que abraça todos na compartilha da viagem comum”. No Brasil o lançamento oficial foi diante do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro; o Cristo que permanentemente está com os braços abertos.

Compartilhemos a viagem para favorecer a cultura do encontro. Uma campanha, cuja abordagem de partilha de experiência de refugiados e migrantes não se focaliza nos números, nas estatísticas, mas nas histórias de cada um. É necessário mudar a percepção das pessoas. Francisco nos convida a isso, falando do fenômeno da migração, e esse é o aspecto mais importante.

É fundamental em uma época em que se fala sobretudo de números, começar a fazer entender à opinião pública que por detrás das cifras existem pessoas. Há mulheres, crianças, famílias, que sofrem durante a viagem que os leva para longe de suas origens, de suas raízes. É necessário ir além dos dados e mudar a percepção sobre quem é obrigado a partir, ou por causa das guerras, das violências, ou por causa da pobreza e da fome.

E cada refugiado, cada migrante, tem uma história para contar: história muitas vezes de abusos, de violências durante o “seu caminhar”. Pessoas frequentemente vítimas de traficantes e organizações criminosas. Compartilhar suas histórias é o caminho para procurar criar uma empatia, um sentimento de solidariedade.

Quem deixa a sua casa, sua terra, seu país, leva na bagagem a esperança. Na última quarta-feira durante a Audiência geral Francisco afirmou que a esperança é o impulso no coração de quem parte em busca de uma vida melhor, mais digna para si e para seus entes queridos. É também o impulso no coração de quem acolhe: o desejo de encontrar-se, de conhecer-se, de dialogar. A esperança é o impulso – recordamos o slogan da campanha – a “compartilhar a viagem”, porque a viagem se faz em dois: aqueles que chagam à nossa terra e nós que vamos ao encontro do seu coração, para compreendê-los, para entender a sua cultura, o seu idioma. É uma viagem a dois, mas sem esperança essa viagem não pode ser feita.

Falando à Secretaria de Comunicação do Vaticano, o Presidente da Caritas Internationalis, Cardeal Luis Antonio Tagle afirmou que “para a Igreja e especialmente para a Caritas Internationalis é um momento para recordar não somente aos cristãos, mas a todo o mundo, o mandamento do Senhor que sempre tem no coração as pessoas mais vulneráveis. O Senhor está presente nos estrangeiros! Este é o objetivo mais profundo: obedecer ao mandamento do Senhor”. 

Este objetivo fundamental se expressa nas palavras do Papa Francisco quando fala de acolher, de proteger, de promover o desenvolvimento integral humanitário de cada imigrante e de integrar os migrantes em uma nova comunidade.

O Cardeal Tagle recorda que “a migração não é um fenômeno novo no mundo”. Olhando para o mundo numa perspectiva verdadeira, a história da humanidade é uma história de migrações! Porém, agora, existem fatores e fenômenos que tornaram a migração “perturbadora”: as novas formas de escravidão, o uso das mídias, a vendo do sexo, a venda de crianças.

Em um mundo que constrói tantos muros devemos abater muros que já existem: muro da mentalidade, da indiferença. A Campanha da Caritas é precisamente um apelo à conversão, a sair da indiferença, a uma mudança de mentalidade encontrando o outro, porque quando encontramos o outro, o migrante, face a face, os meus olhos certamente se abrem; não vejo somente uma estatística ou um número, mas uma pessoa verdadeira, o meu irmão, a minha irmã, o meu próximo. Existe uma humanidade que não é uma questão abstrata, mas uma questão que diz respeito à dignidade da pessoa. Uma humanidade a ser acolhida com os braços abertos. (Silvonei José)








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