2017-09-25 10:15:00

Rezar pelos governantes e lutar contra a máfia e corrupção


Nesta edição de “Sal da Terra, Luz do Mundo” refletimos sobre as palavras de Francisco sobre políticos e governantes. O Papa propõe uma “política autêntica” que lute contra a máfia e a corrupção. O Cónego Américo Aguiar, Presidente do Conselho de Gerência da Rádio Renascença ajuda-nos a compreender as palavras do Papa Francisco.

Interceder por quem governa

Foi na segunda-feira dia 18 de setembro que o Papa Francisco afirmou na missa na Casa Santa Marta que os cristãos devem rezar pelos seus governantes. E quem não o fizer comete um pecado.

Na sua reflexão o Santo Padre partiu da atitude de S. Paulo que, na Primeira Leitura da Liturgia daquele dia, aconselha Timóteo a rezar pelos governantes.

Entretanto, na Leitura do Evangelho de Lucas, há um governante que reza: trata-se de um oficial romano que tinha um empregado que estava doente. O oficial preocupou-se com o seu subordinado e rezou por ele.

Em particular, o Papa assinalou que um governante que não reza está a “fechar-se” na sua “autorreferencialidade ou naquela do seu partido”.

Importante referência nesta homilia de Francisco, para a oração de intercessão pelos governantes, tal como a propõe Paulo “por todos os reis” e “por todos aqueles que estão no poder”. Uma oração “para que possamos levar uma vida calma e tranquila”.

No final da homilia o Santo Padre pediu a oração de todos pelos governantes declarando que “não rezar pelos governantes é um pecado”.

Vigilância e responsabilidade pelo bem comum

Na semana passada o Papa Francisco recebeu no Vaticano os membros da Comissão Parlamentar Italiana Anti-Máfia. No discurso que proferiu na ocasião o Santo Padre recordou três magistrados assassinados pela Máfia: Rosário Livatino, Giovanni Falcone e Paolo Borselino. Francisco afirmou que nunca estaremos “suficientemente vigilantes” para as tentações do “oportunismo” ou da “fraude”. Sinal disso são as políticas desviantes e centradas nos interesses que confundem a “verdade” com a “mentira” e aproveitam-se do “papel de responsabilidade pública”. É necessária uma “política autêntica” que seja uma forma eminente de caridade – disse o Papa.

Espaço propício para se desenvolverem as máfias são aqueles onde prolifera a “corrupção” – acrescentou o Santo Padre definindo a corrupção da seguinte maneira:

 “A corrupção sempre encontra o modo para se justificar, apresentando-se como a condição “normal”, a solução de quem é “esperto”, o caminho para atingir os seus objetivos. Tem uma natureza contagiosa e parasitária, porque não se nutre do que de bom produz, mas do que subtrai e rouba. Enfim, a corrupção é um “habitus” construído sobre a idolatria do dinheiro e da mercantilização da dignidade humana, por isso deve ser combatida com medidas não menos incisivas do que as previstas na luta contra as máfias” – declarou o Papa.

Lutar contra as máfias – disse ainda o Santo Padre – é também “transformar” e “construir” assumindo o compromisso da “justiça social. Para tal é preciso vigiar com responsabilidade pelo bem comum – afirmou:

“É mesmo preciso educar e educar-se com constante vigilância sobre si próprio e sobre o contexto em que se vive, juntando uma perceção mais atenta dos fenómenos de corrupção e trabalhando por um modo novo de ser cidadãos, que envolva o cuidado e a responsabilidade pelos outros e pelo bem comum” – disse Francisco.

Viver a doutrina social da Igreja

A propósito destas palavras do Papa sobre políticos e governantes e sobre os temas da máfia e da corrupção, a Rádio Vaticano ouviu o Cónego Américo Aguiar, presidente do Conselho de Gerência da Rádio Renascença. O Cónego Américo formulou para a nossa emissora, em declarações exclusivas, uma reflexão sobre o significado desta lição do Santo Padre, em particular, no contexto de eleições autárquicas que se realizam em Portugal no próximo dia 1 de outubro. Eis as suas declarações:

“Eu penso que o Papa nos quer mais uma vez provocar e lembrar que os políticos não são extraterrestres que vêm não sei de onde e pertencem não sei a quem e querem fazer não sei o quê. Eles são da nossa terra, são da nossa família, são do nosso sangue e, se calhar, comportam-se, possivelmente, como qualquer um de nós, teria, em circunstâncias idênticas, a tentação, porventura, de se comportar.

É fundamental rezarmos por eles, é pecado se não rezarmos por eles, como é pecado abstermo-nos de tomar opções. E nós estamos num contexto, em Portugal, de eleições autárquicas que são aquelas em que os políticos são de maior proximidade. Aliás como o Papa tanto fala, não será uma igreja em saída mas políticos em saída, em razão da proximidade destes eleitos. E nós, em primeiro lugar, temos que agradecer pelo facto de muitos milhares de portugueses e alguns estrangeiros que vivem em Portugal se disponibilizarem para este sufrágio: nas assembleias de freguesias, nas freguesias, às assembleias municipais, nas câmaras municipais, são milhares e milhares de homens e mulheres que se disponibilizam ao sufrágio e não é leve, não é uma decisão leve para as famílias e para os próprios.

Depois darmos graças a Deus porque por tantos que eu conheci nos bastidores noutros tempos da minha vida que exercem verdadeiros sacerdócios. Que não têm fins-de-semana, não têm horários, não têm agenda, porque nós normalmente como fazemos aos senhores bispos e aos senhores padres sugamo-los até ao tutano porque os queremos junto de nós, porque os queremos a ver os nossos problemas, porque os queremos sintonizar com aquilo que são as nossas preocupações e esquecemos que por trás daquele rosto e daquela cara há uma família, existem problemas, existem dificuldades para as quais nós não estamos dispostos a dar tempo de antena, se é que assim podemos dizer.

Por isso, nós não podemos esquecer, como quando o Papa fala das questões muito italianas da máfia e da corrupção, não nos esqueçamos que para que tudo isso aconteça têm que estar outros atores e, às vezes, os outros atores somos nós. Quando pedimos uma ‘cunha’, quando pedimos um ‘jeitinho’, quando pedimos uma coisinha qualquer que não prejudica ninguém: é assim que tudo começa. Não prejudica ninguém mas depois acaba por prejudicar aquele que tinha prioridade e que fica para trás porque eu pedi, porque eu sou conhecido, porque eu, porventura, influenciei. Por isso, resguardemo-nos nesta provocação do Papa de rezarmos pelos políticos, porque ao rezarmos por eles estamos a rezar por nós, estamos a rezar pela ‘coisa pública’, estamos a viver aquilo que são os alicerces: a doutrina social da Igreja, o bem comum, a dignidade da pessoa humana, a subsidiariedade e a caridade exercida até ao limite de dar a própria vida como Cristo fez.”

Rezar pelos políticos e governantes é, portanto, uma obrigação dos cristãos, ajudando a que cada um de nós saiba discernir em cada momento o sentido do bem comum colocando de lado os seus próprios interesses. Mais uma chamada de atenção do Papa Francisco para nos fazer refletir e agir na nossa vida quotidiana.

“Sal da Terra, Luz do Mundo” é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa.

(RS)








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