Vale do Javari: D. Adolfo Zon fala sobre o suposto massacre


Tabatinga (RV) - O Ministério Público Federal no Amazonas está investigando uma denúncia de que indígenas de um grupo que vive isolado na Terra Indígena Vale do Javari, incluindo mulheres e crianças, podem ter sido assassinados e esquartejados. Garimpeiros ilegais que costumam navegar pelo rio Jandiatuba, localizado dentro da terra indígena, seriam os suspeitos.

A investigação começou na sequência da queixa da Funai. De acordo com a reconstrução, os índios estariam coletando ovos de tracajá numa praia nas margens do rio, e os caçadores de ouro atiraram com armas de fogo contra os indígenas. Não se sabe quantos podem ter sido mortos, mas suspeita-se que tenham sido mais do que dez pessoas. Mais tarde, os garimpeiros se gabariam do massacre em um bar em São Paulo de Olivença, exibindo uma pá de mão, remos e flechas. Dois acusados foram interrogados em Tabatinga, mas depois da deposição voltaram para a liberdade.

Com 8,5 milhões de hectares, a terra indígena do Vale do Javari foi homologada em 2011 e, segundo dados da Funai, há ao menos 14 indicativos de índios isolados. O órgão considera "isolados" grupos indígenas que não estabeleceram contato permanente com a população não-indígena. Há pelo menos 107 registros de isolados no Brasil, todos na Amazônia. A RV entrevistou o bispo de Alto Solimões, Dom Adolfo Zon:

Dom Adolfo, o sr. tinha conhecimento da existência destes povos?

“Eu tinha conhecimento de que existem os índios conhecidos como ‘isolados’ ou ‘flecheiros’. A área do Javari deve ser o lugar onde existem mais grupos destes chamados ‘isolados’. Eu soube do acontecimento pelas declarações que o próprio Ministério Público tinha concedido a um jornal de Manaus e depois, me ligaram do Conselho Missionário (CIMI) e foi a partir da notícia das declarações de que existia a denúncia do suposto massacre e que estavam pesquisando. O massacre foi no mês de agosto, então, a partir daí, estão fazendo as investigações”.

A atividade de garimpo nessa região é praticamente toda ilegal. Além da poluição e degradação ambiental inerentes à atividade, o garimpo está associado a condições de trabalho precárias, prostituição, tráfico de entorpecentes e vários crimes relacionados à violência. O que procuram estes garimpeiros?

“Pelo que eu sei, aqui há garimpeiros, tanta gente que entra por aí para extrair as coisas da floresta. O garimpeiro praticamente procura no rio Jandiatuba é ouro. Não dizer exatamente o material que estão extraindo, mas pelas pessoas com que falei, parece que é ouro”.

São comuns ataques contra indígenas nesta área? A Diocese de Alto Solimões publicou uma nota de repúdio. O que os srs. estão cobrando?

“Já na época da borracha, sempre houve este enfrentamento com os povos indígenas. Então, isto não é de agora. Hoje, por exemplo, esta área do Javari é toda indígena... deveria ser preservada, mais vigilada. Na nota, nós estamos cobrando também do governo uma maior garantia de proteção, porque muitas unidades de proteção da Funai foram suprimidas e reduzidos os recursos para a manutenção daquelas que existem. Então, estamos cobrando também uma maior firmeza do Estado Federal para a proteção nestas áreas indígenas”.

Assista essa filmagem aérea da Survival, o movimento global pelos direitos dos povos indígenas, de uma tribo isolada no Acre e veja como os indígenas isolados são uma chave fundamental na diversidade humana e seus territórios são a melhor barreira ao desmatamento:

(cm)

 

 

 








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