Núncio na Colômbia: Francisco ajudará construir futuro do país


Bogotá (RV) - Uma viagem em que o Papa Francisco poderá convidar “a não cair nos tentáculos da corrupção, da polarização”, equilibrando “verdade” e “misericórdia” para romper com um passado marcado por mais de 50 anos de conflitos e violências protagonizadas pelas Forças armadas revolucionárias da Colômbia (Farc) com ao menos 260 mil mortos, mais de 60 mil desaparecidos e mais de 7 milhões de refugiados e deslocados.

É a leitura que o núncio apostólico na Colômbia, Dom Ettore Balestrero, faz desta visita do Santo Padre no âmbito da 20ª viagem apostólica internacional de seu Pontificado. O prelado não omite o fato de a realidade colombiana ser ainda marcada pela “violência” e pelo “narcotráfico”, de a sociedade ser ainda hoje manchada pelos contrastes “de tipo urbano” e “entre familiares”, de as ações do Exército de libertação nacional (Eln) não serem capítulo concluído.

Diante de um país que busca encontrar o caminho da reconciliação e da paz, o núncio apostólico busca enquadrar – em entrevista à Rádio Vaticano – a visita do Papa à Colômbia, num momento realmente crucial para o país andino:

Dom Balestrero:- “O Papa vem como um peregrino de esperança e de reconciliação. Obviamente, é esperado com uma grande alegria, como o amigo que pode ajudar a dar um passo: um passo rumo a Deus – e por conseguinte rumo aos irmãos – para dar amor, para construir pontes. O Papa num país como a Colômbia seguramente convidará a não cair nos tentáculos da corrupção, da polarização, equilibrando a verdade e a misericórdia para a construção da nova Colômbia.”

RV: Que país os mais de 50 anos de conflito armado deixaram do ponto de vista social e econômico? Neste momento foi completada a fase de entrega das armas; a transformação das Farc está em andamento; a questão das terras ainda está de pé; o narcotráfico continua...

Dom Balestrero:- “Estes 53 anos certamente deixaram feridas, porém, também uma grande sabedoria e plasmaram uma esperança viva no povo. A Colômbia é hoje um país em grande transformação, hoje mais urbano que rural, que está concluindo um capítulo de seu conflito com as Farc, mas ainda não concluiu o capítulo da implementação do acordo com elas. Portanto, é um país que, infelizmente, ainda tem o problema da violência, do narcotráfico; e que porém, apesar de tudo isso, está tendo e vivendo um notável desenvolvimento econômico; possui abundantes recursos naturais e humanos e com estes pode aspirar alcançar as democracias desenvolvidas do Ocidente. Porém, evidentemente, experimenta também as fraquezas e as tentações dessas mesmas democracias. E é por isso que a visita do Papa pode ajudar a construir um futuro equilibrado, um futuro que tenha respeito por Deus e pelos homens.”

RV: O senhor citou o percurso de pacificação com as Farc. Digamos que teve início, mais recentemente, o diálogo com o Exército de libertação nacional...

Dom Balestrero:- “O que mais conta é que tenham fim, o quanto antes, todas as violências deste grupo e, em particular, os sequestros, o recrutamento de crianças, os atentados às infraestruturas vitais do país e também a disseminação de minas antipessoais. Porque creio que somente desse modo se pode acreditar na vontade de mudar.”

RV: Qual tem sido o papel da Igreja no caminho rumo à paz?

Dom Balestrero:- “A Igreja é chamada a acompanhar de perto seu povo, justamente como fizeram o pároco de Armero e o bispo de Arauca, que foram mortos por ódio à fé e que o Papa beatificará justamente durante essa viagem, em Villavicencio. No que tange às Farc, a Igreja não foi parte da negociação, porém, quis colaborar em alguns aspectos, entre os quais um muito delicado: tomar consciência de que as vítimas devem estar no centro da solução do conflito.”

RV: O senhor recordou os dois mártires colombianos. Semanas atrás foi assassinado outro jovem sacerdote: como enquadrar essas violências? Um espécie de confronto ainda em andamento pelo narcotráfico, uma ação da guerrilha, da criminalidade, dos paramilitares?

Dom Balestrero:- “Infelizmente, a violência na Colômbia não acabou porque há vários atores e agentes de violência. Porém, indubitavelmente, as violências nos últimos anos – e sobretudo no último ano – diminuíram vertiginosamente, em particular, as violências provenientes da guerrilha. Por outro lado, há outras formas de violência que, infelizmente, eram e continuam presentes, como as violências entre familiares, de tipo urbano... E essas requerem um esforço por parte de todos e uma maior coerência entre a fé e a vida dos colombianos.”

RV: O Papa encontrará vítimas e ex-guerrilheiros: será sua mensagem de paz, que, portanto, poderá ir além dos confins da Colômbia?

Dom Balestrero:- “De modo particular, ele rezará em Villavicencio diante do Crucifixo que em 2002 presenciou o massacre de Bojaya. E rezará também a fim de que todos aqueles cuja dignidade foi violada e que, ferindo o próximo, feriram também a própria dignidade, com seu arrependimento possam compreender que a misericórdia de Deus é para todos. Porém, é preciso uma colaboração da parte de todos para forjar um futuro de esperança. E creio que seja uma mensagem válida para a Colômbia, mas também para tantos outros países desta região.”

RV: Na Colômbia se tem vivido um momento de emergência migratória, em particular, proveniente da Venezuela. Qual contanto os senhores têm com a Igreja venezuelana a esse propósito e quais são as esperanças?

Dom Balestrero:- “Pessoalmente, como testemunha vejo com admiração o empenho com o qual as dioceses colombianas e venezuelanas, sobretudo as de fronteira, estão colaborando intensamente para enfrentar essa emergência migratória. Por exemplo, as dioceses de Cúcuta e de São Cristóbal – a primeira na Colômbia, a segunda na Venezuela. De fato, as dioceses de fronteira querem unir-se todas num plano pastoral de emergência. Para enfrentar essa situação estão oferecendo diariamente ajudas de primeira necessidade e também de caráter jurídico aos venezuelanos que chegam à Colômbia. Os colombianos são convidados a ver Jesus naqueles irmãos e, por conseguinte, a considerar esses irmãos não como uma possibilidade de comércio, mas como um Cristo que precisa ser ajudado, alimentado e apoiado.” (RL/GA)








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