Reforma litúrgica: "Proclamamos a vossa ressurreição"


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória História - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a falar na edição de hoje sobre a renovação litúrgica trazida pelo Concílio.

Na última quinta-feira o Papa Francisco ao encontrar os participantes do 68ª Semana Nacional Litúrgica italiana, repassou o arco de 70 anos desde o início da reforma litúrgica - iniciada com o Papa Pio X e com o Movimento Litúrgico, e que atingiu seu ápice no Concílio Vaticano II com o Documento Sacrosanctum Concilium -  ocasião em que reiterou com veemência que a reforma litúrgica é irreversível. Em breve dedicaremos alguns programas a este importante discurso do Santo Padre.

Mas no programa de hoje, damos prosseguimento à reflexão do Padre Gerson Schmidt sobre este novo entendimento da liturgia também eucarística, que ele dividiu em quatro pontos: "Eis o mistério da fé" e "Anunciamos Senhor a vossa morte" - já abordados nas duas edições anteriores -  "E proclamamos a vossa ressurreição", tema do programa de hoje e "Vinde Senhor Jesus", que será o tema da próxima semana:

"Estamos aqui refletindo a renovação da liturgia eucarística, a partir da aclamação pós-conciliar que foi introduzida na liturgia depois da consagração: “Eis o mistério de nossa fé! Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus”.

Essa é uma aclamação que indica o sentido central da ação eucarística: o Mistério Pascal. Já comentamos os traços da aclamação sacerdotal “Eis o mistério da fé”. Também refletimos no programa passado, a primeira frase da resposta do povo: Anunciamos, Senhor, a vossa morte... Hoje queremos nos deter na continuação dessa resposta: E proclamamos a vossa ressurreição!

Quando o padre, em tom forte, diz: eis o mistério da fé... O povo irrompe numa resposta uníssona: Anunciamos, Senhor a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição!. Proclamação a vitória de Cristo sobre a morte. É como um grito litúrgico e existencial: a morte foi vencida pela vida. Ó morte, onde está tua vitória? O morte, onde está teu aguilhão (cf.1Cor 15,54-55). Somos associados à morte-ressurreição de Cristo.

Os liturgistas brasileiros Ione Buyst e Dom Manoel João Francisco, comentam esses traços teológicos de mudança implícitos na renovação da liturgia eucarística e comentam assim essa segunda parte da aclamação do povo após a consagração – e proclamamos vossa ressurreição: “Aquilo que aconteceu uma vez por todas na última ceia e na morte de Jesus na cruz acontece hoje para nós, em mistério, toda vez que realizamos, como corpo eclesial, a ação eucarística. Nele, todas as nossas ‘mortes’ são chamadas à transformação pascal” . De fato, na liturgia, Cristo quer irromper em nossas mortes para nos fazer ressuscitar com Ele para uma vida nova.

É muito interessante essa aclamação, de todo da assembleia litúrgica - e proclamamos a vossa ressurreição! - após o anúncio do presbítero na celebração eucarística “Eis o Mistério da fé”.  O verbo utilizado pela liturgia é proclamar – é ser arauto – ser anunciador dessa grande notícia. Não falamos “e bendizemos pela vossa ressurreição” ou “agradecemos vossa ressurreição”.

Está implícito nessa resposta da assembleia um dever do kerigma, do anúncio do Cristo Ressuscitado dos mortos: proclamamos a vossa ressurreição! Não podemos pedir em seguida que Ele volte sem a nossa pronta atitude de levar essa notícia a todos os povos, proclamando a Ressurreição a toda a criatura, como alude a interrogativa dos anjos na ascensão de Cristo: “Por que estais aí a olhar para o céu?”. É como um imperativo - O Senhor não virá antes do que o Evangelho seja proclamado, em cima dos telhados, a toda a gente".

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[1] Livro desses autores citados – Mistério Celebrado Memória e compromisso II, Paulinas, SP, 2004, p. 36.








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