2017-08-25 16:18:00

Arcebispo de Tânger chama atenção para sofrimento dos migrantes


Refugiados: Arcebispo de Tânger alerta para cenário de morte

que marca a região subsaariana

Agência Ecclesia 23 de Agosto de 2017, às 16:57

Fátima, 23 ago 2017 (Ecclesia) - O arcebispo de Tânger, no Marrocos, diz que a sociedade europeia precisa urgentemente de tomar maior “consciência” acerca das repercussões da crise de refugiados, e sublinhou que manter as pessoas “fora das fronteiras” não pode ser solução.

D. Santiago Agrelo, em entrevista à Agência ECCLESIA em Fátima, dá como exemplo uma realidade bem próxima de si, com a qual tem lidado todos os dias na sua missão, a dos migrantes e refugiados subsaarianos que atravessam o deserto em busca de uma entrada na Europa.

“No deserto morre muita gente, e não se fala nem dos perigos, nem das humilhações, nem das mortes que os migrantes sofrem na travessia do deserto. A Europa sabe o que se passa com os emigrantes e refugiados no Mediterrâneo, no Estreito de Gibraltar, mas não parece que fiquem muitos afectados com isso”, lamenta aquele responsável”.

O arcebispo espanhol, que está em missão na Arquidiocese de Tânger há 10 anos, realça o desespero que marca hoje a vida de muitas pessoas.

“Mesmo que entrem de forma legal num país, depressa passam à ilegalidade. Aí multiplicam-se os problemas, no acesso a alojamento, a alimentação, a vestuário, são obstáculos que a maior parte dos europeus não imaginam porque não passaram por eles”, aponta aquele responsável, que vai ainda mais longe.

“A ilegalidade não escorre nas veias dos refugiados. As nações europeias é que os levam à ilegalidade, quando não lhes deixam nenhuma alternativa de buscar o futuro, futuro esse que têm todo o direito do mundo a buscar, onde lhes pareça melhor. É um direito reconhecido por todas as nações que assinaram a Carta dos Direitos Fundamentais do Homem, entre eles está o direito a emigrar, está o direito à integridade física, direitos que se violam constantemente”, salienta.

D. Santiago Agrelo está em Portugal a participar como orador na assembleia europeia das Servas Missionárias do Espírito Santo, que está a decorrer em Fátima, na Casa do Verbo Divino.

Em cima da mesa tem estado a questão dos migrantes e refugiados, com que a congregação tem lidado em vários países da Europa, e inclusivamente “começou agora um novo projecto na Grécia”, revelou a irmã Maria José Rebelo.

“Nós estamos nos cinco continentes e a nossa zona da Europa tomou a decisão de começarmos uma missão em movimento na Grécia. Estaremos alí enquanto for necessário servir os refugiados. Poder partilhar este grito que vem dos mais pobres, não só servindo, estando e aprendendo e deixando-nos converter por essas pessoas, pelas suas necessidades, mas também para ser uma voz de defesa destas pessoas”, concretizou aquela responsável. 

Para o arcebispo de Tânger, um dos primeiros passos para vencer o desafio desta crise de refugiados é ganhar a batalha da “informacão”, quer nos media quer depois na garantia de que “os migrantes e refugiados tenham acesso a “informacão útil para resolverem a sua situacão”.  

“Em torno das fronteiras de Ceuta e Melilla, em Marrocos, um dos problemas que denuncio frequentemente é a opacidade informativa que ali impera, só sai cá para fora o que é dito pelas autoridades, e quer se queira quer não essa informação é sempre uma informação parcial”, salienta o D. Agrelo.

Por outro lado, estas pessoas “precisam também urgentemente de ser respeitadas” e isso passa em primeiro lugar por uma mudança de linguagem.

“Não é a mesma coisa dizer ilegal ou migrante, não é o mesmo dizer salta-fronteiras ou um pobre que quer passar a fronteira, mesmo que seja obrigado a fazê-lo de forma ilegal”, aponta D. Santiago Agrelo, que no que toca ao trabalho da Igreja Católica, frisa que tem de passar sobretudo pela “percepção das necessidades das pessoas e trabalhar para ajudar a ultrapassar os problemas”.

“Respostas políticas cabem aos políticos, e neste momento eles não estão a dá-las, não vemos respostas políticas para esta crise, eles estão simplesmente a ignorar o problema e a tentar manter os pobres fora das suas fronteiras”, conclui.








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