Caritas Europa sobre migrações: combater crise de solidariedade


Bruxelas (RV) - “Somos testemunhas de uma crise de solidariedade e vontade política devido a uma narração política negativa, infelizmente dominante em muitos países.” São palavras da responsável pelo setor migração e asilo da Caritas Europa, Leïla Bodeux, que confirma os pontos nodais do plano de ação da Comissão europeia para o Mediterrâneo central.

“A prioridade é apenas repelir os migrantes através de repatriações, reforçar a vigilância nas fronteiras ao sul da Líbia para impedir que cheguem à Europa, sem levar em consideração as dramáticas situações das quais fogem e o risco de ulteriores violações dos direitos humanos”, observa Bodeux – reporta o jornal vaticano “L’Osservatore Romano”.

Levar em consideração as razões da migração

Efetivamente, o objetivo de restabelecer o controle das fronteiras nas áreas de trânsito da República de Mali, Burkina Fasso e Níger esconde “a clara intenção de impedir a chegada dos migrantes à Líbia”.

Trata-se de uma postura que, todavia, “não leva em consideração as razões pelas quais as pessoas são obrigadas a fugir (guerras, conflitos, desastres naturais) e tem a finalidade de fazer que com elas fiquem onde estão”.

Para a representante da Caritas Europa, concentrar-se unicamente na segurança “é contraproducente porque alimenta as redes dos traficantes, obriga as pessoas a tomar rotas mais perigosas e não diminui a imigração irregular, pelo contrário”.

Não às tentativas de “criminalização” das Ongs

Nesse sentido, a Caritas Europa critica também uma certa tentativa de “criminalização” das Ongs e faz votos de que “as Ongs não sejam proibidas de desembarcar na Itália”, pedindo que seja estabelecido um código de conduta.

Um código que, junto à sociedade civil, “deveria ser dirigido a todos os atores envolvidos nas operações de busca e socorro no mar, não somente às Ongs. O objetivo deveria ser melhorar a coordenação e salvar vidas humanas ao invés de demonizar e criminalizar as Ongs. A sociedade civil deveria ser consultada na elaboração” desse código.

A situação da Líbia

O posicionamento sobre as acusações feitas ao trabalho das Ongs é muito claro. “Sentimos muito ver o debate político negativo e perigoso que envolve as Ongs na Itália e em outros países”, afirma Bodeux. “As Ongs deveriam ser louvadas pelo trabalho que fazem e as vidas que salvam, ao invés de serem acusadas de conluio com os traficantes”, acrescenta.

Referindo-se à Líbia, onde a situação política ainda “é muito caótica e fragmentada”, a responsável de Caritas Europa adverte: “Reforçar a cooperação com a Líbia sem monitorar atentamente suas atividades corre o risco de levar a violações dos direitos humanos”.

Abusos perpetrados contra migrantes

Por fim, ressalta-se com veemência, “muitos relatórios documentaram numerosos abusos perpetrados contra migrantes (estupros, torturas, trabalho forçado), que se registram inclusive nos centros de detenção sob controle estatal. Autoridades líbicas, que deveriam combater o tráfico de seres humanos, foram acusadas de participar da atividade dos traficantes.

Há vários casos de agentes da guarda costeira líbica ligados a vários ministérios e autoridades e múltiplos casos que demonstraram que alguns deles tenham recorrido à violência contra Ongs e migrantes durante operações de socorro. (RL/L’Osservatore Romano)








All the contents on this site are copyrighted ©.