S. Félix do Araguaia: o agronegócio e a ameaça ao paraíso


Cidade do Vaticano (RV) - Hoje vamos ao Mato Grosso, a São Félix do Araguaia. Localizada a 1.200 km da capital, Cuiabá, são necessárias por terra, 15 horas de viagem desde Goiânia, ou pelo ar, três horas de Brasília, mas o voo é caro. Banhada pelo rio Araguaia, a paisagem abastece de verde os olhos de quem chega. São Félix é lugar de povos indígenas que tomam banho no rio, é lugar de água, de praias de água doce, animais e árvores frondosas, mas infelizmente, de agronegócio também.

Em meio a três ecossistemas nativos, Floresta Amazônica, Cerrado e Pantanal, surgem os alqueires de soja e milho, cada vez mais... Hoje, os plantios chegam até Vila Rica, na divisa com o estado do Pará, impactando a população. O nosso hóspede, Dom Adriano Ciocca, é o bispo da Prelazia de São Félix. Ouça aqui:

“De um lado, isto trouxe melhores condições, por exemplo, das estradas, que têm necessidade de escoar milhões de toneladas de soja e de milho. Assim, a infraestrutura das estradas foi mais cuidada. Por outro lado, a pressão em cima dos pequenos proprietários aumentou muito porque o preço da terra subiu muito. Cinco anos atrás, um alqueirão (quase cinco hectares) valia 11, ou 12 mil reais. No final de 2016, um alqueirão agricultável valia entre 60 e 70 mil reais”.

Segundo Dom Adriano, esta situação, aliada ao pouco incentivo que o governo oferece à agricultura familiar, ameaça a sobrevivência dos pequenos produtores no mercado.

“Uma família que tem 8, 10 alqueires quando recebe uma oferta de 500, 600 ou até 700 mil reais tudo de uma vez, é uma tentação que é praticamente impossível resistir. Esta pressão é muito forte e ajuda o despovoamento da área rural e a concentração de terras em mãos de grandes grupos, grandes fazendas”.

A Igreja, com uma equipe da CPT, acompanha as atividades produtivas, aperfeiçoando a produção e propiciando assim um retorno econômico que justifique a permanência destas famílias em suas terras.

“Estamos tentando também acompanhar alguns sindicatos de trabalhadores rurais e associações para ver se conseguimos recompor o tecido de organização da sociedade civil, que está extremamente fragilizado na região. Os pequenos, se não têm uma organização forte, não têm como pensar e enfrentar as problemáticas que estão aparecendo. Este é outro trabalho que está sendo feito. Estamos também tentando acompanhar os casos de violência no campo, de trabalho escravo... infelizmente ainda surgem denúncias neste campo”. 

(SP/CM)








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