Dom Becciu permanece na Ordem de Malta até eleição do Grão Mestre


Cidade do Vaticano (RV) -  Não obstante a eleição do Lugar-Tenente do Grão Mestre Fra’ Giacomo Dalla Torre, realizada em 29 de abril, o delegado especial nomeado pelo Papa Francisco para a Ordem de Malta, o Substituto da Secretaria de Estado, Arcebispo Angelo Becciu, continuará no cargo até a eleição do novo Grão Mestre, o que deverá ocorrer dentro de um ano.

A informação é do Embaixador da Ordem de Malta junto à Santa Sé, Antonio Zanardi Landi, que explicou que "Dom Becciu assistirá a Ordem no processo de reforma dos Estatutos, em particular no que diz respeito ao papel e às funções dos componentes religiosos e os membros professos, que são numerosos e representam o núcleo central da Ordem".

A Ordem de Malta é um organismo quase milenar, que teve como objetivo primário oferecer ajuda, apoio e proximidade aos doentes, aos pobres e aos excluídos, sem distinção de nacionalidade, língua ou religião. Com seus 13 mil membros e mais de cem mil voluntários e funcionários, a Soberana Ordem Militar de Malta é uma realidade que sempre esteve a serviço da Igreja e do bem integral do homem.

Em entrevista ao L'Osservatore Romano após ser eleito Lugar-Tenente do Grão Mestre,  Fra' Giacomo Dalla Torre, do Templo de Sanguinetto, falou, entre outras coisas, sobre a especificidade da Ordem de Malta:

"A Ordem de Malta tem uma história de quase mil anos. Nasceu na Terra Santa como Ordem Hospitalária e no decorrer do tempo, mesmo em momentos de grande dificuldade, nunca esqueceu a sua missão: ajudar os pobres, os doentes, os excluídos, in suma, qualquer pessoa que tenha necessidades, sem distinção de origem ou de religião. Isto é o que determina a nossa carta constitucional. Os nossos cem mil voluntários e funcionários e os 13.500 membros colocam em prática este princípio todos os dias, nos 120 países onde atuamos. As nossas obras respondem às necessidades de quem assistimos: administramos refeitórios sociais e centros médicos, apoiamos programas de acompanhamento de pessoas com necessidades especiais e idosos, prestamos socorro no campo da saúde às pessoas que fogem da guerra e da pobreza, quer em terra firme como no Mediterrâneo, em embarcações da Marinha militar italiana; intervimos em casos de desastres naturais".

OR: Esta presença capilar coloca a Ordem em primeira linha no contato com culturas, línguas, tradições e religiões diversas. Que significado assume este papel tão particular?

"Há algum tempo um jornalista definiu com uma brincadeira a Ordem de Malta, como uma antiga expressão das Nações Unidas. Com efeito, a Ordem reagrupa associações, corpos de voluntários e de socorro, embaixadas, em todo o mundo. E todas estas entidades têm o mesmo objetivo: aliviar o sofrimento de nossos irmãos. Com este objetivo, a Ordem é, por constituição, neutra e apolítica. Não age em base à agendas políticas ou econômicas, e este é o nosso verdadeiro ponto de força, que nos permite atuar e ser acolhidos por comunidades diversas, mesmo em áreas críticas. Por exemplo, na Turquia fronteira com a Síria, operamos em um hospital de campanha e as nossas clínicas móveis levam assistência médica aos campos de refugiados no norte do Iraque. No Líbano alguns projetos médico-sociais são administrados em estreita colaboração com as comunidades xiitas e sunitas: um belíssimo exemplo de colaboração entre confissões diversas. Em Belém, o nosso hospital da Sagrada Família permite o nascimento a cada ano mais de 3 mil crianças. Na Alemanha temos cerca de 150 centros de assistência para os migrantes. Para nós, línguas, culturas e tradições diferentes são um enriquecimento e não uma ameaça".

OR: Seu avô Giuseppe foi Diretor do L'Osservatore Romano de 1920 a 1960. Que recordações o senhor tem dele?

"Meu avô era uma pessoa muito direta e afetuosa. Como grande parte dos vênetos tinha um apurado senso de humor e amava contar piadas. Foi chamado para dirigir o "L'Osservatore Romano" em decênios difíceis. Durante o fascismo, o "nono" se posicionou abertamente contra a perseguição aos judeus e aos antifascistas e acolheu em sua casa, no Vaticano, diversos opositores do regime, entre os quais Alcide De Gasperi. Pelas suas posições, a nossa família viveu momentos difíceis. Era realmente um católico muito comprometido".

(JE - Osservatore Romano)

 








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