2017-05-11 09:11:00

Francisco em Fátima: “peregrino da humanidade”


Neste “Sal da Terra, Luz do Mundo” fazemos uma antevisão da visita de Francisco a Fátima entrevistando Dom Carlos Azevedo, delegado do Conselho Pontifício para a Cultura no Vaticano.

O Papa Francisco visita o Santuário de Fátima a partir de amanhã dia 12 maio e ali presidirá no dia 13 à primeira celebração do Centenário das Aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria.

Francisco será o quarto Pontífice a visitar Portugal, depois de Paulo VI em1967, João Paulo II em 1982, 1991 e 2000 e Bento XVI em 2010.

Mas qual o ambiente que aguarda Francisco em Fátima? Como vai reagir o povo português à visita do Papa? Eis a antevisão de Dom Carlos Azevedo, bispo português, delegado do Conselho Pontifício para a Cultura:

“Com o enorme carinho que se sente que o povo português tem para com o Papa Francisco. Tem para com o Papa em geral e já o demonstrou com os outros, há uma devoção ao Papa que foi passada e cultivada nestes séculos. Pelo Papa Francisco, dada a sua proximidade, dados os seus gestos que vão de encontro ao modo de ser também do povo português, há uma conaturalidade muito simpática que proporcionará, certamente, um carinho enorme. E as pessoas só terão é o desgosto de não poder dar-lhe um abraço e apertar-lhe a mão, mas sabem que com a multidão que estará…”

“Fátima está a fazer tudo para que no itinerário por onde o Papa passa haja o maior número possível de pessoas que o possam ver de perto, mas sabem que as primeiras 300 mil que chegarem entram no Santuário e as outras não podem entrar, até por razões de segurança, para que as que estejam lá estejam tranquilas. Mas, as outras no percurso, porque o Papa irá de carro aberto do campo de futebol para o Santuário, terão depois oportunidade de vê-lo passar de perto e de poder ver o seu sorriso e acenar-lhe a dizer que o amam muito. E isso será uma realidade que não falhará.”

A viagem de Francisco a Fátima reveste-se de particular significado devido à canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta anunciada no passado dia 20 de abril no Consistório em Roma e à qual presidirá o Papa na Cova da Iria. Foi este o comentário de Dom Carlos Azevedo:

“… dizer que crianças tão simples são acolhedoras do que Deus quer e do olhar de Deus para a História. Penso que isso é importante, não só para toda a Igreja ver qual é o lugar da criança na sua história pedagógica e como as famílias são responsáveis e não devem esperar que as pessoas cheguem à idade da juventude para depois lhe darem formação cristã; e que a contemplação de Deus e o olhar de Deus sobre a vida é desde que as crianças nascem e essa é uma grande responsabilidade dos pais e das famílias. Portanto, eu acho que aqui será também uma chamada de atenção para todos.”

Mas qual é a visão de Deus que a mensagem de Fátima nos dá? Esta foi a questão que colocamos a Dom Carlos Azevedo em recente entrevista e que aqui e agora recordamos:

“É um Deus que está atento aos sofrimentos da humanidade, é um Deus que é misericordioso. E que por isso se torna presente com sinais que foram os sinais da presença materna de Deus através da presença de Maria, a Mãe de Jesus. E é essa a capacidade profética e o carisma profético que aquelas crianças tiveram. E nós queixamo-nos que hoje na Igreja falta profecia e aquelas crianças foram capazes de acolher o olhar de Deus e projetá-lo sobre a História dizendo: se vós não mudais de vida vai acontecer uma guerra ainda pior. E aconteceu a Segunda Guerra. Isto é, certamente, um pouco aquilo que o Papa Francisco também virá dizer: se vós não mudais a economia, se vós não mudais a política, o mundo vai mal.”

“No fundo, é esta mensagem profética de que Deus tem uma implicação na História; que Deus tem uma implicação na vida e que o facto de ser crente implica transformar a realidade em que vivemos. É este dinamismo de conversão. O atender ao olhar de Deus, uma dimensão contemplativa e orante: o rezar o terço e todas as expressões de acolher o que Deus quer para depois transformar a História. A grande mensagem que Fátima nos traz é dizer que nós somos responsáveis pelo mal, somos responsáveis pelo mal da humanidade e não podemos banalizar o mal, como diz Dom António Marto, mas temos que levá-lo a sério e que somos responsáveis. Cada um de nós tem o seu grau de responsabilidade. Por isso temos que nos converter, cada um no seu campo e na própria implicação na transformação da História. E esta é uma grande mensagem.”

É esta mensagem de Fátima que Francisco visita nestes dias 12 e 13 de maio. Uma viagem que o Santo Padre faz como peregrino não visitando nenhum outro local em Portugal. O bispo português Dom Carlos Azevedo fez também para o nosso programa uma leitura desta opção do Papa considerando que Francisco visita Fátima como “peregrino da humanidade”:

“Todos os acontecimentos têm leituras e não podemos pensar que as coisas não têm a sua leitura. Se no tempo de Paulo VI havia razões políticas de tensão entre o Estado e a Igreja, ou o Estado e a Santa Sé, mas o Papa queria estar no Cinquentenário de Fátima. Desta vez, no Centenário o Papa ainda mais quer estar, porque o Santuário de Fátima não é apenas de Portugal é um Santuário que tem impacto em muitas regiões do mundo. O próprio Papa Francisco o sentiu em Buenos Aires nas visitas da imagem peregrina.”

“Mas, nas prioridades, na estratégia de escolha de visitas, o Papa decidiu vir e sabemos que ele não vem por vir a Portugal porque a opção do Papa e as preferências estratégicas, as prioridades estratégicas dele, não conta vir onde o terreno já está muito trabalhado, mas conta ir a zonas periféricas onde haja problemas onde haja realidades que necessitam de uma palavra inovadora, uma palavra de esperança.”

“Ele, certamente, que percebe que o Santuário de Fátima é um lugar onde ele pode, de certo modo, ser um peregrino do mundo. Ele representa a humanidade toda, ele vem como peregrino da humanidade que na complexidade dramática de tantas situações que estamos a viver ele vem trazer as aflições os dramas de todos os pobres, de todos os excluídos. E vem representar isso junto do Santuário, junto de Maria. Vem entregar a Deus essa dor, essas aflições e agradecer a presença de Deus junto de tantos como consolação, como incitamento à renovação da vida. Portanto, há uma densidade por ele vir e por ter escolhido vir que será um ponto significativo do seu pontificado e do contexto atual do mundo.”

A partir de amanhã dia 12 de maio o Papa Francisco estará em Portugal visitando o Santuário de Fátima e encontrando-se com as centenas de milhares de peregrinos que ali o aguardam para o início das celebrações do Centenário das Aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria.

 “Sal da Terra, Luz do Mundo” é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa.

(RS)








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