Muolo: Bento XVI, Papa da coragem e do diálogo com todos


Cidade do Vaticano (RV) - “O Papa da coragem”: esse é o título do último volume do vaticanista do diário “Avvenire” (da Conferência Episcopal Italiana), Mimmo Muolo, publicado estes dias por ocasião do 90º aniversário de Joseph Ratzinger (a ser celebrado neste 16 de abril). No prefácio, o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Dom Rino Fisichella ressalta que o Papa emérito “colocou diante de nós o drama de sua existência como homem e como fiel, como professor e como Papa” e que “as interrogações que suscitou não ficaram sem resposta”. Entrevistado pela Rádio Vaticano, Muolo detém-se sobre o título de seu livro que ressalta, justamente, a dimensão da coragem do Papa Bento XVI:

Mimmo Muolo:- “Em primeiro lugar, Papa da coragem porque, é claro, a sua decisão da renúncia é uma decisão quase sem precedentes, historicamente falando, e, por conseguinte, é uma decisão que implica coragem. Ademais, porque, apesar de tudo aquilo que se disse e se escreveu sobre ele, foi um Papa que permaneceu de pé, enfrentando uma tempestade após outra, muitas vezes suscitadas pelos meios de comunicação que tinham uma posição preconceituosa em relação a ele. Recordemos que ele sempre disse: ‘o verdadeiro pastor não foge diante dos lobos’. Penso que Bento XVI fez exatamente isso, e quando depois as águas se acalmaram, quando considerou que o perigo imediato não mais existia, teve a coragem de dizer: ‘Não sou mais o pastor apropriado para proteger este rebanho – devo passar o cajado para outro’.”

RV: No livro, o senhor escreve que Bento XVI foi o Papa do essencial, “focalizou a atenção na questão da fé”...

Mimmo Muolo:- “‘O Papa do essencial’ porque há dois grandes eixos que perpassam a sua vida e o seu Pontificado. Em primeiro lugar, a questão da fé. Com grande veemência, ele colocou essa questão dentro da Igreja: se falta a fé, todo o resto se torna supérfluo. Entre outras – e este é o outro grande eixo cartesiano –, em relação ao mundo, o tema do diálogo com o cristianismo: o seu convite à racionalidade alargada, seu convite ao diálogo com os que não creem, o Pátio dos Gentios, todas as iniciativas que vão nessa direção. Vê-se também ai uma grande distância entre o Papa real e o Papa como lera percebido. O Papa real, que como homem de cultura sempre buscou o diálogo, apaixonado pelo Evangelho e por Jesus Cristo, e o Papa que, ao invés, era apresentado como refratário ao diálogo: penso que desse ponto de vista Bento XVI tenha ainda hoje muito a ensinar-nos. E o seu magistério está passando também no Pontificado do Papa Francisco, o qual obviamente o interpreta segundo seu estilo e segundo seu cânones.”

RV: No prefácio de seu livro, Dom Fisichella escreve que as interrogações suscitadas por Joseph Ratzinger em toda a sua vida de serviço à Igreja, portanto, não somente como Papa, não ficaram sem resposta. Existe a sensação de que nestes anos, desde quando Bento XVI renunciou ao ministério petrino, haja talvez uma maior e melhor compreensão daquilo que foi o seu Pontificado?

Mimmo Muolo:- “Penso que sim. O ato da renúncia de certo modo o despojou daquela aura preconcebida da qual falei. Fez-nos ver o verdadeiro Joseph Ratzinger, e, justamente, o verdadeiro Joseph Ratzinger é o que diz à Igreja: ‘A fé é importante – sem a fé, todo o resto se reduz – diria o Papa Francisco – a uma ong piedosa’, e o verdadeiro Joseph Ratzinger é o que buscou constantemente dialogar com os homens e as mulheres de seu tempo. É a mesma coisa que – repito, com um estilo diferente do ponto de vista humano – está fazendo o Papa Francisco.” (RL / AG)








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