Piquiá de Baixo: modelo de ação e esperança para outros


Cidade do Vaticano (RV) – O distrito industrial de Piquiá de Baixo, em Açailândia, no Maranhão, é um dos bairros mais poluídos do país. Piquiá de Baixo está situado em meio a quatro indústrias de ferro-gusa: Viena Siderúrgica S/A, Queiroz Galvão Siderurgia, Gusa Nordeste S/A e Ferro Gusa do Maranhão Ltda. – Fergumar. 

Com o crescimento da indústria de um lado e o início do empobrecimento dos recursos hídricos do outro, a poluição se espalhou em níveis graves. Em pouco tempo, os habitantes tiveram aumentadas as mortes por doenças respiratórias, alergias e tumores pulmonares e em outros órgãos.

Indignada, a comunidade tem buscado os seus direitos. Mais de 90% da população de Piquiá quer um novo local de moradia, longe da poluição. Os moradores conseguiram um terreno para o reassentamento e participaram da elaboração do projeto urbanístico-habitacional do novo bairro. Sua luta é considerada um exemplo.

No Vaticano, Joselma Alves de Oliveira, liderança da comunidade, conversou conosco. Ouça:

“Na verdade, o que falta é a liberação das verbas para se começar a construir o bairro. Se o governo demorar, acho que é o momento de começar a visitá-lo novamente e conversar, mostrando que os pedidos estão prontos, agora precisamos que vocês façam a sua parte também... não é um ano ou dois... são oito, entrando para nove anos de luta... então um dia a mais naquela poluição é um dia a menos de vida”.

“Às vezes, escuto alguns relatos que me deixam triste. Minha mãe, tem vezes que diz: ‘filha, será que eu vou conseguir chegar neste reassentamento?’ Aí vem a incerteza, a preocupação porque todo dia naquele impacto é muito difícil... hoje em dia a quantidade de gás que é emitida é muito forte... causa alergia nos olhos, falta de ar, muitos problemas. É preocupante, porque tua família, tua mãe, teu irmão... você, teus amigos estão ali e quanto mais demora, mais difícil para se chegar neste lugar, e as pessoas têm este medo... fico pensando ‘meu Deus, por que não vai rápido?’”.

“É difícil, mas não vamos desistir, vamos lutar até o fim... eu creio que a gente ainda vai viver muito neste bairro. Tem novas pessoas chegando, nascendo e nós não vamos lutar só por nós, tem nossa geração, nossos filhos e netos, que vão também usufruir deste lugar, né? Às vezes a gente se pergunta, entre nós: ‘será que vamos conseguir?’. E eu digo que vamos, porque na verdade, por mais que seja difícil, a gente acredita nesta luta porque estamos fazendo ela, né? Se você não confia que vai conseguir, fica mais difícil lutar. Então, todo dia temos que um apoiar o outro para que continue acreditando... É assim que a gente tem trabalhado durante estes anos”.

“ A gente tem procurado parceiros no mundo todo, porque sabemos que o próximo às vezes não tem muito interesse mas os outros têm, e temos recebido ajuda, e reconhecemos isso. Espero que a nossa luta possa servir de exemplo para outras comunidades para que elas venham e pensem ‘se eles conseguiram, a gente também consegue. Então vamos nos organizar, vamos lutar, porque neste processo, muitas pessoas morrem. Ter renda, ter dinheiro para movimentar um país é muito importante, mas é importante ainda mais ter qualidade de vida. O que adianta trabalhar, ter dinheiro, e não ter qualidade de vida, não ter saúde? Estas são coisas que quem está mais em cima, tem mais poder, que tem algum tipo de influência, que olhasse mais para as pessoas, se preocupasse mais com o ser humano. Que eu acho que é o mais importante”. 

(CM)








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