Cardeal Piacenza: "medir" os frutos do Ano Santo em chave espiritual


Cidade do Vaticano (RV) - Qual herança o Jubileu extraordinário da misericórdia deixa à Igreja? Quais perspectivas pastorais abre? Perguntou-se o penitencieiro-mor da Penitenciaria Apostólica, Cardeal Mauro Picenza, inaugurando na tarde desta terça-feira (14/03), no palácio da chancelaria, os trabalhos do 28º Curso sobre Foro interno promovido pelo referido dicastério vaticano.

O purpurado convidou a não deter-se às estatísticas e a “medir” os frutos do ano santo – embora compreendem um número incalculável de confissões, obras caritativas, atos de conversão – sobretudo em chave espiritual. Um terreno sobre o qual análises e parâmetros matemáticos resultam totalmente incapazes de quantificar “a altura, a largura e a profundidade dos dons sobrenaturais de graça que o Espírito Santo derramou sobre a Igreja”.

O Cardeal Piacenza propôs uma leitura do itinerário jubilar centrada sobretudo no conceito de “proximidade”. “Uma herança do Jubileu é a experiência da proximidade da misericórdia como caminho-mestre para experimentar a proximidade de Deus”, explicou.

Trata-se de uma “categoria universal”, que toca “as cordas profundas do coração” de cada homem, mesmo daquele que se concebe como o mais distante de Deus”, precisou.

Efetivamente, quem faz experiência da misericórdia redescobre “o seu ser criatura, porque somente aquele que criou pode perdoar e aquele que perdoa é aquele que criou”. Nesse sentido, “o perdão divino é a única realidade capaz de ‘re-criar’, capaz de renovar realmente, capaz de dar nova vida”.

Segundo o penitencieiro-mor, um segundo elemento oriundo da experiência do Ano Santo se une ao da proximidade: “A redescoberta da centralidade do humano como lugar do encontro com o outro”, em particular, com o pobre.

Uma centralidade a ser recuperada sobretudo num contexto social como o atual, “muitas vezes alienado, onde as pessoas são reféns das emoções suscitadas pelos meios de comunicação, no qual a vida corre o risco de ser prisioneira da ausência de sentido e do funcionalismo orientado para a eficiência, e narcisista.”

Uma centralidade que dá também uma resposta eficaz àquele “antropocentrismo individualista” que “olha para o homem como horizonte último e que coloca no centro do ser e do operar suas necessidades materiais, a satisfação pessoal horizontal”.

A partir dessas premissas, o purpurado sugeriu três perspectivas pastorais sobre as quais voltar a atenção para o pós-jubileu.

A primeira chama a “uma conversão missionária” capaz de anúncio e de testemunho, sobretudo para evitar o risco que as nossas estruturas por vezes enormes e ferruginosas sufoquem a liberdade e a vitalidade geradas pelo Espírito; a segunda indica sobretudo a necessidade da “formação”, a partir da consciência de que “a misericórdia sem razão corre o risco de reduzir-se a uma experiência sentimental”; por fim, a terceira, impele a uma atitude de “fidelidade” capaz de “dilatar o olhar até os confins do mundo” para abraçar todas as obras de caridade.

Por sua vez, em seu amplo pronunciamento o regente do tribunal, Dom Krzysztof Nykiel, expôs a estrutura, competências e praxes da Penitenciaria Apostólica. Como de costume, o bispo polonês ilustrou as características daquele que permanece “o mais antigo dicastério da Cúria Romana”, ao qual cabe uma tarefa eminentemente espiritual, “imediatamente ligada à finalidade última de toda existência eclesial: a salus animarum” (a salvação das almas, ndr). Nesse sentido, se pode falar de um “tribunal de misericórdia” a serviço quer dos confessores, quer dos fiéis em busca de “reconciliação com Deus e com a Igreja”. (L’Osservotore Romano / RL )








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