Piquiá de Baixo: cada conquista é uma pequena vitória


Cidade do Vaticano (RV) – Prosseguimos o nosso relato sobre o caso Piquiá de Baixo, no estado do Maranhão. Com aproximadamente 1.100 residentes, o bairro é cortado pela Estrada de Ferro Carajás (EFC) e suas famílias continuam sonhando em se mudar para um lugar onde o ar seja respirável e não poluído pelas usinas de aço e ferro que circundam suas casas.

O Piquiá é mais um entre mais de cem grupos humanos, de diferentes etnias, costumes e tradições – habitantes de cidades ou camponeses, indígenas e quilombolas – afetados pela violenta implantação da indústria mineradora nas regiões norte e nordeste do país. Mas, diferentemente da maioria dos casos, a comunidade do Piquiá de Baixo tem conquistado vitórias expressivas.

O processo contra o governo, levado a cabo pela comunidade há mais de 10 anos, já teria sido aprovado pela ex-Presidente Dilma Roussef, só que até agora, as verbas para o reassentamento não saíram. As empresas siderúrgicas prosseguem suas atividades poluidoras, as casas sendo invadidas pelo pó de ferro e as pessoas respirando os gases nocivos emitidos pelas siderúrgicas.

Joselma Alves de Oliveira, representante da comunidade, nos fala hoje sobre os andamento deste processo. Ouça:

“A gente não teve só perda de qualidade de vida; tivemos perdas de vidas, pessoas de nossas famílias que morreram devido a este processo de produção do ferro-gusa e da mineração, porque se há guseiros no nosso Estado, na nossa cidade e no nosso bairro.. é porque alguém está fornecendo este produto, e é a Vale”..

“Nesta luta, muitas vezes a guseiras tentaram desqualificar a nossa comunidade, dizendo que nós chegamos lá depois, que nós invadimos a área... mas nós temos provas de que em 80 não tinha nem asfalto lá... isto contradiz o que dizem. Nossa história fala mais alto do que as colocações deles... às vezes a gente se pergunta como é que alguém tem a audácia de contar a nossa história. Mas uma de nossas armas é a nossa própria história”.

“Nós nos organizamos, encontramos a área, foi feita uma desapropriação por interesse social, o dono foi ressarcido pela área. Hoje temos um terreno, fizemos um projeto urbanístico participativo. Não foi o governo e nem as empresas que o fizeram, foi a própria comunidade que com os parceiros contatou os arquitetos. Em fevereiro entregamos a última parte do projeto de execução de obras, o nosso projeto técnico-social também está nos últimos ajustes. Assinamos um contrato com a Presidente Dilma, em Brasília. Temos alguns receios por causa da mudança de governo... com a crise pode demorar mais para liberar as verbas”.

“É um projeto que vai se pontuando, e quando a pontuação é máxima você consegue o máximo de investimento. Foi falado em reuniões que o nosso passaria até da média destas qualidades porque graças aos nossos assessores foi bem feito... é um projeto que no futuro, já ouvimos falar de pessoas da própria Caixa que é um projeto que pode servir como referência para outras comunidades que vivem por aí fora, impactadas. Se uma comunidade se organizar, ela pode conseguir seus objetivos”.

“Às vezes as pessoas falam assim ‘ah, mas vocês vão lutar contra eles, eles têm dinheiro, são fortes, têm toda uma estrutura... quem está nos impactando são eles, eles que têm que fazer reparações... Não é fácil, é muita luta, mas a gente tem que conseguido provar que se nos organizarmos e lutarmos realmente, coletivamente se consegue”. 

(CM)

 

 








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