O pastor visto a partir das Arábias


Dubai (RV*) - Amigas e amigos, a figura humana do pastor só é bem entendida quando contextualizada no espaço e tempo onde a ação de pastorear é realizada.

Vejamos a definição que Cristo deu a si mesmo: “Eu sou o bom pastor.” Na sua época, causou polêmica entre seus ouvintes porque pastor era um termo exclusivo para Deus, reis e líderes religiosos. Dizendo-se pastor, ele estava usurpando um título divino para atribui-lo a um ser humano.  Isso não era aceitável.

 A cultura bíblica e do Oriente Médio entram em colisão com a prática da ação de pastorear do Ocidente. Nessas duas partes do mundo, a ação do pastor tem pouca coisa em comum. Por isso, os cristãos ocidentais, carecem de muitas partes do mosaico da imagem do pastor, quando leem as escrituras. O motivo é a falta de conhecimento da cultura dos países do Golfo Pérsico. Aqui, o panorama, o cheiro, o "humorismo" diário mudou pouco desde os tempos de Cristo.

No Ocidente, o proprietário mantém suas ovelhas em cercados. Para recolhê-las, ele pode ter dois ou mais cachorros que conciliados por assobios ou voz, correm juntando as ovelhas espalhadas latindo, ameaçando-as, ou até mesmo, mordendo-as levemente para que caminhem na direção certa. Elas se dirigem a um lugar sob a pressão e o medo. No ocidente, o pastor é alguém que usa os cachorros para juntar as ovelhas, ou, em tempos atuais, ziguezagueia com ruidosas motos para reuni-las em algum lugar.

O reverendo anglicano, Andrew Thompson, relata duas experiências. Enquanto caminhava numa estrada de terra na Jordânia, ouviu o cantarolar de alguém. Olhou na direção de onde vinha voz. Era um jovem caminhado à frente de um rebanho de ovelhas soltas. Quando alguma ficava para trás, ele a chamava pelo nome. Em outra ocasião, uma ovelha adulta entrou no jardim de sua moradia e se deliciava comendo as flores. Sob o olhar da esposa e dos filhos, por mais que tentasse enxotá-la, ela não se afastava por não entender aquela linguagem e tratamento. Nisso apareceu um jovem que a chamou pelo nome. Sob o olhar atônito do reverendo e sua família, a ovelha imediatamente saiu do jardim trotando atrás dele a pé.

Vejam as diferenças. Na cultura ocidental, as ovelhas se juntam sob a pressão dos gritos, assobios do proprietário e latidos dos cachorros. Prevalece o medo.  No Oriente Médio, o pastor caminha cantarolando na frente delas. No Ocidente, o pastor exerce autoridade sobre as ovelhas, enquanto no Oriente Médio elas são familiarizadas com sua voz que as chama pelo nome, indicando intimidade, companheirismo.

O Bom Pastor, ao invés de assustar, reprimir e forçar suas ovelhas para se reunir, caminha na frente e elas o seguem com alegria.

*Missionário Pe. Olmes Milani CS

Das Arábias para a Rádio Vaticano.








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