Viagens ao Sudão do Sul e Egito, desejos de Francisco para 2017


Cidade do Vaticano (RV) - "Não venha sozinho, venha com o Arcebispo de Cantuária", foi o convite feito por três bispos de diferentes Confissões cristãs ao Papa para que visite o Sudão do Sul, como o próprio Pontífice revelou durante visita à Paróquia anglicana de Todos os Santos no domingo.

Caso se concretize, não será a primeira viagem do Pontífice a um país africano em guerra, visto que em novembro de 2015 visitou a República Centro Africana, onde o caráter ecumênico e inter-religioso  da visita abriu caminho para uma possível solução ao conflito.

Francisco, de fato, já realizou duas viagens inteiramente ecumênicas, acompanhado pelo Patriarca Ecumênico Bartolomeu I: à Terra Santa, em 2014, e em fevereiro de 2016 à Ilha grega de Lesbos, local de chegada de milhares de refugiados que fogem das guerras, da perseguição e da fome.

Nas recentes viagens à Armênia, Geórgia e Azerbaijão, o ecumenismo e o diálogo inter-religioso também estiveram na ordem do dia.

A possível visita ao Sudão do Sul, acompanhado pelo Primaz da Comunhão Anglicana, Justin Welby, salienta e amplifica novamente a perspectiva de um percurso indispensável e irreversível entre as Igrejas cristãs, exigido pelos sinais dos tempos.

Levando em  consideração a crítica situação do mundo atual, a escolha de um responsável ecumenismo pastoral fica cada vez mais evidente também nas viagens apostólicas do Santo Padre.

O próprio Francisco tem ressaltado em diversas ocasiões, que o trabalho conjunto entre as diversa Confissões cristãs para enfrentar as emergências de nosso tempo, não pode esperar pelos entendimento no campo teológico, "mais difíceis de serem resolvidos". Neste sentido, foi significativo o encontro com os luteranos na Suécia, onde após o encontro de oração na Catedral, os líderes das duas religiões seguiram juntos para a Arena de Malmö, para ressaltar a importância do trabalho conjunto em favor dos temas urgentes da humanidade.

No último encontro das religiões pela paz, em Assis, ficou mais do que claro que o compromisso e o serviço comum das Igrejas cristãs e de seus responsáveis exigem testemunhos como fermento para favorecer a justiça, a fraternidade e a paz dos povos. E a declaração comum firmada em 5 de outubro de 2016 em Roma pelo Papa Francisco e pelo Primaz da Igreja Anglicana, responde plenamente às motivações de uma possível visita comum ao Sudão do Sul:

"Em uma cultura do ódio, assistimos a indizíveis atos de violência, frequentemente justificados por uma compreensão distorcida do credo religioso. A nossa fé cristã nos leva a reconhecer o inestimável valor de cada vida humana e a honrá-la por meio de obras de misericórdia...sempre buscando resolver os conflitos e de construir a paz. Enquanto discípulos de Cristo, consideramos a pessoa humana sagrada e enquanto apóstolos de Cristo, devemos ser os seus advogados".

Egito

Mas não só o Sudão do Sul poderá ser visitado pelo Papa Francisco em 2017. Também está em estudo a realização de uma eventual "viagem relâmpago" na conturbada região do Oriente Médio, mais especificamente o Egito, que tem assistido a um recrudescimento nos ataques contra a comunidade cristã copta.

Em 6 de fevereiro, o Patriarca Ibrahim Isaac Sedrak e os bispos da Igreja Patriarcal de Alexandria dos coptas, em visita ad limina, apresentaram por escrito um convite formal ao Papa Francisco para visitar o país.

O convite dos prelados chega após aquele feito pelo Presidente da República Abdel Fattah Al Sisi, recebido em audiência pelo Papa em 24 de novembro de 2014, e  também por Ahmed el-Tayyb, o Grão Imame de Al-Azhar.

O máximo expoente do centro teológico sunita e o Pontífice haviam se encontrado no Vaticano em 23 de maio de 2016, marcando um novo tempo no diálogo entre a Igreja Católica e o Islã. Na pauta do encontro, o empenho comum das autoridades e dos fiéis das grandes religiões, em favor da paz no mundo, a rejeição da violência e do terrorismo, a situação dos cristãos no contexto dos conflitos e das tensões no Oriente Médio e a sua proteção.

Digno de nota foi o encontro realizado no Cairo nos dias 22 e 23 de fevereiro, onde um Simpósio promovido pelo Centro para o Diálogo da Universidade de Al-Azhar e pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, debateu formas de enfrentar o terrorismo religioso.

Ao final do encontro foi divulgado um comunicado: "Deliberadamente falamos sobre o que gostaríamos de fazer juntos hoje e amanhã - afirmou o Cardeal Jean-Louis Tauran - e acredito que seja importante, pois esta é a concretude. Nós estivemos de acordo em avaliar a gravidade da situação de violência e também a necessidade de transmitir valores às jovens gerações. Buscamos, juntos, as causas da violência: todos estamos de acordo, todos - sobretudo os muçulmanos - em afirmar que não é lícito invocar a religião para justificar a violência. Devemos continuar por este caminho: mais a violência aumenta - e é grave - mais é necessário multiplicar este tipo de encontros. Encontros como este que se realizaram são realmente presentes que se faz à humanidade, porque demonstram a possibilidade de trabalhar juntos. O que, pelo contrário, querem os terroristas, é demonstrar que não é possível trabalhar juntos, com os muçulmanos; nós afirmamos o contrário".

 Uma possível viagem do Papa Francisco leva, necessariamente a esta direção.

(JE/Avvenire)

 








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