Card. Coccopalmerio explica o capítulo 8 da 'Amoris Laetitia'


Cidade do Vaticano (RV) – Apresentado na manhã de terça-feira na Rádio Vaticano o livro “O capítulo 8 da Exortação Apostólica pós-Sinodal Amoris Laetitia”, escrito pelo Cardeal Francesco Coccopalmerio, Presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos.

O Capítulo 8, dedicado às uniões irregulares, é o que desperta maior interesse e também questionamentos. A pergunta crucial é se uma pastoral mais atenta à cada indivíduo em particular - marcada pelo “acompanhar, discernir e integrar” a fragilidade - está em contraste com a Doutrina tradicional da Igreja. Eis o que disse a este respeito o vaticanista Orazio La Rocca, convidado para a apresentação do volume:

“As dúvidas levantadas, criaram em mim alguns questionamentos. Entre estes, o de que a doutrina é ferida. Pelo contrário não: o Cardeal com este texto, explica com uma didática muito perspicaz, que a doutrina não é afetada, é preservada. No entanto, as pessoas feridas são filhas da Igreja que se abre como uma mãe”.

Existem sérias condições para o eventual acesso aos Sacramentos dos divorciados recasados, explica Dom Grochi, Professor de Cristologia da Urbaniana e consultor da Congregação para a Doutrina da Fé, ao ilustrar como o Cardeal Coccopalmerio ajuda a compreender o que o Papa escreve na “Amoris Laetitia”:

“As coisas a mais que diz o Cardeal encontram-se nas páginas 27 e 29 do livro. São exatamente: “...a Igreja, portanto, poderia admitir à Penitência e à Eucaristia os fieis que se encontram em união não legítima, desde que observem duas condições essenciais: desejem mudar situação, porém não podem concretizar o seu desejo”. E a página 29: “...é exatamente tal propósito o elemento teológico que permite a absolvição e o acesso à Eucaristia, sempre repetimos, na presença da impossibilidade de mudar logo a condição de pecado”. Estas são as expressões com as quais o Cardeal dá um passo interpretativo na linha da Exortação”.

RV: O que significa isto? Que um casal que se encontra em uma segunda união deve ter consciência de não estar em uma situação regular e desejar mudar?

“Mudar aqui é entendido como o desejo de conversão. Não se especifica se isto significa voltar à situação precedente, quem sabe cometendo uma nova culpa, isto o diz o Cardeal; não se especifica se isto quer dizer procurar abster-se das relações conjugais como indicado pela “Familiaris consortio”, no n. 84. Fala-se de conversão. E portanto, o propósito de estar mais conformes a Cristo torna legítimo, porque é o propósito, o acesso à graça santificante dos sacramentos. Isto não contradiz a doutrina da indissolubilidade, porque se sabe não estar conforme o Evangelho, e não contradiz a doutrina do arrependimento, como tão pouco a doutrina da graça santificante. Estas são as expressões do Cardeal”.

RV: O título do Capítulo 8 da Amoris Laetitia é “Acompanhar, discernir e integrar a fragilidade”. O senhor disse que isto poderia ser um modelo cultural também para a sociedade...

“Exatamente, também para a política. O que significa para uma sociedade civil, social, política, assumir situações de maior fragilidade? Penso nos imigrantes, nos pobres, nos que têm necessidades especiais, nas pessoas socialmente excluídas... esta é a missão de cada sociedade, da política, da Igreja. Pensemos o que significa isto para a economia, para as relações internacionais, etc”.

RV: Voltando à Igreja, aparece a imagem da Igreja como “hospital de campanha”, que porém não é uma alternativa à segurança da doutrina tradicional...

“Não, porque a Igreja sempre foi refúgio dos pecadores. “Não vim para julgar, mas para dar a vida”. É necessário entender se Jesus é considerado absolutamente o centro, e a sua morte e ressurreição são o centro da doutrina - em torno da qual os aspectos doutrinais se colocam segundo uma hierarquia de verdade - ou se colocamos no centro algum aspecto, que pelo contrário, está na periferia. O Papa coloca em evidência muitas vezes, a importância das periferias quando se trata de situações de marginalidade. Portanto, convida à uma descentralização. Mas é interessante que às vezes este discurso vale também para o contrário: existem certas periferias doutrinais que tornam-se centrais, esquecendo que o centro é Cristo”.

(AM/JE)

 








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