Encontro no Vaticano: apelo a acabar com o tráfico de órgãos


Cidade do Vaticano (RV) - Concluiu-se esta quarta-feira (08/02), no Vaticano, o encontro de dois dias promovido pela Pontifícia Academia das Ciências ao término do qual os participantes assumiram com uma declaração a determinação a combater o tráfico de órgãos e de seres humanos a ele relacionado.

Solicitados pelo pedido do Papa Francisco a combater o tráfico de seres humanos e de órgãos em todas as suas formas, durante dois dias especialistas do setor debateram e refletiram sobre esse fenômeno.

Trata-se de um amplo apelo: aos governos, aos agentes de saúde, às autoridades, a todos aqueles – inclusive organizações internacionais – que possam contribuir para a eliminação do fenômeno do tráfico de órgãos e de seres humanos a ele relacionado.

Os participantes reiteraram que na origem deste mercado estão sempre a pobreza, o desemprego, a falta de oportunidades socioeconômicas, tudo aquilo que torna as pessoas vulneráveis, porque são os indigentes que se tornam vítimas do tráfico, “obrigados a vender seus órgãos na busca desesperada de uma vida melhor”.

Também são vítimas aqueles pacientes “dispostos a pagar somas ingentes e a viajar a outros países como turistas do transplante, a fim de conseguir um órgão que possa permitir-lhes viver”.

Aqueles que tornam tudo isso possível, negligenciando a dignidade de seres humanos, são intermediadores e agentes de saúde sem escrúpulos, lê-se na declaração. Apesar dos progressos feitos no combate ao tráfico de órgãos, ainda se registram muitos países meta de turismo do transplante.

Daí, o compromisso a perseguir essas práticas ilícitas e imorais, inclusive em resposta ao “pedido do Papa Francisco a combater o tráfico de seres humanos e de órgãos em todas as suas formas”.

A declaração chama em causa todas as nações a fim de que reconheçam como crime o tráfico de seres humanos com a finalidade de extrair órgãos e o tráfico destes. O apelo é feito também aos religiosos, como ressalta o chanceler da Pontifícia Academia das Ciências, Dom Marcelo Sánchez Sorondo:

“Constatou-se que onde os países são organizados com bons médicos e com um sistema hospitalar em que se facilita todo esse processo e as pessoas são habituadas a doar órgãos, praticamente não há tráfico, porque existe disponibilidade de órgãos. Ao invés, nos países em que não há bons médicos e não existe um sistema de hospitais ou de entidades para o tratamento dos doentes e as pessoas não sabem da possibilidade de doar órgãos, naturalmente há o tráfico de órgãos, no sentido que os órgãos são tirados da pessoas... como se fossem escravas. Portanto, a recomendação geral é que as comunidades religiosas, os líderes religiosos, favoreçam a doação de órgãos, de modo que quando as pessoas morrem deixam escrito no testamento a autorização para extrair órgãos. Ao mesmo tempo, pede-se que sejam muito críticos em relação ao tráfico de órgãos.”

Entre as várias recomendações encontra-se também a que é feita aos governos a instituir um quadro jurídico tal de modo a fornecer os instrumentos para prevenir e reprimir os delitos ligados aos transplantes e a proteger as vítimas independentemente do lugar em que os crimes foram cometidos.

Ademais, o apelo é dirigido às Nações Unidas e a todas as organizações que dependem da Onu, bem como ao Conselho Europeu.

Trata-se de um grave fenômeno que ainda hoje não tem cifras globais e muito menos uma estimativa do movimento econômico que está por trás dele. Portanto, as iniciativas como a destes dois dias no Vaticano, são bem-vindas. A propósito, disse ainda Dom Sorondo:

“Creio que a conclusão que podemos ter é de que o encontro foi muito positivo: é a primeira vez que se traça um balanço geral do problema, na Itália; é a primeira vez que se faz no Vaticano.” (FS / RL)








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