Papa: abrir a porta ao necessitado e reconhecer nele o rosto de Cristo


Cidade do Vaticano (RV) - “Cada vida que se cruza conosco é um dom e merece aceitação, respeito, amor”: é o que afirma o Papa Francisco na Mensagem para a Quaresma deste ano, publicada esta terça-feira (07/02), cujo tema é “A Palavra é um dom. O outro é um dom”.

Nela, o Santo Padre lembra que a Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Francisco recorda-nos que este tempo litúrgico “não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão”, convite este que caracteriza o tempo quaresmal:

“O cristão é chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor.”

Já no início da mensagem, o Pontífice ressalta os meios santos que a Igreja habitualmente no propõe neste período da Quaresma qual momento favorável para intensificarmos a vida espiritual: o jejum, a oração e a esmola. O Papa observa que na base de tudo isso, porém, está Palavra de Deus.

A esse propósito, o Santo Padre atém-se, em particular, à conhecida parábola do homem rico e do pobre Lázaro. E exorta-nos a nos inspirar por esta página tão significativa, que “nos dá a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão”.

O outro é um dom

O primeiro convite que nos faz esta parábola é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque “cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido”, lê-se na mensagem.

“Lázaro ensina-nos que o outro é um dom. A justa relação com as pessoas consiste em reconhecer, com gratidão, o seu valor. O próprio pobre à porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a converter-se e mudar de vida”, afirma Francisco, acrescentando que “a Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil”.

O pecado cega-nos

A parábola põe em evidência, sem piedade, as contradições em que vive o rico. Ao contrário de Lázaro – observa o Pontífice –, este personagem “não tem um nome, é qualificado apenas como rico”.

Assim, “a riqueza deste homem é excessiva, inclusive porque exibida habitualmente: «Fazia todos os dias esplêndidos banquetes». Entrevê-se nele, dramaticamente, a corrupção do pecado, que se realiza em três momentos sucessivos: o amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba”, descreve o Pontífice.

Francisco chama a atenção para este perigo evocando o que diz o Apóstolo Paulo a esse propósito: “a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro” (1 Tm 6,10). “Em vez de instrumento ao nosso dispor para fazer o bem e exercer a solidariedade com os outros, o dinheiro pode-nos subjugar, a nós e ao mundo inteiro, numa lógica egoísta que não deixa espaço ao amor e dificulta a paz”, acrescenta.

A esse ponto de sua mensagem, Francisco afirma: “a parábola mostra-nos que a ganância do rico o faz vaidoso. A sua personalidade vive de aparências, fazendo ver aos outros aquilo que se pode permitir. Mas a aparência serve de máscara para o seu vazio interior. A sua vida está prisioneira da exterioridade, da dimensão mais superficial e efêmera da existência.

“O degrau mais baixo desta deterioração moral é a soberba. O homem veste-se como se fosse um rei, simula a posição dum deus, esquecendo-se que é um simples mortal. Para o homem corrompido pelo amor das riquezas, nada mais existe além do próprio eu e, por isso, as pessoas que o rodeiam não caiem sob a alçada do seu olhar”, pondera o Papa.

A Palavra é um dom

O Evangelho do homem rico e do pobre Lázaro ajuda a prepararmo-nos bem para a Páscoa que se aproxima, evidencia Francisco, lembrando o gesto penitencial com o qual tem início o tempo quaresmal:

“Quando impõe as cinzas sobre a cabeça, o sacerdote repete estas palavras: «Lembra-te, homem, que és pó da terra e pó voltarás a ser». De fato, tanto o rico como o pobre morrem, e a parte principal da parábola desenrola-se no Além. Dum momento para o outro, os dois personagens descobrem que nós «nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele» (1 Tm 6,7).”

Só no meio dos tormentos do além é que o rico reconhece Lázaro e queria que o pobre aliviasse os seus sofrimentos com um pouco de água. No Além, restabelece-se uma certa equidade, e os males da vida são contrabalançados pelo bem, acrescenta o Papa, que aponta o verdadeiro problema do rico:

Servir Cristo nos irmãos necessitados

“A raiz dos seus males é não dar ouvidos à Palavra de Deus; isto levou-o a deixar de amar a Deus e, consequentemente, a desprezar o próximo. A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão.”

“Que o Espírito Santo nos guie na realização dum verdadeiro caminho de conversão, para redescobrirmos o dom da Palavra de Deus, sermos purificados do pecado que nos cega e servirmos Cristo presente nos irmãos necessitados”, conclui Francisco. (RL)








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