"Não tenhais medo de ouvir o Espírito que sugere escolhas ousadas", diz o Papa Francisco na carta que enviou aos jovens, nesta sexta-feira (13/01), como apresentação do documento preparatório do Sínodo dos Bispos de 2018.
O Pontífice inicia a carta manifestando a sua alegria de anunciar aos jovens que,
em outubro de 2018, se realizará a 15ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre
o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.
O documento preparatório foi apresentado, nesta sexta-feira, na Sala de Imprensa da Santa Sé. Um dos objectivos do texto é encontrar as melhores maneiras para acompanhar os jovens a reconhecer e acolher o chamamento à vida plena e anunciar o Evangelho de maneira eficaz.
A carta dá início a uma fase de estudo da parte do Povo de Deus. É endereçada às
Conferências Episcopais, aos Conselhos dos Hierarcas das Igrejas Orientais Católicas,
aos departamentos da Cúria Romana e à União dos Superiores Gerais. Espera-se também
a participação dos jovens através de um site.
O Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal Lorenzo Baldisseri, abriu a conferência
de imprensa com os jornalistas apresentando a estrutura do documento que tem como
objectivo recolher informações sobre a actual condição sociocultural dos jovens de
16 a 29 anos, nos vários contextos em que vivem, a fim de entendê-la, em vista dos
passos preparatórios sucessivos para a assembleia dos bispos.
O texto é dividido em três partes: ver a realidade, a importância do discernimento,
e acção pastoral da comunidade eclesial. A Igreja deseja acompanhar os jovens na descoberta
e realização de sua vocação.
“Deve ser esclarecido que o termo vocação deve ser entendido no sentido amplo e diz
respeito a grande variedade de possibilidade de realização concreta da própria vida
na alegria do amor e na plenitude decorrente do dom de si a Deus e aos outros. Trata-se
de encontrar a forma concreta em que esta realização plena possa se realizar através
de uma série de escolhas, que articulam estado de vida, matrimónio, ministério ordenado,
vida consagrada, etc. profissão, modalidade de compromisso social e político, estilo
de vida, gestão do tempo e dinheiro, etc.”, disse o Cardeal Baldisseri na conferência.
Completa o documento preparatório um questionário que prevê a recolha de dados estatísticos sobre cada igreja local, a resposta a várias perguntas para entender melhor cada situação e a partilha de boas práticas pastorais em andamento para que possam ser de ajuda a toda a Igreja.
Os jovens serão plenamente envolvidos nesta fase preparatória através de um site a fim de recolher suas expectativas e vida.
“O próximo Sínodo não quer somente se interrogar sobre como acompanhar os jovens no discernimento de sua escolha de vida à luz do Evangelho, mas quer também colocar-se à escuta dos seus desejos, projectos e sonhos que os jovens têm para a sua vida, como também das dificuldades que encontram para realizar o seu projecto ao serviço da sociedade à qual pedem para ser protagonistas activos”, disse o Subsecretário do Sínodo dos Bispos, Dom Fabio Fabene.
Para envolver os jovens serão criadas várias iniciativas, vigílias de oração, encontros internacionais e concertos. As respostas ao questionário do documento preparatório e as dos jovens serão a base para a redacção do Documento de trabalho, o Instrumentum laboris, que será o ponto de referência para o debate dos Padres sinodais.
A seguir, a carta do Papa aos jovens
“Quis que vocês estivessem no centro das atenções, porque vos tenho no meu coração. Exactamente hoje foi apresentado o Documento preparatório, que também vos confio como «bússola» ao longo deste caminho.”
Sair
“Vêm-me à mente as palavras que Deus dirigiu a Abraão: «Sai da tua terra, do meio
de teus parentes e da casa de teu pai, e vai para a terra que eu te mostrarei». Hoje,
estas palavras são dirigidas também a vocês: são palavras de um Pai que vos convida
a «sair» a fim de serem lançados em direcção a um futuro desconhecido, mas portador
de realizações seguras, encontro ao qual Ele mesmo vos acompanha. Convido-vos a ouvir
a voz de Deus que ressoa nos vossos corações através do sopro do Espírito Santo”,
ressalta o Papa no texto.
“Quando Deus disse a Abraão «Sai», o que queria lhe dizer? Certamente, não para fugir
de sua família, nem do mundo. O seu foi um convite forte, uma provocação, a fim de
que deixasse tudo e partisse para uma nova terra. Qual é para nós hoje esta nova terra,
a não ser uma sociedade mais justa e fraterna que vocês almejam profundamente e desejam
construir até às periferias do mundo?”
“Mas hoje, infelizmente, o «Sai» adquire também um significado diferente. O da prevaricação,
da injustiça e da guerra. Muitos de vós, jovens, estais submetidos à chantagem da
violência e sois forçados a fugir da vossa terra natal. O vosso clamor sobe até Deus,
como o de Israel, escravo da opressão do Faraó”, destaca o Pontífice.
Discernir
“Recordo-vos também as palavras que certo dia Jesus proferiu aos discípulos, que lhe
perguntavam: «Rabi, onde moras?». Ele respondeu: «Vinde e vede!». Jesus dirige o seu
olhar também a vós, convidando-vos a caminhar com Ele.”
“Queridos jovens, vós encontrastes este olhar? Ouvistes esta voz? Sentistes este
impulso a pôr-se a caminho? Estou convencido de que, não obstante a confusão e a perturbação
deem a impressão de reinar no mundo, este apelo continua a ressoar no vosso espírito
para o abrir à alegria completa. Isto será possível na medida em que, também através
do acompanhamento de guias especializados, souberdes empreender um itinerário de discernimento
para descobrir o projecto de Deus na vossa vida. Mesmo quando o vosso caminho estiver
marcado pela precariedade e pela queda, Deus rico de misericórdia estende a sua mão
para vos erguer”, sublinha ainda o Papa.
Agir
Na abertura da última Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia, perguntei-vos
várias vezes: «Podemos mudar as coisas?». E vós gritastes juntos um «Sim!» retumbante.
Aquele grito nasce do vosso coração jovem, que não suporta a injustiça e não pode
submeter-se à cultura do descarte, nem ceder à globalização da indiferença. Escutai
esse clamor que vem do vosso íntimo! Mesmo quando sentirdes, como o profeta Jeremias,
a inexperiência da vossa jovem idade, Deus vos encoraja a ir para onde Ele vos envia:
«Não tenhas medo [...] pois eu estou contigo para te proteger».
Constrói-se um mundo melhor também graças a vós, ao vosso desejo de mudança e generosidade.
Não tenhais medo de ouvir o Espírito que vos sugere escolhas audazes, não hesiteis
quando a consciência vos pedir para arriscar a fim de seguir o Mestre. Também a Igreja
deseja colocar-se à escuta da vossa voz, da vossa sensibilidade, da vossa fé; até
das vossas dúvidas e as vossas críticas. Fazei ouvir o vosso grito. Deixai que ele
ressoe nas comunidades e fazei-o chegar aos pastores. São Bento recomendava aos abades
que, antes de cada decisão importante, consultassem também os jovens porque «muitas
vezes é exactamente ao mais jovem que o Senhor revela a melhor solução».
“Assim, através do caminho deste Sínodo, eu e os meus irmãos Bispos queremos, ainda
mais, «colaborar para a vossa alegria». Confio-vos a Maria de Nazaré, uma jovem como
vós, à qual Deus dirigiu o seu olhar amoroso, a fim de que vos tome pela mão e vos
guie para a alegria de um «Eis-me!» pleno e generoso”, conclui o Papa.
(BS/MJ)
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