Padre Murad: muçulmanos, primeiras vítimas dos jihadistas


Aleppo (RV) – “As vítimas da violência na Síria são todos os sírios, muçulmanos e cristãos. E a sofrer são em particular os pobres, aqueles que não têm a possibilidade de fugir”.

Enquanto prossegue entre inúmeras dificuldades a evacuação da população dos bairros na parte leste de Aleppo – controlados por anos por milícias rebeldes, em grande parte jihadistas – o Padre Jacques Murad, monge sírio da Comunidade de Deir Mar Musa, sublinha em uma declaração divulgada pela Agência Fides, que uma possível, autêntica reconciliação, exigirá muito tempo, e será possível somente se evitar interpretações e instrumentalizações em chave sectária dos sofrimentos indizíveis provocados por 5 anos de conflito.

Inapropriado falar em “genocídio de cristãos”

“As atrocidades da guerra – recorda Padre Murad – infligiram tormentos a todas as comunidades, a pessoas de todas as confissões. As primeiras vítimas do Daesh foram os muçulmanos sunitas. Neste sentido, considero inapropriado afirmar que está em curso um “genocídio” dos cristãos no Oriente Médio. Certamente, foram atingidas as comunidades cristãs que vivem naquelas terras desde o advento do anúncio cristão – prossegue – mas não é justo e não convém apresentar os cristãos como as únicas vítimas da guerra. Isto não faria outro, do que aumentar o sectarismo”.

Solidariedade com os muçulmanos

Segundo o monge sírio-católico, a reconciliação exigirá tempo: “É necessário pedir antes de tudo que Deus realize milagres e cure as feridas mortais. Nós, como cristãos, podemos fazer uma coisa importante: neste momento, mesmo nas tribulações que estamos vivendo, podemos mostrar a nossa solidariedade pelos irmãs muçulmanos que sofreram como nós, e mais do que nós. Assim ajudaremos também as comunidades cristãs do Oriente Médio a permanecerem nas terras onde sempre estiveram radicadas”.

Na manhã desta segunda-feira (19/12) teve continuidade a evacuação de civis e milicianos dos Bairros orientais de Aleppo, e ao menos mil pessoas deixaram a cidade em comboios de ônibus verdes, em direção à fronteira com a Turquia.

Curdistão iraquiano

Atualmente  Padre Jacques Mourad encontra-se em Sulaymaniya, no Curdistão iraquiano, onde exerce seu ministério sacerdotal também a serviço dos tantos refugiados cristãos provenientes da Planície do Nínive, fugidos com o avanço dos jihadistas do Estado Islâmico.

Em maio de 2015 também ele havia sido sequestrado por jihadistas do Daesh, tendo sido retirado à força do Mosteiro de Mar Elian, na cidade síria de  Qaryatayn.

“Durante a prisão – relata Padre Murrad à Agência Fides – a cada dia temia que seria o último. No oitavo dia de prisão, em Raqqa, um chefe jihadista veio na minha cela e me convidou a considerar o meu sequestro como uma espécie de retiro espiritual. Aqueles palavras me impressionaram: pensei que Deus se fazia uso até mesmo de um chefe do Daesh para entregar-me uma mensagem espiritual”.

“Estou certo - completou ele - de que também o esforço da minha comunidade em ajudar todos os necessitados da região de  Qaryatayn, quer cristãos como muçulmanos, fez com que todos os 250 cristãos daquela cidade, depois de terem sido deportados pelos jihadistas, pudessem reencontrar a liberdade sãos e salvos”.

(je/fides)

 

 

 

 

 

 








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