Papa aponta a prevenção como prioridade no combate às drogas


Cidade do Vaticano (RV) – No final da manhã desta quinta-feira (24/11), o Papa Francisco foi até a Casina Pio IV, nos Jardins Vaticanos, para se reunir com os participantes de um Congresso Internacional sobre Narcóticos.

Em seu discurso, o Pontífice definiu a droga uma “ferida” da sociedade e a dependência química como uma “nova forma de escravidão”.

“É evidente que não existe uma única causa que leva à dependência da droga, mas são muitos os fatores que influenciam: a ausência da família, a pressão social, a propaganda dos traficantes, o desejo de viver novas experiências, etc”, disse o Papa, recordando que cada dependente carrega uma história pessoal e que não podemos cair na injustiça de classificá-los como se fosse objeto ou um vaso quebrado. Toda pessoa precisa ser valorizada e apreciada em sua dignidade para poder ser recuperada. Vamos ao encontro da sua dignidade. Continua tendo, mais do que nunca, uma dignidade enquanto pessoas que são filhas de Deus."

Droga corrói, corrompe e mata

“Não é de se estranhar que tanta gente caia na dependência da droga, pois a mundanidade nos oferece um amplo leque de possibilidades para alcançar uma felicidade efêmera, que – ao final – se converte em veneno, que corrói, corrompe e mata. A pessoa começa a se destruir e, com ela, todos a seu redor. O desejo inicial de fuga se transforma na devastação da pessoa na sua integridade, repercutindo em todas as camadas sociais.”

Sistema mafioso

Neste contexto, o Papa acrescentou que é importante conhecer qual é o alcance do problema da droga - que é destruidor, é essencialmente destruidor - e, sobretudo, a vastidão de seus centros de produção e de seu sistema de distribuição. “As redes, que possibilitam a morte de uma pessoa. A morte não física: a morte psquica´, a morte social. O descarte de uma pessoa. Redes imensas, poderosas, que vão aliciando pessoas responsáveis na sociedade, nos governos, na família."

"Sabemos que o sistema de distribuição, mais ainda que a produção, representa una parte importante do crime organizado, porém, constitui um desafio identificar o modo de controlar os circuitos de corrupção e as formas de lavagem de dinheiro. Não há outro caminho senão desconstruir cadeia, que vai desde o comércio de drogas em pequena escala até as formas mais sofisticadas que se aninham no capital financeiro e nos bancos que se dedicam à lavagem de dinheiro sujo”.

"Um juiz de meu país começou a trabalhar seriamente sobre o problema da droga. Tinha milhares de quilômetros de fronteira sob sua jurisdição. Pouco tempo depois recebeu através do correio uma foto de sua família. Teu filho vai a tal escola, tua esposa faz isto... nada mais. Um aviso mafioso, Ou seja, quando alguém procura chegar às redes de distribuição, encontra-se com esta palavra de cinco letras: MAFIA. Porém, é sério. Porque, assim como na distribuição se mata quem é escravo do consumo da droga, igualmente se mata quem queira destruir esta escravidão", observou o Papa.

Francisco denunciou o sistema mafioso utilizado pelos carteis de droga, matando não só fisicamente a pessoa, mas também socialmente.

Prevenção é o caminho

Para Francisco, são necessários grandes esforços para deter a demanda do consumo de drogas, como projetos sociais, apoio familiar, reabilitação das vítimas e, sobretudo, a educação. “A prevenção é o caminho prioritário”, afirmou, pois a formação humana integral oferece à pessoa a possibilidade de ter instrumentos de discernimento.

Contudo, acrescentou, "o problema da prevenção da droga como programa sempre se vê freado por mil e um fatores de inaptidão dos governos: por um setor governamental daqui, de lá, acolá. Quase não há êxitos nos programas de prevenção à droga. Uma vez que cresce, e finca raízes na sociedade, é muito difícil.

O Pontífice recordou como, em 30 anos, o seu país, a Argentina, passou de consumidor, local de trânsito a produtor de drogas.

O Papa concluiu exortando os participantes a prosseguirem em seu trabalho, concretizando as iniciativas que empreendem a serviço dos que mais sofrem.

Encontro Internacional

A Pontifícia Academia das Ciências convidou no Vaticano especialistas, acadêmicos, médicos e membros da sociedade civil para debater principalmente o aspecto científico da droga, apresentando as consequências de seu abuso no corpo e no cérebro, assim como explorando os possíveis usos medicinais de certas substâncias para curar enfermidades e transtornos específicos.

Em dois dias de reunião (23 e 24 de novembro), foram considerados também outros aspectos, como a produção ilícita, as estratégias para combater o uso, a exploração de crianças nas organizações criminosas e os efeitos da legalização das chamadas drogas leves.








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