Dom Auza: qualidade da água disponível para os pobres é problema grave


Nova York (RV) - “Manutenção da paz e da segurança internacional.” Este é o tema, escolhido pelo Senegal, sobre o qual se deteve nesta terça-feira (22/11), o Observador Permanente da Santa Sé na ONU, Dom Bernardito Auza, em seu pronunciamento, em Nova York. Três foram os pontos centrais da reflexão do prelado: água, paz e segurança. 

“O acesso à água potável é um direito humano fundamental, uma condição para o exercício de outros direitos”, disse Dom Auza na ONU.

O arcebispo filipino recordou um paradoxo. “A água cobre dois terços da superfície terrestre, mas a disponibilidade de água doce está diminuindo”, disse ele. Com a expansão dos desertos, o desmatamento e o aumento da seca “todos deveriam se preocupar com a calamidade mundial causada pela diminuição da água”. Em alguns lugares, por causa da posição geográfica, este recurso vital sempre foi escasso. Mas em outras regiões, “a água é escassa por causa da má gestão, do desperdício e distribuição iníqua. A degradação ambiental torna a água tóxica e as mudanças climáticas alteram o ciclo hidrológico”, disse ainda Dom Auza.

“A produção agrícola e industrial limitam e condicionam as reservas aquíferas. Em muitos lugares a falta de água supera a oferta sustentável. As condições são dramáticas tanto a breve quanto a longo prazo. Este cenário causa problemas para a paz e para a segurança nacional, regional e internacional”, frisou ainda o prelado. “A escassez de água potável afeta sobretudo a África, onde amplos setores da população não têm acesso a este recurso. A migração de populações inteiras das regiões marcadas por uma disponibilidade reduzida de água é vista como uma ameaça nos países onde não existe esta lacuna grave.”

Segundo o representante da Santa Sé, vários aspectos preveem que a água provocará a terceira guerra mundial. “O Papa Francisco em sua visita à sede do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura  (FAO), em Roma, no dia 20 de novembro de 2014, afirmou que “a água não é grátis, como muitas vezes pensamos”. “Será o problema grave que pode nos levar a uma guerra”, acrescentou o Pontífice. Como sublinhado pelo Santo Padre na Encíclica ‘Laudato si’, a água potável é de importância primária pelo seu papel fundamental para a saúde e o bem-estar geral. 
 
Um problema particularmente grave é “a qualidade da água disponível para os pobres”. “Todos os dias doenças ligadas à água, como disenteria e cólera, estão entre as causas principais de morte, sobretudo entre recém-nascidos e crianças. Além disso, a tendência crescente de privatizar a água e a transformá-la em mercadoria, “pode prejudicar seriamente o acesso dos pobres à água potável”. “É previsível”, como sublinha o Papa Francisco na Laudato si', “que o controle da água feito pelas grandes empresas mundiais, se transforme numa das fontes principais de conflito neste século”.
 
Dom Auza exortou as nações a colaborarem mais estritamente para encontrar soluções e não alimentar uma concorrência acirrada sobre um recurso como a água, que pode levar a guerras e conflitos. O prelado recordou a contribuição das novas tecnologias e métodos na produção alimentar e industrial que requer menos água potável. Mas as soluções locais e tradicionais, não obstante os progressos, não devem ser abandonadas. A delegação da Santa Sé encoraja o setor público e privado a apoiar iniciativas de conservação e distribuição de água. 

“É fundamental uma educação adequada sobre a água, recurso que continua sendo desperdiçado e poluído não somente nos países desenvolvidos , mas também nas nações em desenvolvimento. Isso evidencia que muito deve ser feito ainda para educar as pessoas e comunidades na conservação e uso deste bem fundamental. É importante que povos e líderes considerem o acesso à água um direito universal de todos os seres humanos, sem distinção ou discriminação”, concluiu o representante da Santa Sé.

(MJ)








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