2016-11-23 12:31:00

Agricultura não é uma ameaça ao clima - Maria Helena Semedo - FAO


Segunda-feira 21 de novembro foi Dia Mundial das Pescas. Por essa ocasião a FAO e a Representação permanente da Santa Sé nessa Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, realizaram ali, um evento sobre o tema "As violações dos direitos humanos dos pescadores e a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada".

Intervieram no encontro o Director Geral da FAO, Prof. José Graziano da Silva  e o Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin. Durante o encontro foi também lida uma mensagem do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes. 

Na véspera do encontro, conversamos deste tema com a Vice-Directora da FAO, Maria Helena Semedo. Ela pôs em evidência o crescente valor económico e nutricional das pescas, um sector importante que dá trabalho a muita gente, homens e mulheres, mas que, infelizmente, não são tutelados por contratos de trabalho e outros direitos. Falou também das pescas ilegais, e de os barcos de pesca serem, por vezes, utilizados também para tráfico humano. 

Exprimiu, portanto, o desejo de que essa Jornada na FAO, sustida pela voz da Santa Sé, servisse para sensibilizar em relação a esses problemas e, por conseguinte, a fazer emergir ideias que poderão desabrochar em medidas concretas de protecção dos trabalhadores no sector das pescas. 

Interpelada a exprimir-se sobre o acordo de pescas entre a UE e Cabo Verde, renovado em 2014,  e que permitirá  a 71 navios europeus pescar por 4 anos em águas caboverdianas pagando apenas 550 mil Euros nos primeiros dois anos e 500 mil nos seguintes dois anos - acordo que não agradou à população caboverdiana que o considera injusto - Maria Helena respondeu que o mais importante é vigiar sobre a aplicação do acordo por forma a se saber o que se pesca e como se pesca. 

 

A Vice-Directora da FAO que acabava de regressar de Marraquexe, onde tomou parte na COP22 sobre as mudanças climáticas, mostrou-se optimista quanto à irreversibilidade do Acordo de Paris sobre o clima e a sua actuação. Mas, entrado em vigor o Acordo, agora é urgente passar à pratica - disse, acrescentando que houve anúncios de fundos para isso e que a seu ver é necessário agilizar as regras de acesso ao fundo verde para a protecção ambiental por forma a que mesmo os países mais pobres possam aceder a ele. 

Maria Helena sublinhou que a mensagem da FAO à COP22 foi que a agricultura não é uma ameaça ao clima. Antes pelo contrário! É preciso dar muita atenção sobretudo aos pequenos agricultores, pois que um dos objectivos do milénio até 2030 é diminuir significativamente a fome no mundo. Mas se não se der a devida atenção à agricultura o mundo corre o risco de ter até essa data mais 130 milhões de pessoas a passar fome no mundo. 

A número dois da FAO recordou ainda que na cimeira de Marraquexe (em que participaram mais de dois mil delegados de cerca de uma centena e meia de Estados e instituições) houve também um dia reservado aos Oceanos em que se falou da "Economia Azul", dos países insulares e da prevenção dos desastres naturais ligados ao clima. Nesta ordem de ideias foi sublinhada a necessidade de os serviços metereológicos partilharem informações com os pescadores como forma de os ajudar a proteger a sua vida e melhorar o seu trabalho. 

E a África, um dos continentes mais afectados pelas mudanças climáticas, sem ter contribuído muito para esse fenómeno, terá saído tranquila do encontro de Marraquexe? Maria Helena considera que há esperanças de ajudas, mas o mais importante é que a África comece a pensar em resolver por si própria os seus problemas sem estar muito dependente das ondulações da política internacional. 

   

Natural de Cabo Verde, Maria Helena Semedo, falou à Rádio Vaticano à margem da jornada de solidariedade para com os seus membros, organizada pela Comunidade caboverdiana em Roma no domingo, 20 de novembro, dia de encerramento do Ano Jubilar da Misericórdia. Uma ocasião para ela exprimir o seu regozijo por poder estar, de vez quando, com a sua gente e falar a sua língua.

Essa Jornada que foi concluída com uma celebração litúrgica presidida pelo Cardeal D. Arlindo Furtado, bispo de Santiago de Cabo Verde que se encontrava em Roma para o Consistório, foi para Maria Helena também um momento de espiritualidade - disse. 

Oiça: 

Na foto: Maria Helena (à direita) no encontro da comunidade cabo-verdiana. Está ao lado do D. Arlindo Furtado, do Embaixador de Cabo Verde em Roma, Manuel da Rosa, e uma diplomata argentina (de origem cabo-verdiana)








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