Editorial: Inspiração à caridade


Cidade do Vaticano (RV) – Conclui-se o Ano da Misericórdia, um Ano Santo Extraordinário que envolveu mais de um bilhão de católicos em todo o mundo, e não somente eles, pois a graça desse Ano foi para todos os homens de boa vontade. A pergunta que nasce é legítima: o que deixa a cada um de nós como legado esse ano convocado pelo Papa Francisco, diante de um momento tão difícil pelo qual passa o nosso país, o nosso mundo? O que ficou dentro de nós passados esses 365 dias, e a questão ainda maior, como vamos nos comportar no futuro?

Em um mundo em guerra, marcado pela pobreza, pelas migrações em massa, e no nosso país, pelas divisões e crises política e econômica, a misericórdia é um valor do qual temos extrema necessidade. Precisamente à misericórdia foi dedicado o Jubileu Extraordinário: um ano consagrado à remissão dos pecados, à reconciliação. Um tempo especial que a Igreja ofereceu para a conversão de cada um de nós, para a conversão do Povo de Deus e com a possibilidade de obter a indulgência plenária. E isso foi possível graças à peregrinação a uma igreja jubilar, percurso que culminou na passagem pela Porta Santa, ou Porta da Misericórdia.

Foi o primeiro jubileu temático descentralizado da história; o 65º ano jubilar extraordinário, não somente porque não se realizou nos 25 anos canônicos de distância do precedente (o último foi o do ano 2000, convocado por São João Paulo II), mas também porque foi o primeiro Jubileu temático – dedicado à Misericórdia. De fato, com uma decisão inédita, Francisco quis institui-lo em todas as catedrais do mundo. Cada Diocese pôde abrir a sua Porta Santa, ou as suas Portas Santas. Isso significou que para obter a indulgência, os fiéis não tiveram que vir a Roma e passar por uma das Portas Santas abertas nas Basílicas Papais, ou na Porta Santa da Caridade, na Estação Termini, mas sim nas igrejas de suas dioceses.

O Ano Santo começou com a abertura da Porta Santa na catedral de Bangui. Confirmando esse espírito mundial do ano jubilar, Francisco decidiu abrir a primeira Porta Santa não em Roma, mas na capital da República Centro-Africana.

E neste Ano Santo o Papa pensou em todos; nos anciãos, nos jovens, nos adolescentes, nos enfermos, nos encarcerados, nos socialmente excluídos, que puderam se reunir e viver o seu Jubileu em Roma, na Praça São Pedro, junto com Francisco. Os encarcerados e os moradores de rua fecharam o Ano da Misericórdia, com seus respectivos Jubileus. Recordamos que os encarcerados foram convidados a atravessar a porta de sua cela como fosse uma “porta santa”, de renascimento.

Outra originalidade do Jubileu foram os Missionários da Misericórdia que foram enviados às periferias do mundo. Eles foram enviados na Quarta-feira de Cinza entre as pessoas nos lugares de sua cotidianidade com a possibilidade de conceder, a quem pedisse, mesmo diante dos pecados mais graves, inclusive do aborto, o perdão.

Francisco dispôs também que para obter a indulgência fossem realizados gestos de caridade para com os estrangeiros e mais necessitados.

Foram muitos os “grandes eventos” do Jubileu em Roma, mas certamente a grandeza deste Ano Santo foi tocar todas as realidades da Igreja no mundo inteiro. Milhões de pessoas puderam fazer a experiência da Porta Santa, do perdão, da reconciliação e da mudança de vida.

Este Jubileu Extraordinário foi convocado a 50 anos do encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II, o da grande reviravolta, das mudanças, da modernização. A capacidade de dialogar com o mundo e a abertura a cada homem foram os grandes desafios vencidos pelo Vaticano II. Para Francisco este evento eclesial foi o grande divisor de águas na Igreja e o Jubileu, certamente, foi a ocasião para percorrer este pedaço de caminho que ainda deve ser concluído.

Fecha-se o Ano da Misericórdia, fecha-se a Porta Santa da Basílica Vaticana, mas não se fecha o coração misericordioso de Deus. Não se apaga a sua ternura para conosco, pecadores; não cessam de brotar rios de sua graça. Fecha-se o Ano Santo mas nós não podemos fechar nossos corações e não podemos deixar de realizar – pediu tanto Francisco – as nossas obras de misericórdia. Como disse o Papa, - e são também os nossos votos -, que a experiência da Misericórdia de Deus, que vivemos neste Ano Jubilar, permaneça com cada um de nós como inspiração à caridade àqueles que mais necessitam. (Silvonei José)








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