Dom Roque Paloschi: Matopiba nos condena à destruição


Brasília/Porto Velho (RV) - Uma audiência pública no Senado discutiu nesta terça-feira (8) os resultados e impactos dos Plano Agropecuário do Matopiba, a última fronteira agrícola do país, que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

O projeto foi criado por decreto presidencial, no ano passado, para promover o desenvolvimento econômico sustentável em atividades agrícola e pecuária na região, mas moradores da região de Matopiba, sobretudo indígenas e remanescentes de quilombos, reclamam dos impactos sofridos após a implantação da fronteira agrícola. 

Para a Comissão Pastoral da Terra, existem dois problemas principais. Um, a questão dos conflitos, porque os grupos e fazendeiros da região estão chegando e impactando as comunidades. Outro, o problema principal, é a questão do meio ambiente, tanto a terra quanto a água, que são bens comuns.

Os 73 milhões de hectares abrangidos pelo Matopiba incidem sobre 28 Terras Indígenas, 42 unidades de conservação ambiental, 865 assentamentos rurais e 34 territórios quilombolas – sem contabilizar os territórios que estão em processo de reconhecimento, delimitação, demarcação ou titulação, e que seriam ainda mais gravemente afetados pela pressão do agronegócio. 

Segundo Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho e Presidente do Conselho Indigenista Missionário, “estamos nos condenando à destruição”:

“É bom que se diga que o Projeto Matopiba vai atingir três biomas: a Amazônia, a Caatinga, e principalmente, o Cerrado. Vai causar o agravamento da pobreza e o abandono forçado dos territórios. Os povos indígenas, as comunidades tradicionais, têm uma relação de profundo respeito pela natureza, da qual dependem para a própria sobrevivência. O atual modelo de desenvolvimento fundamentado na exploração ilimitada dos bens evidencia que nós estamos nos condenando à destruição”.

“Para os representantes do agronegócio, no entanto, os povos tradicionais, indígenas ou quilombolas, significam apenas um obstáculo ao desenvolvimento. Para eles, estas populações precisam ser expulsas e eliminadas. Nós, como Conselho Indigenista Missionário, juntamente com outras organizações, estamos gritando em defesa da vida e em defesa da Casa Comum, porque a destruição de uma só espécie – como afirma tão bem o Santo Padre – já é uma perda irreparável, como a destruição de biomas e da riqueza que estes biomas representam, com seus povo, suas tradições e culturas”.

Dados do governo apontam que, na temporada 2014/15, a fronteira agrícola Matopiba foi responsável por 11% da produção de soja nacional. No entanto, Dom Roque Paloschi afirma que esta maior produtividade não significa saciar a população:

“A grande maioria da produção – da monocultura – é transgênica, mas o nosso governo fecha os olhos e infelizmente, o que vale é o lucro, é ganhar mais, e sobretudo, o anseio de commodities, produzir para exportar. Mas enquanto cresce a produção, cresce a fome na região e no Brasil. Os pobres são cada vez mais pobres e vai se criando uma casta de milionários que muitas vezes se enriquece com negócios não tão lícitos neste país, como o desmatamento, apossar-se das terras públicas, e assim por diante, porque a grilagem de terra nesta pátria amada e idolatrada é uma coisa que não tem fim e infelizmente, a justiça não consegue combater tanto o avanço da malandragem de quem desmata, de quem grila a terra, de quem sonega e deixa os pobres e as comunidades tradicionais cada vez mais desamparadas nesta região”. 

Ouça a entrevista de Dom Roque clicando aqui:

(CM)

 








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