2016-11-08 17:57:00

Marguerite e Rose, duas testemunhas de esperança e força de mudança


No evento ecuménico, na arena de Malmo, na Suécia, durante a visita do Papa pleos 500 anos da Reforma Luterana, foram apresentados alguns testemunhos de pessoas de vários continentes que, com a sua força de ânimo e positividade tem ultrapassado dificuldades e contribuído para um mundo melhor. Duas delas eram africanas: Marguerite Barankitse, burundesa fundadora da Associação “Maison Shalom” (Casa da Paz) e a jovem refugiada do Sudão do Sul, Rose Lokonien, que participou nos Jogos Olímpicos de Rio de Janeiro 2016. Retomamos, na rubrica sobre as mulheres da África, esses dois testemunhos e a reacção do Papa Francisco a cada um deles: 

Na sua recente visita à Suécia a convite da Federação Luterana Mundial para as comemorações dos 500 anos da Reforma, o Papa Francisco participou num evento ecuménico, cultural e caritativo na Arena de Malmo, no dia 31 de Outubro. Presentes representantes das várias igrejas cristãs reunidos no intento de ultrapassar as divisões e construir um mundo melhor. E sinal desta grande esperança, convidaram algumas pessoas a dar o testemunho da sua esperança e poder de transformação. Neste sentido contaram a sua história de vida, uma indiana, um colombiano e dois africanos…

 “O meu nome é Margherite. Sou do Burundi, mas actualmente vivo no Ruanda como refugiada, desde o ano passado. O meu país, o Burundi, passou desde 1962, por vários massacres e como mãe, como cristã, decidi recusar essa situação e criei em 1993 uma associação. “Maison Shalom”, Casa da Paz para acolher todas aquelas crianças sofredoras. Mas todos disseram-me: “estás louca, o que estás a fazer, queres criar um lugar onde pôr todas essas crianças? Estamos em guerra, não tens dinheiro, o que estás a fazer!?”. Disse, “não, essas crianças são a riqueza, a única riqueza que temos. Essas crianças são o nosso futuro, a nossa esperança e não vos esqueçais (aplauso…) que o primeiro louco foi Jesus (aplauso) e disse-lhes: “deixai-me seguir Jesus na cruz.

Então durante 22 anos combati, ninguém compreendeu! O UNICEF disse-me: “qual é os plano de acção?”. Disse: Amor; a tua estratégia?! Amor. E muitos perguntaram-me: “Queres criar uma Congregação, há bastantes orfanatos!”. Disse: “não. Quero criar uma nova geração que rompa com a violência no meu país, uma nova geração! E, imaginem: durante 22 anos tive sucesso! Aqueles milhares de crianças cresceram, tornaram-se doutores, engenheiros (aplauso) advogados, e algumas delas tornaram-se meus colegas e mesmo directores executivos da “Maison Shalom”. Sim, uma vitória do amor sobre o ódio (aplauso…).

Mas, infelizmente, o ano passado, outra vez, a violência, e mataram demasiados jovens, raptaram meninas, puseram jovens na prisão, puseram todas aquelas crianças na rua e decidi mais uma vez, como mãe e como cristã, dizer não, não à guerra! Decidi denunciar, mas queria matar-me e tive de fugir do meu país. Somos mais de 300 mil refugiados do nosso país, mas jornalistas perguntaram-me: faliste? Disse não. Perdeste tudo! Disse não, fugi com o meu tesouro: amor e amor inventor, criei outra vez, agora no Ruanda, perto do campo de refugiados para ajudar jovens que são a nossa riqueza. Por favor aceite ser louco como eu. Aceita isso? (aplausos). Sim aceita, aceita, aceita o amor, aceita esta única vocação de distribuir felicidade e não te esqueças de sonhar, porque cada um dos nossos sonhos faz o nosso mundo melhor. Obrigada. Obrigada jovens, obrigada crianças, sois o nosso futuro. Obrigada.”

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A este testemunho de Margarite Barankitse, o Papa respondeu com estas palavras:

Escutei com atenção os testemunhos:

Margherite chamou a nossa atenção para o trabalho a favor dos meninos vítimas de tantas atrocidades e o compromisso com a paz.

É algo admirável e, ao mesmo tempo, uma chamada a levar a sério as inumeráveis situações de vulnerabilidade de que sofrem tantas pessoas indefesas. Aquelas que não têm voz.

Aquilo que tu consideras como um missão foi uma semente, uma semente que gerou abundantes frutos e hoje, graças a esta semente, milhares de crianças podem estudar, crescer e recuperar a saúde (aplausos…).

Apostaste no futuro. Obrigada! (aplausos…) e agradeço-te pelo facto de que agora, mesmo no exílio, continuas a difundir mensagens de paz. Disseste que todas as pessoas que te conhecem acham que aquilo que fazes é uma loucura! Continua assim! (riso, aplausos…).

É, com efeito, a loucura do amor a Deus e ao próximo (aplausos…).

Oxalá que se propague esta loucura, iluminada pela fé e a confiança na providencia.

Vai em frente e que essa voz de esperança que que ouviste no início da tua aventura e da tua aposta continue a animar o teu coração e o coração de muitos jovens (aplauso...)"

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Depois de Margarite Barankitse tomou a palavra para dar o seu testemunho, Rose Lokoyen, jovem de 23 annos, sul-sudanesa refugiada no Quénia, amante do desporto…

Queridos irmãos e irmãs, o meu nome é Rose Nathike Lokoyen. Sou de nacionalidade sul-sudanesas, mas vivo no Quénia como refugiada. Tornei-me refugiada em 2002 quando tinha oito anos, juntamente com os meus pais e a razão pela qual deixamos o nosso país foi por causa da guerra. Quando fiz 14 anos, os meus pais voltaram para o Sudão do Sul para ver os pais deles, e eu fiquei com os meus irmãos mais pequenos no Campo de Refugiados de Kakuma. Ali fiz a escola primária e secundária e fazia desporto, jogava futebol.

Depois da escola secundária juntei-me ao Leader World Federation para trabalhar juntamente com outros colegas na mobilização de meninas. Por vezes discutíamos sobre a importância da educação, sobre o equilíbrio de género e tudo isso…

No ano passado aconteceu que o Tegla Loroupe Peace Foundation organizou uma maratona no Campo de Kakuma, eu participei e venci na categoria feminina dos 10km. Depois fui levada para Nairobi para treinar. Ali fizemos oito meses de treino e houve uma selecção para o Rio de Janeiro 2016 e aconteceu que fui uma das seleccionadas para ser uma das primeiras refugiadas a participar nos Jogos Olímpicos (aplausos).

Isso mostrou-me que como refugiada, não significa que não és um ser humano; é simplesmente um estatuto. Depois, quando fomos para o Brasil, fui seleccionada como porta-bandeira para representar os 56 milhões de refugiados no mundo e quando entramos no Estádio de Maracaná, as pessoas acolheram-nos calorosamente porque era a primeira vez que refugiados participavam nos Jogos Olímpicos. Isto deu-me esperança: enquanto refugiados somos seres humanos como todos os outros. Então, os refugiados devem ser tratados como as todas as pessoas. Deu-me esperança e força para atingir as minhas metas no futuro e ajudar as minhas comunidades e os meus colegas refugiados também.

Embora no meu país os combates continuem e muitas pessoas estão espalhadas pelo mundo, simplesmente porque causa da guerra… Que as pessoas em todo o mundo falem com os líderes para que haja paz e ajudem os que estão fora a voltar para reconstruir o país. Obrigada.”

Eis a resposta do Papa ao testemunho de Roma:

“Rose, a mais jovem, deu um testemunho realmente comovedor.  Ela soube tirar proveito do talento que Deus lhe deu, através do desporto. Em vez de desperdiçar as suas forças em situações adversas, as empregou numa vida fecunda.

Enquanto ouvia a tua história, vinham-me à cabeça os tantos jovens que necessitam de um testemunho como o teu.

Gostaria de recordar que todos podem descobrir essa condição maravilhosa de ser filhos de Deus e o privilégio de ser queridos e amados por Ele (aplauso breve….).

Rose, eu te agradeço de coração pelos teus esforços e acções por animar outras meninas a regressar à escola e também por rezares todos os dias pela paz no Sudão do Sul que tando dela necessita” (aplausos…)

(DA)








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