Cidade do Vaticano (RV) - Domingo passado, os encarcerados. No próximo domingo, os socialmente excluídos. Na reta final deste Ano Jubilar, são estes os protagonistas escolhidos pelo Papa Francisco.
A propósito, ouça a reflexão do Vice-coordenador da Pastoral Carceraria Nacional, Pe. Gianfranco Graziola.
Para ele, ao escolher a periferia da humanidade, o Pontífice fecha com chave de ouro este Jubileu da Misericórdia.
Ouça aqui:
Jubileu dos encarcerados e encarceradas
Papa Francisco nas suas viagens e na própria bula de convocação do Jubileu extraordinário da misericórdia "Misericordiae Vultus", O rosto da misericórdia, tem uma atenção particular as obras de misericórdia corporais e espirituais. Mas o Papa não tem uma visão teórica da misericórdia, para ele é bem claro que a misericórdia deve se concretizar em obras concretas dando o exemplo com as sextas feiras da misericórdia que ele foi realizando como pastor no contexto da Igreja de Roma ao longo de todo este ano.
Também nas viagens, suas celebrações e encontros focaram bem este aspecto no corte que ele deu as mesmas: o encontro e o abraço com as periferias da humanidade: povo de rua, encarcerados, jovens e adolescentes em conflito com a lei, idosos e pessoas que, ele considera como os "descartados", o lixo do sistema econômico, insuportável, excludente, que mata e ameaça o futuro da humanidade e da Casa Comum.
Assim como o começo, ao abrir a porta da Misericórdia em Bangui, na República Centro Africana, Papa Francisco, denuncia os ódios, as guerras fratricidas, fecha a mesma com a chave de ouro do Jubileu dos encarcerados /as e das pessoas socialmente excluídas. Papa Francisco tem demonstrado grande sensibilidade para os conflitos de nossa humanidade, por suas feridas convidando a comunidade humana e cristã a não ficar indiferente diante os grandes e gravosos dramas por ela vividos, convidando-a a assumir a sua responsabilidade, forma concreta de assumir a atitude e o olhar misericordioso do Pai.
A Pastoral Carcerária Nacional no Brasil, acolhendo de bom grado esta provocação de Francisco quis traduzir de varias formas o rosto e o olhar misericordioso do Pai. A ação mais significativa disso é a "Agenda pelo Desencarceramento", um decálogo de propostas concretas, que vai da descriminalização das drogas, à desmilitarização do Estado, do sistema e da policia, à transformação de uma justiça classista, punitivista, vertical, autoritária e individualista, para uma justiça horizontal, democrática, participativa e restaurativa; instrumento que nos compromete a concretizar e realizar o sonho de uma sociedade, de um mundo sem cárceres.
Concluindo temporalmente o Jubileu da Misericórdia, fica uma provocação que como Igreja e pastorais ainda não conseguimos responder, e que Francisco coloca com as duas últimas celebrações jubilares: será que conseguimos nós mesmos ultrapassar a porta da Misericórdia de Deus? A porta é generosamente aberta, e continuará aberta, é preciso um pouco de coragem da nossa parte para cruzar o limiar.
É preciso cruzar o limiar dessa misericórdia de Deus, Ele nunca se cansa de perdoar, nunca se cansa de nos esperar! Ele nos olha, está sempre próximo a nós. Coragem! Entremos por essa porta e passemos de uma pastoral, uma Igreja de conservação, para uma Igreja missionária que em « nossos dias, como Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade. (…) orienta-se apenas a isto: servir o homem, em todas as circunstâncias da sua vida, em todas as suas fraquezas, em todas as suas necessidades ».
Este é o fruto da misericórdia do Pai, que cria em nós vísceras de misericórdia e transforma nosso olhar no rosto misericordioso do Pai.
Pe. Gianfranco Graziola
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