Lumen Gentium e Gaudium et Spes são complementares


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar, no Programa de hoje, a tratar dos documentos conciliares.

Inúmeras edições deste nosso espaço Memória Histórica têm sido dedicadas à Constituição dogmática Lumen Gentium, aquele que é considerado um dos grandes documentos do evento conciliar. No programa de hoje, o Padre Gerson Schmidt, que tem nos acompanhado neste percurso, relaciona esta Constituição dogmática com outro grande documento do Concílio: a Gaudim et Spes:

"A Lumen Gentium e a Gaudium et Spes são duas Constituições do Concílio Vaticano II de fundamental importância. São dois pilares dos quatro de um grande edifício. As quatro grandes constituições: Lumen Gentium, Gaudium et Spes, Sacrosanctum Concilium e Dei Verbum – formam esses quatro pilares de uma grande obra edificada – o Concilio Vaticano II.

Indubitavelmente, LG e GS marcaram a vida da Igreja, porque significam uma nova concepção da Igreja em si mesma, na Lumen Gentium, e uma nova dinâmica de inserção da Igreja no mundo, seu papel, sua presença atuante no mundo, como é o empenho da Gaudium et Spes. Há nessas duas fundamentais Constituições uma nova autoconsciência de Igreja. Está presente nesses dois documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II uma nova visão, um novo horizonte, um novo paradigma do que vem a ser a Igreja. A Igreja não é o Reino de Deus, mas faz parte dele.

A Gaudium et Spes é um prolongamento da Lumen Gentium. O Papa João XXIII assim expressou, quando falou de GS: “É o prolongamento da Constituição Lumen Gentium sobre a Igreja, e representa um esforço para o estabelecimento de diálogo entre a Igreja e o mundo, de maneira autêntica e realista. Em Lumen Gentium, a Igreja aprontou-se para falar ao mundo. E vai se tornando cada vez mais claro que, entre a Lumen Gentium e esta Constituição – a Gaudium et Spes - existe uma passagem da preparação para a ação, até a própria ação².

Quando se abordam esses dois documentos, está se falando do espírito do Vaticano II. Já na primeira Sessão, o Concílio foi levado a ser centrado no duplo tema: a Igreja em si mesma e a Igreja no mundo de hoje. Um tema é decorrência do outro³. O objetivo do concílio não foi o de fazer uma fazer uma grande apologética, em defesa da Igreja ou uma reivindicação de seus privilégios, mas, sim, de se fazer uma prestação de serviços à humanidade toda (4). Desse modo, a Igreja entra em diálogo com o mundo e o documento Gaudium et Spes é o sinal e o veículo desse diálogo no nosso tempo. Esse era o desejo dos dois Papas, João XXIII e Paulo VI, como este último declara no discurso de encerramento da terceira Sessão do Concílio (5). O Papa Paulo VI assim se expressou na conclusão da Lumen Gentium:

“E quiséramos, enfim, que também sobre o mundo profano, no seio do qual a Igreja vive e pelo qual está cercada, a doutrina da Igreja irradiasse algum reflexo atraente: deve ela, a Igreja, aparecer como aquele sinal no meio dos povos (Cfr. Is. 5, 26.), para oferecer a todos a orientação no seu próprio caminho em demanda da verdade e da vida. Como, efetivamente, cada um pode observar, a elaboração desta doutrina, atendo-se ao rigor teológico que a justifica e magnífica, nunca se esquece da humanidade que conflui na Igreja, ou que constitui o ambiente histórico e social em que se desenvolve a sua missão. A Igreja é para o mundo. A Igreja outro poder terreno não ambiciona para si senão aquele que a habilita a servir e à amar. Aperfeiçoando o seu pensamento e a sua estrutura, não visa ela a apartar-se da experiência própria dos homens de seu tempo, senão que, antes, tende acompreender este melhor, a melhor lhes compartilhar os sofrimentos e as boas aspirações, a confortar melhor o esforço do homem moderno em mira à sua prosperidade, à sua liberdade, à sua paz (6).

A Igreja, embora realidade divina por vontade do de Jesus Cristo, é para o mundo, criada para exercer sua missão como sacramento universal de Salvação. Não pode apartar-se da experiência própria dos homens de seu tempo, onde atua, está mergulhada, onde exerce sua missão de evangelizar, que seja de fato um sinal no meio dos povos, não fora deles. É tão natural para a Igreja ser missionária quanto para a luz iluminar. Se a luz não ilumina, não é luz. Da mesma maneira, se não é missionária, a Igreja não é Igreja. O Papa Paulo VI escreveu que a pessoa evangelizada, espontaneamente evangeliza, como luz que se difunde, como água que transborda, como fogo que se alastra, como fermento que leveda".

 

¹ Baseado literalmente no texto de Pe. Geraldo B. Hackmann, “A IGREJA DA LUMEN GENTIUM E A IGREJA DA GAUDIUM ET SPES”, com as devidas referências também das notas e fontes usadas, com adaptações pessoais para programa radiofônico. Cf. http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/teo/article/viewFile/1713/1246.

² Apud M. G. MCGRATH, Notas históricas sobre a Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”. In G. BARAÚNA, A Igreja no mundo de hoje. Petrópolis: Vozes, 1967, p. 137.

³ M. G. MCGRATH, op. cit., p. 138.

4 A. AMOROSO LIMA, Visão panorâmica sobre a Constituição Pastoral Gaudium et Spes. In G. BARAÚNA, op. cit., p. 162 e 166.

5 Cf. E. LORA E B. TESTACCI (a cura), Enchiridion Vaticanum v. 1. Bologna: Dehoniane, 1993, p. 193.

6 DISCURSO DO PAPA PAULO VI NA CLAUSURA DA TERCEIRA SESSÃO DO CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, 21 de Novembro de 1964.








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