Deportar os traficantes, não os explorados, pede ex-vítima


Cidade do Vaticano (RV) – As forças de segurança “deveriam prender e deportar os traficantes, não as vítimas!”. É o que defende a ex-prostituta nigeriana Princess Inyang, ao pronunciar-se esta quinta-feira na coletiva de imprensa no âmbito do Encontro sobre Tráfico de Seres Humanos realizado no Vaticano.

Grupo Santa Marta

O “Grupo Santa Marta”  assumiu o mesmo nome do local onde reside o Pontífice, pelo fato de precisamente ali, em abril de 2014, ter-se reunido pela primeira vez, numa iniciativa agora presidida pelo Cardeal Vincent Nichols, Arcebispo de Westminster, que esta manhã introduziu o encontro com o Papa Francisco.

No decorrer dos anos – explicou na coletiva de imprensa  o purpurado inglês – o grupo promoveu, em particular, a colaboração entre duas realidades empenhadas, em diversos países do mundo, no combate às novas formas de escravidão, e em particular, a exploração sexual: a Igreja, ou seja, bispos, sacerdotes e religiosos, e a polícia.

O Cardeal Nichols disse ao Papa que desde 2014 aumentou a sensibilidade para com as vítimas do tráfico de seres humanos e que os resultados alcançados até aqui encorajam a prosseguir.

Em particular, o Arcebispo de Westminster observou que nestes últimos dois anos o Grupo, por meio de suas atividades, pode mostrar ao mundo a miséria desconhecida de tantas pessoas vulneráveis. E convidou a não esquecer-se das vítimas do tráfico, duas das quais, junto com ele, participaram do encontro com os jornalistas realizado na Sala de Imprensa da santa Sé.

Testemunho vivo

A primeira a dar seu testemunho foi Princess Inyang, de origem nigeriana, que em 1999, ainda jovem, foi trazida para a Europa por traficantes, como a promessa de trabalhar como cozinheira. Chegada à Itália, foi obrigada à prostituir-se e a desembolsar uma soma de 45 mil euros. Ao conseguir fugir dos traficantes – graças à ajuda de um sacerdote - Princess transformou sua experiência negativa em algo positivo, ao fundar a ONG Piam, com o objetivo de ajudar as vítimas da prostituição na Itália.

“Sou uma testemunha viva – afirmou – dos perigos e das atrocidades às quais muitas mulheres nigerianas são submetidas. O meu coração se enche de alegria cada vez que eu posso  ajudar alguém”.

A partir de sua experiência, ela indicou algumas linhas de ação concreta. Antes de tudo, com projetos internacionais no país de origem, que concentrem os investimentos também por meio de bolsas de estudos, para desmotivar as jovens a abandonar a Nigéria.

Neste sentido, solicitou que as agências internacionais das forças de ordem colaborem com determinação para individuar os traficantes que agem sobretudo na Nigéria, no Níger e na Líbia.

Por fim, deveria ser incrementado na Europa o número de locais seguros para as vítimas do tráfico de pessoas, com maior investimento nos programas de proteção para as numerosas vítimas que estão em busca de ajuda.

Melhor deportar os traficantes que as vítimas

“No que se refere às expatriações – disse – é melhor perseguir os criminosos, os traficantes, porque a maior parte das vezes a Polícia e os Carabinieri, deportam as vítimas e não os traficantes. A maior parte das vezes colocam na prisão os traficantes enquanto as vítimas fazem as suas denúncias, mas quando são libertados, ainda estão na Itália, retomam o seu trabalho e têm os seus agentes. É melhor deportar os traficantes do que as vítimas”.

O segundo testemunho foi dado por Al Bangura, um jovem originário de Serra Leoa, que foi para a Guiné, e por fim, com a promessa de se tornar um jogador profissional, foi levado para Paris e Londres, tendo conseguido mais tarde fugir dos traficantes.

(je/asca)








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