LG: Uma nova relação da Igreja com o Reino de Deus e com o mundo


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar da Constituição Dogmática Lumen Gentium.

Vamos continuar neste espaço dedicado ao Concílio Vaticano II a explorar um de seus mais importantes documentos, a Constituição Dogmática Lumen Gentium. No Programa de hoje, Padre Gerson Schmidt nos propõe a reflexão "Uma nova relação da Igreja com o Reino de Deus e com o mundo":

"Nos encontros anteriores falamos da dimensão cristológica e pneumática da eclesiologia da Lumen Gentium, numa clara consciência da Igreja não ser simplesmente uma associação ou agremiação humana, mas obra de Cristo, por vontade do Pai, realizada e assistida pelo Espírito Santo. Essa visão traz duas consequências. Uma, a superação de uma eclesiologia puramente jurídica; e a outra, a consciência de uma nova relação com o Reino de Deus e com o mundo. Já vimos a primeira questão de ultrapassar o jurisdicismo. O primeiro capítulo da Lumen Gentium, intitulado O mistério da Igreja, sinaliza uma Igreja trinitária, que se origina do mistério de Deus e deve testemunhá-lo ao mundo.

Vejamos hoje a segunda: uma nova relação da Igreja com o Reino de Deus e com o mundo.

A Igreja deixa de se identificar com o Reino para ser seu sinal e instrumento, seu germe e início e ter a missão de anunciá-lo e estabelecê-lo em todo o mundo (cf. Lumen Gentium, 5). Assim, a única Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele, embora fora de seu corpo se encontrem vários elementos de santificação e de verdade (cf. Lumen Gentium, 8). Aqui não se trata de um relativismo eclesiológico, como se Jesus Cristo não quisesse ter fundado a Igreja ou como se ela tivesse surgido com o processo de perda da tensão escatológica, mas de afirmar seu lugar e seu papel no mundo como subsistência da única Igreja de Jesus Cristo.

De acordo com o então Cardeal Ratzinger, quando o Concílio usa o verbo “subsistir” quer entendê-lo como um caso especial de ser, afirmando que a Igreja de Jesus Cristo, como sujeito concreto neste mundo, se encontra na Igreja Católica. E isso existe apenas uma só vez. É expressão da singularidade da Igreja Católica e não sua multiplicidade. Contudo, não se pode esquecer o drama da divisão eclesial. Embora a única Igreja subsista em um único sujeito, também fora da Igreja existem elementos de verdade e santificação, existindo verdadeiras comunidades eclesiais. Por isso, o esforço do ecumenismo caminha na direção de reabilitar a unidade perdida pelo pecado humano e a impele ao diálogo com outras tradições e expressões religiosas ¹.

Um segundo elemento se pode acrescentar na busca de identificar a eclesiologia da Lumen Gentium. A Igreja da Lumen Gentium é um Povo de Deus em busca da santidade. A imagem bíblica de Povo de Deus, preferida à imagem de Corpo de Cristo, destaca a dimensão histórica. De fato, a historicidade da Igreja vem destacada por essa imagem e sua abertura para a história humana, pois a Igreja avança em direção à casa do Pai no mundo e não fora dele. E o Vaticano II não quis ignorar o mundo de então, pelo contrário, entrar em diálogo com o mundo, como, aliás, o demonstra a Gaudium et Spes. Mas é um Povo de Deus santo, e em busca da santidade. Santo, porque Deus torna a Igreja santa, mas, ao mesmo tempo, deve realizar em sua própria vida a santidade de Deus. Por essa razão, ela é semper reformanda, de acordo com o penúltimo parágrafo do número 8 da Lumen Gentium.

Os capítulos de 3 a 7 demonstram toda uma orientação conciliar: a hierarquia, os leigos, a vocação universal à santidade, os religiosos e a dimensão escatológica da Igreja mostram o objetivo intrínseco da Igreja, o que lhe é essencial: a busca da santidade. A Igreja é chamada a se conformar com Cristo, para, assim, tornar-se instrumento de Deus no mundo. Ser sinal de Deus, clamando para que a humanidade dê espaço para Deus, a fim de que ele possa habitar no mundo e, assim, tornar-se morada de Deus".

¹ Cf. J. RATZINGER, loc. cit., p. 77.

 








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