2016-10-18 16:29:00

Emergência humanitária no Sudão do Sul: milhões de pessoas em risco


Continua muito difícil a situação humanitária no Sudão do Sul por causa da dificuldade de os operadores internacionais distribuírem alimentos às populações. O Programa Alimentar Mundial (PAM) lançou um apelo: entre quatro e cinco milhões de pessoas correm o risco de morrer por falta de comida. Segundo informa a agência Fides, particularmente difícil é a condição dos habitantes de Aweil, no norte do País, onde os campos são ricos em alimentos, mas as populações não os podem comprar porque os preços subiram dez vezes mais em relação ao ano passado. Uma crise humanitária causada pela guerra civil iniciada em 2013 e agravada por persistentes conflitos étnicos e o conflito político entre o presidente Salva Kiir e o ex-vice-presidente Riek Machar. Nos últimos dias, na capital Juba, difundiu-se a notícia falsa da morte de Kiir e muitas pessoas abandonaram as suas casas, algumas das quais foram em seguida objecto de pilhagens. Para um testemunho do Sudão do Sul, Elvira Ragosta contactou por telefone em Juba o Padre Daniele Moschetti, Superior Provincial dos Combonianos:

A situação se está a agravar cada vez mais. Estamos no fim da estação das chuvas  e isto também afecta em grande medida os movimentos. O lançamento da comida em algumas áreas torna-se difícil por terra. Há 5 milhões de pessoas em risco de fome, com tudo aquilo que isso implica, sobretudo para as crianças e mulheres, especialmente onde houve guerra nestes últimos três anos. Trata-se de uma das áreas dos três Estados do petróleo – Unity State, Jonglei State e Upper Nile State - onde a guerra destruiu praticamente um pouco de tudo, onde há pessoas - mesmo no campo - que fugiu. Existe, pois, mais de um milhão de pessoas fora do País e quase 300 mil  pessoas dentro do País, sobretudo em campos de refugiados internos.

A crise humanitária é também consequência da actual  turbulência política. Há alguns dias atrás, difundiu-se em Juba a notícia falsa da morte do Presidente Salva Kiir. A coisa criou pânico na população, que fugiu, e houve saques. Ainda continua a ser muito difícil a situação política no país: fala-se de lutas de poder dentro do próprio partido de Salva Kiir, enquanto que o seu adversário, o ex-presidente Riek Machar, não está no Sudão do Sul neste momento. Como é a situação política?

Em Juba, a capital, há muita tensão. Na terça-feira à noite, quando se difundiu a  notícia desta provável morte de Salva Kiir, que certamente vem dos círculos internos do governo, houve uma grande fuga de pessoas da cidade, por medo de represálias, portanto de tomada de poder por parte de outros militares. Fazem-se nomes de algumas pessoas, logicamente dentro do governo, dos militares, e as pessoas, sobretudo de outras etnias, fogem. Quando há uma psicose deste tipo, quando se vêem  movimentos de militares, as pessoas aqui tóm muito medo. Infelizmente o que acontece nas outras zonas são confrontos, conflitos concretos no Unity State, em Central Equatoria e Western Equatoria, onde os militares do SPLA, portanto do exército regular, combatem contra vários grupos rebeldes, que não se relacionam necessariamente com Riek Machar, porque hoje os grupos rebeldes aumentaram em número e pertencem a diferentes grupos étnicos. A guerra, portanto, se expandiu de uma forma ou de outra, também em outras partes do País e com o a economia praticamente em colapso total as pessoas mal podem conseguir uma refeição por dia. A nível político, infelizmente, não se vêem sinais de compromisso com o que poderia ser um discurso humanitário, porque estão concentrados totalmente na área militar e política, que não é clara. Ambos os líderes estão doentes. Depois, estão outros grupos étnicos que agora estão todos eles contra a realidade de um governo claramente Dinka. Este, infelizmente, é o verdadeiro problema. É uma guerra exclusivamente étnica, iniciada em 2013: antes era uma guerra Nuer-Dinka, hoje é Dinka contra todos.

O empenho da Igreja para o Sudão do Sul continua. Foi aberto recentemente  um centro para a paz precisamente em Juba. Esta é uma das coisas que fizemos nós como religiosos católicos religiosos no Sudão do Sul para a evangelização, a educação e portanto a formação humana e cuidados de saúde. Realizamos muitos programas em vários campos, exactamente para apoiarmos todas as Igrejas católicas locais das sete dioceses que existem no Sudão do Sul e no sábado, de facto, abrimos este centro, que se chama "Centro de Paz do Bom Pastor". Este é um centro que quer reunir os vários grupos étnicos, para fazer programas de formação humana, espiritual, de "peace building”, a construção da paz, "trauma healing" (cura dos traumas), porque estamos a falar de grupos étnicos, de milhões de pessoas, que viveram 40 anos de guerra. (BS)








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