França: o 'mea culpa' da Igreja pela tragédia de Montségur


Paris (RV) -  O Bispo de Pamiers, Diocese sufragânea de Toulouse, Dom Jean-Marc Eychenne, decidiu pedir perdão pelas tragédias que ensanguentaram a região há oito séculos, no tempo das perseguições contra aqueles que eram considerados como "hereges" - no caso, os huguenotes e cátaros. A cerimônia do "mea culpa" terá lugar na Igreja de Montségur, onde surge o homônimo Castelo, um dos locais símbolo das guerras de religiões transalpinas.

O massacre

Estamos na França, região dos Pirineus Centrais, entre Toulouse, Perpignan e Montpellier, locais das epopeias huguenotes e cátaras. O Castelo de Montségur foi construído em 1204 como refúgio para a resistência, permanecendo com um dos bastiões do protestantismo local até 16 de março de 1244, depois de mais de um ano de um longo assédio que impossibilitou linhas de reabastecimento de alimento. 222 cátaros, que se recusaram a abjurar de sua fé, foram queimados vivos naquele que desde então é conhecido como "Prat dels cremats", ou o prado dos queimados.

Este foi um dos últimos episódios da verdadeira "cruzada" contra os albigenses, iniciada em 1209, o que contribuiu para a diáspora cátara, com uma significativa presença que chegou até o norte da Itália, também ali combatida.

Ano da Misericórdia

A iniciativa pessoal do Bispo Dom Eychenne, insere-se no quadro das celebrações do Ano da Misericórdia convocado pelo Papa Francisco. No texto de apresentação do dia, lê-se: "Nós pedimos perdão ao Senhor por ter participado com alguns de nossos membros de atos contrários ao ensinamento evangélico. Evangelho que contém palavras de amor pelo próximo que o nosso Senhor nos deixou e nos lançou e que muitas vezes foram desconsideradas".

Um ato de arrependimento forte, que supera os séculos para tornar-se atual, em uma época onde ainda em nome de Deus se perpetuam crimes e violências em nome de Deus.

Ao final da cerimônia, todos juntos irão até o prado, provável local da chacina, acompanhados pela voz da soprano Muriel Batbie, uma das musas da música "occitana" francesa.

Trata-se de uma primeira etapa importantíssima, de um percurso que poderia ter ulteriores dessobramentos. Espera-se que em 2017 ou 2018 o Papa Francisco realize uma visita pastoral à França e muitos desejam que possa ser a ocasião para um pedido de perdão pelos mortos e sofrimentos causados nos anos obscuros da Inquisição.

As reiteradas condenações do Papa da “violência em nome de Deus”

O Papa Francisco tem condenado com veemência toda violência praticada também "em nome de Deus". Em 22 de junho de 2015, em visita à Igreja valdense de Turim, o Santo Padre havia pedido perdão pelos erros do passado: “Da parte da Igreja Católica, peço-vos perdão pelas atitudes e comportamentos não cristãos, por vezes não humanos, que tivemos contra vós, na história. Em nome do Senhor Jesus Cristo, perdoai-nos”.

O catarismo foi um movimento cristão de ascetismo extremo na Europa Ocidental entre os anos de 1100 e 1200, estreitamente ligado aos bogomilos da Trácia. O movimento foi tão forte no sul da Europa e na Europa Ocidental que a igreja Católica Romana passou a considerá-lo uma séria ameaça à religião ortodoxa. As principais manifestações do catarismo centralizavam-se na cidade de Albi, motivo pelo qual seus adeptos também receberam o nome de "albigenses".

Já Huguenotes era o nome dado aos protestantes franceses durante as guerras religiosas na França (segunda metade do século XVI). Cerca de 300.000 deles deixaram a França, após as dragonnades (perseguições contra as comunidades protestantes, sob Luís XIV) e a revogação do Édito de Nantes, em 18 de outubro de 1685. Eram majoritariamente calvinistas e membros da Igreja Reformada.

(je/agências)








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