2016-09-24 17:11:00

Familiares de caboverdianos mortos em Nice na audiência com o Papa


Familiares de caboverdianos mortos no atentado de Nice estiveram na audiência com o Papa

Joaquim Gomes Correia, caboverdiano da ilha de Santiago, e a sua esposa, natural da ilha de Guadalupe, nas Caraíbas, tomaram parte na manhã deste sábado, 24/9, na audiência que o Papa Francisco concedeu aos familiares das vítimas do atentado de Nice.

Joaquim e a esposa perderam os seus dois filhos – Ludivine Gomes de 25 anos e Ludovic Dylan – de 15 anos – nesse terrível atentado do dia 14 de Julho.

Foi terrível, a vida tem sido dura, explica o Sr. Joaquim, satisfeito, porém, por ter podido vir a esse encontro com o Papa Francisco e sentir a sua ajuda, uma palavra de encorajamento para continuar a vida.

Católico, este pai de olhar, compreensivelmente, triste e vago, diz que perdoar, como sublinhou o Santo Padre no seu discurso, é difícil, porque na vida tudo tem um limite. Mas não exclui essa possibilidade - remata agradecendo também as autoridades cabo-verdianas pela atenção que lhes deram naquele difícil momento. 

A esposa do Sr. Joaquim ficou em silêncio, e a irmã dela que veio com eles a esta audiência também não quis dar entrevista, mas disse que “para uma mãe não há palavras” numa situação como esta. O que ajuda é a fé”.

Recorde-se que, durante o espectáculo de fogo de artifício na “Promenade des Anglais”, no dia da festa nacional francesa do 14 de Julho, um enorme camião conduzido pelo franco-tunisino Mohamed Lahouaiej Bouhlel, invadiu, em zig-zag, a Promenade, causando 84 mortos e centenas de feridos.

Na altura o Papa manifestara a sua dor e proximidade aos feridos e familiares das vítimas. E hoje recebeu, na Aula Paulo VI, um milhar de pessoas ligadas às vítimas desse trágico evento, dirigindo-lhes a palavra e detendo-se com cada uma delas, saudando-as.

Presente também na audiência uma outra cabo-verdiana, Sandra Tavares e a filha de nove anos. Sandra diz que  saíram vivas, por milagre, daquele atentado. Contou-nos, em crioulo de Cabo Verde, que conseguiu correr e salvar a filha, a qual sofreu, todavia, pela calca das pessoas que corriam, acabando por perder sangue e por desmaiar. Hoje a pequena está ainda sob controles físicos e psicológicos.

Sandra sente que naquele dia foi valente, mas é algo que não se pode esquecer - diz, pois tanto ela como a filha continuam a ter pesadelos nocturnos ligados a esse terrível momento, mas tem de fazer o possível para que a menina ultrapasse e não tenha sequelas.

Eis as suas palavras em crioulo: 

Sandra veio à audiência com a esperança de encontrar um alívio, e à saída a sua cara, a sua voz já eram outras. Sentiu-se realmente aliviada com as palavras do Papa e quanto ao perdão responde: “Quem sou eu para não perdoar”, se Jesus o fez. “Eu perdoo, perdoo".

Já para Laurindo Alzinherina, de origem portuguesa e Vice-Presidente da Câmara de Nice, este encontro com o Santo Padre era muito importante para ajudar a ultrapassar aquele momento terrível. Sublinha a grande emoção do encontro e o carinho do Papa que se deteve um momento com cada um dos familiares.

A comunidade portuguesa em Nice não foi directamente afectada, mas o sofrimento foi para todos – refere o dirigiente, acrescentando que há, todavia, que aprender a viver e a mensagem de esperança que o Papa lhes transmitiu é uma ajuda nisso.

As autoridades e a associação "Amizade França-Itália" ofereceram ao Papa um cesto com 84 cravos (símbolo da cidade de Nice) em representação de cada uma das vítimas mortais. 

(DA) 








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