2016-09-14 12:16:00

Faleceu D. Arquimínio Costa: último bispo português de Macau


Faleceu o último bispo português de Macau. D Arquimínio Rodrigues da Costa foi prelado do enclave português e do então Padroado do Oriente entre 1976 e 1988. Uma das figuras centrais da Igreja portuguesa no território pelo conhecimento que tinha de Macau e pelo perfil recordado agora na hora da morte, como testemunha na China o jornalista Carlos Picassinos

Um homem de Deus, dedicado, tímido, fluente nas línguas locais. É assim que em Macau é lembrado Arquimínio Rodrigues da Costa, o último bispo português de Macau que aqui fez os estudos no seminário de São José, atravessou os períodos conturbados da revolução cultural chinesa, o fim do maoísmo, e a transição democrática portuguesa. Foi um dos vultos da igreja portuguesa na segunda metade do século.

Nos encontros episcopais asiáticos era o único estrangeiro e ele não se sentia muito bem com isso”, recordou na agência Lusa, o padre João Lau, natural da China, radicado em Macau desde meados da década de 1940.

A resignação de Arquimínio Rodrigues da Costa, que foi bispo de Macau e do então padroado do Oriente de 1976 a 1988, foi justificada pelo próprio, aos fiéis do então enclave português, pela chegada de um tempo de transição, quando em volta, na Ásia, os bispos passavam a ser escolhidos, na medida do possível, dentro do clero autóctone e gradualmente substituiam os prelados oriundos da Europa.

Era o que estava a acontecer na vizinha diocese de Hong Kong, em Taiwan, na Coreia do Sul, no Japão, na Malásia ou na Indonésia. Macau era “um caso à parte”.

Na Rádio Macau, a antiga secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan, lembra o antigo bispo como alguém que estava sempre pronto para ouvir as pessoas. Foi um “bispo que levou a diocese de Macau a bom termo, no caminho certo”.

 “D. Arquimínio [Rodrigues da Costa] foi um grande bispo de Macau. Amava muito a diocese e a impressão que tinha dele era de um bispo muito mariano, isto é, um bispo contemplativo mas que estava sempre pronto para ouvir e estar com as pessoas”.

Florinda Chan diz que lhe escrevia todos os anos pelo Natal e recebia sempre uma resposta. “Foi uma pena. Eu prometi ir visitá-lo aos Açores, mas não consegui”, lamenta.

Um dos gestos mais recordados foi a instalação do bispo na cidade quando antes os prelados permaneciam na residência episcopal, na Colina da Penha.

O padre João Lau recorda que ele não quis ficar na residência sozinho. “Quis antes continuar a viver com os padres no Seminário de S. José”, onde ingressou em 1938, vindo dos Açores, disse.

Eduardo Tavares, ex-seminarista de 74 anos assinala o bispo como um “homem de muita dedicação ao trabalho e às pessoas, de qualidades excepcionais, afável e de uma paciência extraordinária”.

Arquimínio Rodrigues da Costa, sucedeu ao também açoriano Paulo José Tavares - o bispo de Macau durante os acontecimentos do chamado 1,2,3 em 1966, uma extensao da revolução cultural a Macau.  E a D. Arquimínio sucedeu Domingos Lam, o primeiro bispo de etnia chinesa do então enclave português, um das figuras centrais da transferência de Macau para a China.

D. Arquimínio Rodrigues da Costa faleceu esta segunda-feira aos 92 anos.

Na próxima segunda, dia 19, ás seis da tarde locais, vai ser celebrada uma missa na Sé Catedral para recordar Arquimínio Rodrigues da Costa, aliás, bispo emérito de Macau.

Em Macau, Carlos Picassinos








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