2016-09-12 16:34:00

Padre Zollner: o Papa recebeu representantes de vítimas italianas de abusos


Está a consolidar-se o empenho da Igreja para a protecção dos menores contra todas as formas de abusos. A Assembleia plenária da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores concluiu domingo, 11 de Setembro, no Vaticano, uma reunião de trabalho, iniciada no dia 5. De entre os temas enfrentados pelos membros do organismo desejado pelo Papa Francisco: a instituição de uma jornada de oração pelas vítimas, a realização de um modelo-guia para as Conferências Episcopais e a publicação de um sítio web da Comissão. Durante a sessão de trabalho pôs-se também a tónica sobre a importância do documento do Papa “Como uma Mãe amorável” que sublinha a responsabilidade dos bispos, sobre o empenho para a educação e ainda sobre os numerosos encontros realizados em várias partes do mundo por membros da Comissão.

Alessandro Gisotti entrevistou o P. Hans Zollner, membro da Comissão que falou sobre esse encontro de trabalho:

Acho que partilhamos muitas actividades levadas a cabo pelos grupos de trabalho. Acho que se pode dizer que nos últimos meses, foram realizados pelo menos 70 ou 80 encontros em várias partes do mundo: da Europa à América, até à Oceânia. Constatamos que agora em muitas partes do mundo, onde não se falava antes do tema do abuso e da sua prevenção, agora há muitas pessoas a mover-se dentro e fora da Igreja; e que a Igreja nessas regiões, por vezes, é realmente a parte mais activa e mais importante precisamente graças ao sistema das escolas católicas, graças a todo o sistema educativo e ao trabalho com os jovens e com as famílias. Por isso, ficamos muito contentes por poder partilhar todas essas actividades que foram desenvolvidas e que agora, a meu ver, indicam uma certa tomada de consciência a nível universal.”

- Está a crescer a cultura da tutela, há uma tomada de consciência cada vez mais profunda?

“Uma das experiências e mesmo de reflexão foi esta: temos de nos mover a vários níveis e em vários âmbitos. Desta vez falamos das linhas de orientação e de um modelo, de um formato, que queremos submeter à atenção do Santo Padre e que poderá funcionar como inspiração para as Conferências Episcopais a fim de melhorar ulteriormente ou então para trabalhar nalguns âmbitos em que as suas linhas de orientação não foram suficientemente desenvolvidas. Um outro âmbito é o da oração, da atenção à assistência espiritual às vítimas, para aqueles que querem receber esta ajuda ou que, por vezes, esperam também esta ajuda. Soubemos que o Santo Padre reagiu – depois da entrega da nossa proposta, há alguns meses atrás – com uma jornada de oração para as vítimas de abuso. Foi enviada uma carta às Conferências Episcopais, declarando esta necessidade de reflectir e de fazer uma proposta. O que aconteceu na sequência dessa carta foi o pedido no sentido de cada Conferência Episcopal se pôr a trabalhar, lá onde isto não foi ainda feito, por forma a se poder propor uma data e uma forma para aquela determinada Igreja local pela qual são responsáveis. Nesta semana teremos também a possibilidade de encontrar tanto os novos bispos nomeados para as Terras de Missão – e portanto, os bispos que pertencem à Propaganda Fide, à Congregação para a Evangelização dos Povos – como os que estão sob a jurisdição da Congregação para os Bispos. Temos, por conseguinte, a oportunidade de poder falar com os novos pastores das Igrejas locais – o Cardeal O’Malley, a vítima de abuso, Mary Collins e eu – transmitindo-lhes uma mensagem, estamos em crer, consistente. Estamos muito felizes de ter sido, pela primeira vez, convidados.”

- Sabemos quão o Papa Francisco tem a peito a tutela dos menores, prosseguindo um trabalho já iniciado, de modo particular, pelo seu predecessor. Houve a possibilidade de se encontrar com o Papa nestes dias?

A Comissão não se encontrou com o Santo Padre, mas eu soube que dois representantes de vítimas de abusos em Itália tiveram um encontro com o Santo Padre, no âmbito da Audiência do Ano Jubilar sábado passado, e eles entregaram-lhe dois livros publicados este ano em italiano: “Júlia e o lobo” e “Gostaria de ressurgir das minhas feridas”. O primeiro é sobre a experiência de uma jovem abusada por um sacerdote na Itália, e este é o primeiro livro, em italiano e sobre uma experiência no País. O outro livro é sobre mulheres consagradas, que são abusadas por sacerdotes. O Papa – segundo me disseram essas duas senhoras – ficou muito impressionado e exprimiu o desejo de poder acompanhar também esta vicissitude. Penso, portanto – a partir daquilo que vimos e soubemos nestes anos – desde quando está o Papa Francisco, assim como o Papa Bento XVI – que os Papas dão uma grande atenção pessoal, muito empática e muito próxima, às pessoas em grandes dificuldades e também àquelas que passaram por abusos sexuais por parte de membros do clero.”

(DA)








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