Editorial: José e Maria


Roma (RV) – Um cursor intermitente e estagnado diante de uma tela branca que parece não querer dar vez às palavras. O movimento contrário da tecla backspace está na sua décima-nona corrida para apagar os conceitos de um editorial que sequer nasceu e já está sepultado – virou poesia.

O poeta todavia deverá ressurgir dos sete palmos porque já não pode mais restar na jacente posição de observador da história – passada. Terá que mover os dedos da lógica conjugada à sensata perspectiva de um equilíbrio não tão distante para um vislumbre de futuro – que ainda está longe.

O ano “de ouro” de 1982. A seleção era favorita para levar a Copa do Mundo com Zico, Sócrates, Falcão e Éder. C’era Rossi però. E o sonho acabou. E o povo esperou. E a vida seguiu. Tancredo morreu, Sarney assumiu. A Constituição foi aprovada. A redemocratização não tardaria. Collor se elegeria. Collor renunciaria (e retornaria). Senna morreria. O Papa sobreviveria. A crise espreitaria.

O Brasil sempre esteve em crise. Até mesmo quando não estava. Mas a crise é para quem tem grana, então seu João e dona Ana não perdiam a esperança. O sol sempre se levanta. Um novo dia, uma nova época revestida de um passado que se repete?

Da sociedade de consumo à sociedade líquida. Nesse ínterim, uma geração cresceu,  outra adoeceu – e morreu. O Cruzeiro [segue a brilhar nos céus] do Sul norteou o nascimento de uma nova e geração.

Anos-luz à frente e não-consciente: o retrato de uma democracia inconsequente. Impacientes de caras-não-pintadas com as mãos conectadas [amarradas]. A revolução é digital, mas a necessidade é causal.

O que vai ser do ‘des-país’ do futuro? Era artigo, o antigo, antes definido. Os Brasis, agora plural, doenças crônicas. Divisões. Dividir para subtrair não é a solução. Multiplicar para crescer, mas o quê?

Possibilidade? Ilusão. Expectativa? Fé! O sonho não acabou. A mudança exige “tempo, tempo, tempo, senhor de todos os ritmos”. E começa nas pequenas coisas. “Não adianta falar de paz se o coração está em guerra”, disse o Papa Francisco na semana que termina.

Não é Fora Temer!, nem Tchau, querida! Estes são dois lados de uma mesma corda que arrebenta e destitui o José e também a Maria.

(rb)








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