Patriarca Youhanna: Basta de terrorismo e de mentiras!


Roma (RV) - "Salvem os nossos países das garras do terrorismo, parem com o comércio desenfreado de armas e chamem de volta aos vossos portas vossos navios de guerra! Não nos sentiremos seguros nem com navios de guerra, nem com navios de emigração! Nos sentiremos protegidos somente se em nossas terras for semeada a paz. Nós estamos radicados aqui há dois mil anos, aqui nascemos, aqui vivemos, aqui também morreremos".

Este é o forte apelo lançado na manhã de quarta-feira pelo Patriarca de Antioquia e de todo o Oriente, Sua Beatitude Youhanna X (Yaziji), durante a abertura do XXIV Simpósio Ecumênico Internacional de Espiritualidade Ortodoxa sobre "Martírio e Comunhão", promovido pelo Mosteiro de Bose, em colaboração com as Igrejas Ortodoxas, e em curso até 10 de setembro.

Patriarca aos poderosos: Basta terrorismo, basta mentiras!

O Patriarca Youhanna X - reporta a Agência Sir - irmão de um dos metropolitas sequestrado na Síria em 2013 (Boulos Yaziji) confiou a sua palestra ao Decano da faculdade teológica da Universidade de Balamand, Porphyrois Georgi.

"Os nossos cristãos do Oriente - escreveu o Patriarca aos participantes do encontro de Bose - procuram hoje alguém que dê atenção aos seus gritos, mas não o encontram". "Não estamos em busca da piedade dos fortes deste mundo mas, em alta voz, gritamos a eles de frente: "Deixem de rotular-nos como incrédulos, basta de terrorismo, basta de mentiras! Deixem de exportar barbáries, de adotar slogans insensatos!".

Embargo a um povo faminto, mas não ao comércio de armas

"Não é chegada a hora de que o mundo desperte? - perguntou-se então o Patriarca sírio. Não é chegada ainda a hora em que a humanidade se dê conta de que o terrorismo e a intolerância religiosa (takfir), que agora moram as nossas populações e as nossas igrejas, chegarão em cada canto deste planeta? Não é chegada ainda a hora em que a política internacional se interesse pelo caso dos dois Metropolitas, Youhanna Ibrahim e Boulos Yaziji, e dos presbíteros sequestrados há mais de três anos? Não é chegada ainda a hora para a sociedade internacional perguntar-se, ao menos por uma vez, do por quê impõe um embargo a um povo faminto, fechando a ele as portas de seus mercados, enquanto as escancara ao mercado dar armas?". E concluiu: "Não consigo entender como os políticos desta terra conseguem estar com os braços cruzados, olhando como espectadores o palco de violência que está o nosso país, dando prioridade somente aos interesses econômicos e estratégicos quer servem às suas políticas desumanas".

Divisões entre os cristãos tornam estéril o nosso testemunho

É "chegado o tempo de os nossos diálogos teológicos superarem as barreiras e as complexidades da história" e compreenderem que "as nossas divisões tornam estéril o nosso testemunho", afirmou o Patriarca Youhanna.

"O mundo hoje, irmãos, está em um estado de perdição. Espera de nós cristãos rostos orantes, uma comunhão autêntica e uma verdadeira unidade que supere as barreiras da história, os seus pecados e as suas feridas. O mundo hoje tem uma premente necessidade de um testemunho cristão alicerçado no encontro e na compreensão, de uma voz cristã unificada e sincera que responda às interrogações que lançam um desafio ao homem de hoje em todas as crises sociais a que é chamado a enfrentar". "Como podemos ser protagonistas de paz e fazer ouvir a nossa voz em um mundo que em nós não vê outra coisa senão tensões, divisões, parcializações?", questiona-se Youhanna X.

Sofrimento dos cristãos, incentivo para a unidade

Em seu pronunciamento intitulado "O sangue dos mártires, semente de comunhão", o Patriarca nomeou, uma a uma, todas as vítimas da violência, repassando o longo rastro de sangue até chegar a Padre Jacques Hamel, morto na França, "assassinado entre o altar e o santuário" (Mt 35,23).

"Sem dúvida - afirmou - os sofrimentos dos cristãos nesta nossa última crise representam para nós o melhor incentivo para pensar atentamente em nossa unidade como cristãos e em dar prioridade a uma ação séria, voltada a concretizá-la".

Mas isto requer um ecumenismo da conversão, avalia. "Os mártires da Igreja dos nossos dias nos recordam que aquilo que nos une é mito maior daquilo que nos divide. Mas como podemos responder de maneira prática ao seu apelo? Cada um de nós está disposto em admitir a própria responsabilidade em alargar o abismo que divide as nossas Igrejas? Cada um de nós está disposto em admitir os próprios erros cometidos no decorrer da história, e em particular aqueles erros que contribuíram para dividir o Corpo de Cristo? Estamos prontos em cuidar, com honestidade, as feridas do passado e em nos libertarmos da memória da inimizade?", pergunta-se por fim o Patriarca.

(JE/RP)








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