A "piedade popular" no Doc. de Aparecida: lugar de encontro com Jesus


Cidade do Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, o projeto de animação missionária chamado “Missão Continental”, oriundo da Conferência de Aparecida (maio de 2007) tem dado nestes anos um renovado impulso à ação evangelizadora de nossas Igrejas, buscando assim atender ao objetivo proposto pelo episcopado latino americano: colocar toda a Igreja na América Latina e no Caribe em estado permanente de missão.

Na edição passada do nosso quadro semanal “O Brasil na Missão Continental” nos ativemos a um dos temas de particular importância em Aparecida, “a piedade popular”. Traço característico da religiosidade dos nossos povos, a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe buscou valorizar, resgatar e incentivar esta forma genuína de expressão da nossa fé.

Na edição precedente, para tratar do assunto destacamos o discurso do Papa Francisco aos participantes, em Roma, do Jubileu dos Agentes de Peregrinações e Reitores de Santuários (21/01), ocasião em que sublinhou a importância da peregrinação, “uma das expressões  mais eloquentes da fé do povo de Deus e que manifesta a piedade de gerações de pessoas”.

O Papa citou uma curiosidade que vale a pena repropor: o Beato Paulo VI, na “Evangellii nuntiandi”, fala de “religiosidade popular”, mas diz que é melhor dizer “piedade popular”. E depois, disse Francisco, o episcopado latino-americano no Documento de Aparecida dá um passo a mais e fala de “espiritualidade popular”. "Os três conceitos são válidos, mas juntos", observou.

E recorrendo ao Documento de Aparecida, trouxemos o que este nos diz a respeito nos números 37, 258 e 549. Na edição de hoje vamos ver o que nos dizem os números 263, 264 e 265.

263. Não podemos rebaixar a espiritualidade popular ou considerá-la um modo secundário da vida cristã, porque seria esquecer o primado da ação do Espírito e a iniciativa gratuita do amor de Deus. A piedade popular contém e expressa um intenso sentido da transcendência, uma capacidade espontânea de se apoiar em Deus e uma verdadeira experiência de amor teologal. É também uma expressão de sabedoria sobrenatural, porque a sabedoria do amor não depende diretamente da ilustração da mente, mas da ação interna da graça. Por isso, a chamamos de espiritualidade popular. Ou seja, uma espiritualidade cristã que, sendo um encontro pessoal com o Senhor, integra muito o corpóreo, o sensível, o simbólico e as necessidades mais concretas das pessoas. É uma espiritualidade encarnada na cultura dos simples, que nem por isso é menos espiritual, mas que o é de outra maneira.

264. A piedade popular é uma maneira legítima de viver a fé, um modo de se sentir parte da Igreja e uma forma de ser missionários, onde se recolhem as mais profundas vibrações da América Latina. É parte de uma “originalidade histórica cultural” dos pobres deste Continente, e fruto de “uma síntese entre as culturas e a fé cristã”. No ambiente de secularização que vivem nossos povos, continua sendo uma poderosa confissão do Deus vivo que atua na história e um canal de transmissão da fé. O caminhar juntos para os santuários e o participar em outras manifestações da piedade popular, levando também os filhos ou convidando a outras pessoas, é em si mesmo um gesto evangelizador pelo qual o povo cristão evangeliza a si mesmo e cumpre a vocação missionária da Igreja.

265. Nossos povos se identificam particularmente com o Cristo sofredor, olham-no, beijam-no ou tocam seus pés machucados, como se dissessem: Este é “o que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). Muitos deles golpeados, ignorados despojados, não abaixam os braços. Com sua religiosidade característica se agarram no imenso amor que Deus tem por eles e que lhes recorda permanentemente sua própria dignidade. Também encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela vem refletida a mensagem essencial do Evangelho. Nossa Mãe querida, desde o santuário de Guadalupe, faz sentir a seus filhos menores que eles estão na dobra de seu manto. Agora, desde Aparecida, convida-os a lançar as redes ao mundo, para tirar do anonimato aqueles que estão submersos no esquecimento e aproximá-los da luz da fé. Ela, reunindo os filhos, integra nossos povos ao redor de Jesus Cristo.

Amigo ouvinte, por hoje é só. Semana que vem tem mais, se Deus quiser! (RL)








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