2016-09-05 12:03:00

Mulher, exemplo de fé e coragem


Na audiência geral de quarta-feira passada, 31 de agosto, o Papa Francisco serviu-se da figura da mulher marginalizada, social e religiosamente, porque sofria de hemorragias, para chamar atenção, mais uma vez, para os descartados da sociedade, categoria de que a mulher tem feito parte um pouco por todo o lado e da qual tem vindo a procurar sair.

A narração evangélica em que o Papa se apoiou para a sua reflexão, mostra como a fé, a coragem e a atenção de Jesus para connosco, são indispensáveis para salvação plena de cada um de nós, seres humanos, perante Deus e perante a sociedade.

Com efeito, é a misericórdia, a ternura, o acolhimento de Jesus em relação a essa mulher descartada que lhe volta a dar a dignidade.

E o Papa chama a atenção para a dignidade da mulher enquanto filha de Deus a apela a evitar visões da feminilidade deturpadas por preconceitos e suspeitas que podem prejudicar esta dignidade intangível.

Vamos retomar essa catequese do Papa aqui na rubrica sobre "África.Vozes Femininas" 

Coragem e fé nos salvará, mesmo quando somos descartados e marginalizados. É quanto pôs em evidencia quarta-feira passada na audiência geral, o Papa Francisco ao comentar uma das passagens do Evangelho de São Mateus. Esse Evangelho narra-nos a história da mulher hemorrágica que, com um pouco de astúcia, procurou tocar o manto de Jesus, convencida de que fazendo-o, ter-se-ia curado dessa doença de que nenhum médico a tinha conseguido libertar. Aliás, conta o Evangelho, ela tinha gasto todos os seus meios e tinha-se submetido a curas dolorosas, sem resultado nenhum. O único resultado palpável, se assim podemos dizer, era a sua discriminação social e religiosa por ser considerada impura pela sociedade. Era “excluída das liturgias, da vida conjugal, das normais relações com o próximo. Era uma mulher descartada pela sociedade” - sublinhou o Papa fazendo notar, todavia, que na sua condição de descartada, ela “sabe, sente que Jesus a pode salvar”. Então, passando por detrás de Jesus, ela tocou-Lhe o manto e Jesus “virou-se”, “viu-a” e dirigiu-lhe a palavra.

É um caso que faz reflectir “sobre como a mulher é muitas vezes vista e representada” – disse o Papa, chamando a atenção de todos,  “inclusive das comunidade cristãs, a evitar visões da feminilidade deturpadas por preconceitos e suspeitas lesivas para a sua dignidades intangível”.

E Francisco recorda que é o Evangelho a repor a verdade e a reconduzir a um ponto de vista liberatório: com efeito, Jesus fica tocado pela fé dessa mulher que todos discriminavam e transforma a sua esperança em salvação. Ela é salva por Jesus, não tanto por ter tocado o seu manto, mas pela sua coragem e fé.

O Papa faz notar que a palavra “salvação” é central nessa narração evangélica em que aparece três vezes. Uma delas é quando Jesus se dirige a essa mulher e diz-lhe: “coragem, filha, a tua fé te salvou”. Isto para dizer que a “fé é capaz de restabelecer a verdade e a grandeza da dignidade de cada pessoa. No encontro com Cristo abre-se para todos, homens e mulheres de todos os lugares e de todos os tempos, a via da libertação e da salvação”. 

Se por um lado o Papa comenta esse trecho do Evangelho, chamando a atenção para a discriminação social e religiosa de que a mulher é muitas vezes vítima, tornando-se numa das grandes categorias de descartados da sociedade, por outro Francisco se serve desse mesmo trecho para chamar a atenção mais uma vez para todos os descartados no mundo, mostrando que Deus salva a todos. Basta termos fé, esperança e nos abrirmos a Ele.

Tal como essa mulher descartada que se dirige de forma temerosa e um pouco escondida a Jesus devido ao seu estado de exclusão social, também nós temos sempre qualquer coisa a esconder devido aos nossos pequenos ou grandes pecados. Mas Jesus acolhe essa mulher. Não lhe diz – faz notar o Papa – “vai-te embora, és uma descartada!”, como se dissesse: “Tu és uma leprosa, vai-te embora”. Não, não a repreende, mas o olhar de Jesus é de misericórdia e ternura”.

Uma misericórdia e ternura que se estende a todos, porque para Jesus ninguém é descartado, considera todos como filhas e filhos. “E este é o momento da graça, é o momento do perdão, é o momento da inclusão na vida de Jesus, na vida da Igreja. É o momento da misericórdia. Hoje, a todos nós, pecadores, que sejamos grandes pecadores ou pequenos pecadores, mas todos o somos, a todos nós o Senhor diz: “Coragem, vem! Já não és descartado, já não és mais descartado: eu te perdoo, eu te abraço. Assim é a misericórdia de Deus. Temos de ter a coragem de aproximar d’Ele, pedir perdão pelos nossos pecados e continuar a viver. Com coragem, como fez essa mulher”.

Francisco faz notar ainda que a salvação assume diversas conotações: antes de mais restitui a saúde a essa mulher, depois liberta-a das discriminação sociais e religiosas. Mais ainda: realiza a esperança que ela trazia no coração, anulando os seus temores e o seu desconforto. Por fim, faz com que ela se integre na sociedade libertando-a da necessidade de agir às escondidas.

Este último aspecto é, segundo as palavras do Papa, muito importante, porque “uma pessoa descartada age, por vezes, ou por toda a vida, às escondidas” como faziam os leprosos naqueles tempos ou os sem-abrigo, hoje. E nós pecadores também temos sempre qualquer coisa a esconder, mas “Jesus nos liberta e nos põe de pé” como Deus nos criou, de pé, não humilhados, em pé”.

“Aquilo que Jesus dá é uma salvação total, que reintegra a vida da mulher na esfera do amor de Deus e, ao mesmo tempo, a restabelece na sua plena dignidade”.

Não é o manto tocado, mas sim a palavra de Jesus, acolhida com fé, que consola, cura e restabelece essa mulher na sua relação com Deus e com o seu povo.

“Jesus é a única fonte de bênção da qual desabrocha a salvação para todos os homens e a fé é a disposição fundamental para a acolher. Jesus mais uma vez, com o seu comportamento cheio de misericórdia, indica à Igreja o percurso a fazer para ir ao encontro de cada pessoa, a fim de que cada um possa ser curado no corpo e no espírito e recuperar a dignidade de filhos de Deus”. 

(DA)








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