Irmã Mary Prema: momento de exame de consciência


Cidade do Vaticano (RV) – Grande expectativa em todo o mundo pela canonização de Madre Teresa de Calcutá no próximo domingo, 4 de setembro, na Praça São Pedro. A cerimônia será um dos momentos culminantes do Jubileu da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco.

A Rádio Vaticano entrevistou Irmã Mary Prema, terceira Superiora das Missionárias da Caridade depois de Madre Teresa e Irmã Nirmala:

“A canonização da nossa Madre é para nós uma grande honra. Nos dá a oportunidade de olhar para a sua vida de perto, para o seu trabalho e à grande atenção dada pelos outros, mas também de olhar para as nossas vidas. Este é realmente um momento de exame de consciência para ver mais profundamente como vivemos a vocação que recebemos como Missionárias da Caridade e, sobretudo, a nossa união com Deus na oração e a nossa união com Jesus nos mais pobres”.

RV: Madre Teresa recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1979. Em um mundo onde continuam a se disseminar os focos de guerra, como reevocar os valores daquele reconhecimento de 79 para o tempo atual?

“O reconhecimento do Nobel pela paz foi designado a ela pelos esforços em criar a união de todos os povos, como filhos de um único Pai Celeste. Este é um tema de grande atualidade. A paz é o desejo de cada um, mas é o resultado do perdão e do compromisso na escuta das pessoas, para poder entendê-las”.

RV: Na sua opinião, a Igreja de hoje é a Igreja que Madre Teresa desejava?

“A Madre não usava o seu tempo para fazer pedidos deste tipo: a Igreja deveria ou não deveria ser assim... A Madre não analisava, mas empregava o seu tempo para transmitir a sua responsabilidade, levando Jesus a sério. A Madre dizia: “A Igreja somos tu e eu. Se queres que a Igreja seja Santa, é teu dever, e meu, ser santos”. E viveu isto desta forma”.

RV: Madre Teresa tornou-se uma espécie de “santinho” ?

“Nós vivemos com ela e a conhecemos. Venerar a sua imagem sem buscar nela um modelo a ser imitado seria injusto. A Madre é a vida e permaneceu conosco. Ela reza por nós. Foi atuante na vida de muitos; vi este particular na sua casa em Calcutá onde os restos mortais da Madre são visitados por milhares e milhares de peregrinos, gente pobre. Rezam e a Madre ouve as suas orações. E retornam com a paz no coração, com a confiança e a esperança de que a vida possa ser melhor. A Madre não é um santinho! A Madre é viva, atuante, em todos os lugares. Nós temos necessidade dela, de seus ensinamentos, da sua intercessão”.

RV: Ela foi capaz de falar claramente, em alto e bom tom, com os líderes de todos os níveis...

“A Madre não andava prá lá e prá cá para pregar ou ensinar às outras pessoas o que elas deveriam fazer. Quando ela falava, o fazia com a clareza de seu coração. Não importava com quem falasse, o seu falar era com convicção, sobre valores da vida: a espiritualidade, a oração, a família onde, às vezes, as relações são sustentadas pela aceitação do sofrimento e pelo perdão. O valor da vida religiosa como continuação da vida de Jesus. Ela levava consigo os valores dos mais pobres entre os pobres, que são pessoas grandes, porque nos ensinam muito, nos ensinam a aceitar aquilo que a vida nos oferece. A Madre nunca deu um passo atrás ao defender a dignidade das pessoas”.

RV: Ainda está muito viva nas mentes e nos corações a morte das quatro irmãs, massacradas em março passado no Iêmen por um comando de homens armados. “Mártires da indiferença”, comentou o Papa. Vendo as perseguições contra as minorias religiosas em  várias partes do mundo, a esperança de que um martírio do gênero possa servir para alguma coisa corre o risco de desiludir...

“Se olharmos com os olhos do mundo para a morte das irmãs, é um desperdício de jovens vidas. Se olharmos com os olhos da fé, é um grande privilégio dar a própria vida por aqueles que estamos servindo. As perseguições fizeram parte do cristianismo desde as origens. As perseguições são necessárias para que alcancemos o melhor da nossa vocação. As nossas irmãs, livremente e conscientemente permaneceram a serviço dos doentes de Aden, no Iêmen. É uma grande dor, mas ao mesmo tempo uma grande honra saber que elas atingiram o objetivo da sua vocação, que é a união com Deus, amando Jesus como Ele nos amou, perdoando àqueles que não sabem o que fazem”.

(AP/JE)








All the contents on this site are copyrighted ©.