Com bombardeios, ONU interrompe ajuda humanitária em Aleppo


Damasco (RV) – Os contínuos ataques aéreos sobre Aleppo interrompem as ajudas aos civis. Este é o motivo pelo qual o enviado especial da ONU à Síria, Staffan de Mistura, anunciou a suspensão das atividades de sua força-tarefa que levava ajudas humanitárias.

A decisão foi tomada depois do novo apelo às partes envolvidas na guerra do Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, em favor da martirizada Aleppo. Há o risco de uma catástrofe humanitária – escreve – sem precedentes.

Sobre as razões da concentração do fogo aéreo sobre Aleppo, a Rádio Vaticano entrevistou Lorenzo Trombetta, da Agência Ansa de Beirute:

“Aleppo é um ponto crucial para a guerra síria, quer porque é o final do eixo estradal Damasco-Aleppo, Norte-Sul, Sul-Norte, que divide em dois a Síria: de um lado, a parte dominada pelos russos, pelos iranianos e pelas forças governamentais; por outro, a Síria rural, em parte dominada pelo autoproclamado Estado Islâmico, e em parte pelos bolsões de resistência de insurgentes de vários grupos e filiações. Neste modo, Aleppo não somente está no final deste eixo, mas é também um ponto nodal que há séculos divide o Oriente Médio. Existe um Oriente Médio voltado para Anatólia, submetido, portanto, à influência turca, com os fortes interesses econômicos da Turquia no norte da Síria; mas existe também a ligação com Mosul, portanto com o petróleo iraquiano e com aquele que é o profundo Oriente Médio e depois a Ásia Central. Depois, no final das contas, Aleppo é também uma cidade mediterrânea, porque o Mediterrâneo está a menos de 200 km de distância. E Aleppo é fundamental também para o controle da parte Norte-ocidental da Síria, aquela que está voltada para a Costa de Latakia. Eis porque esta cidade, geograficamente e politicamente, encerra em si diversas dimensões cruciais para o destino da guerra”.

RV: O apelo do Secretário Geral da ONU é dirigido sobretudo à Rússia e Estados Unidos; existe realmente a vontade de salvaguardar os civis por parte daqueles que neste momento estão empenhados em atacar as bases do autoproclamado Estado Islâmico?

“Antes de tudo, a questão de Aleppo não está ligada diretamente à do Estado Islâmico. O EI não está presente, ao menos não oficialmente, na região de Aleppo. Em Aleppo se combate uma guerra pelo poder em Damasco e em geral na Síria, hoje controlada pelas forças governamentais. Sabe-se – e é mesmo documentado também por várias organizações humanitárias – que os russos e as forças governamentais, junto com as forças iranianas, atingem sistematicamente os civis em Aleppo Leste, controlada pelos rebeldes. E os próprio insurgentes, por sua vez, fizeram uso de armas e bombardearam instalações civis em Aleppo Oeste e em outras regiões. Sem dúvida, ninguém está isento de culpa nesta guerra; mas – obviamente – pelo tipo de armas que os russos, os iranianos e os sírios usam, estes últimos têm uma responsabilidade diferente em relação ao outro fronte”.

RV: O reatamento das relações entre Moscou e Ankara pode mudar de alguma forma as cartas na mesa neste momento?

“Sem dúvida. A Turquia desempenha um papel fundamental ao determinar o equilíbrio no Norte da Síria e portanto, no contexto do Aleppo. Não é por acaso que a reaproximação entre Moscou e Ankara precedeu em poucos dias até mesmo o fechamento final do cerco governativo russo-iraniano em Aleppo. De qualquer forma, faltou aos rebeldes, que estavam em Aleppo Leste, o apoio turco que evidentemente antes teria chegado, quer em termos de armas como em termos políticos, diplomáticos e também logísticos. Depois do alinhamento com Moscou, viu-se a campo como a coalizão dos rebeldes, portanto, perdeu um aliado fundamental”.

 

(JE/GV)








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