Card. Barbarin: escuta recíproca para superar desconfiança


Cidade do Vaticano (RV) – Na tarde desta quarta-feira (17/08) o Papa Francisco recebeu em audiência o Presidente francês, François Hollande. Sobre o significado desta visita e a situação vivida na França, a Rádio Vaticano conversou com o Cardeal Arcebispo de Lyon, Dom Philippe Barbarin:

 “Logo após o horrível assassinato do Padre Jacques Hamel, o Presidente da República telefonou ao Papa. A conversa foi muito boa, fraterna, comovente. Penso que esta visita tenha sido decidida de maneira simples e que não tenha nada de oficial. Por isto, trata-se de uma visita privada. E é também um modo para encontrarem-se novamente, depois de um acontecimento tão doloroso que comoveu toda a França. O Presidente da República expressou o próprio sofrimento e aquele de todo o povo francês diante de um assassinato tão injusto e revoltante como aquele de 26 de julho em Saint-Etienne-du-Rovray. Então é neste sentido – acredito – que esta visita tem contemporaneamente, sentido e tanta simplicidade”.

RV: Depois do assassinato do Padre Hamel, o senhor percebeu algum sentimento de vingança?

“Não existe nenhum sentimento de vingança. Dizemos: “É a misericórdia que deverá ser vitoriosa, a paz deve voltar....”, é realmente necessário avançar nesta direção. Acredito tratar-se de um esforço que devemos fazer todos juntos. Ficamos realmente tocados pelo número de muçulmanos que foram à Missa no domingo sucessivo à morte de Padre Hamel. Muitos párocos me contaram como os muçulmanos se apresentaram, levando dons e que diziam: “Quando nos voltamos para Deus, quando o adoramos e quando recordamos a grandeza da misericórdia de Deus, quer dizer que devemos nos olhar como irmãos e irmãs. É absolutamente inadmissível que continue esta  violência homicida...”. Foi uma experiência realmente nova, que trouxe grande violência e dor, mas que depois deu lugar a manifestações de respeito fraterno que ainda não conhecíamos”.

RV: Na França existe um debate sobre o financiamento das mesquitas e sobre o fato de que mulheres usem o “Burquini”, ou seja, um traje de banho confeccionado especialmente para as mulheres de religião muçulmana, e que cobre todo o corpo, deixando à mostra somente o rosto, as mãos e os pés. O senhor não é da opinião de que a política deve aprender das religiões, ao invés de observá-las com uma certa distância, senão até mesmo com uma certa suspeita?

 “Os textos são muito claros, na realidade. A lei francesa fala não somente do respeito, mas garante o livre exercício de culto, reconhecendo, portanto, que isto é um aspecto importante na vida dos homens, e portanto a lei permite a um judeu ser judeu, a um muçulmano ser muçulmano e a um cristão ser cristão, segundo a lógica própria e intrínseca da própria fé. Isto dizem os textos de lei. E portanto, com base nestes textos, não deveria existir nenhuma suspeita, mesmo que nos fatos, depois, existam muitas. A forma horripilante de certos atos extremamente violentos dos islâmicos provocam muito medo. Assim, as normas são claras, enquanto a atmosfera não é da mesma forma clara e serena; e é nesta direção que devemos caminhar juntos. Penso que as coisas mudarão realmente, somente quando existir uma estima recíproca. O que realmente nos fará mover uns em direção aos outros será a escuta recíproca e nesta escuta recíproca descobriremos algo que não conhecíamos ainda e disto nascerá aquela estima que nos fará dizer: “Ah, se eu fosse um cristão assim fervoroso, tanto quanto ele é um judeu fervoroso ou muçulmano fervoroso, isto mudaria as coisas na minha vida!”.

(JE)








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