Dom Sako sobre os cristãos: O Oriente Médio precisa de nós


Bagdá (RV) - Dois anos atrás, na noite entre 6 e 7 de agosto, o Estado Islâmico obrigava os cristãos da Planície de Nínive, no Iraque, a deixar a sua terra, mais de 100 mil pessoas que agora vivem espalhadas pelo Curdistão iraquiano ou em outros países.

Para recordar o drama desses irmãos na fé, a fundação ‘Ajuda à Igreja que Sofre’ organiza, na noite deste sábado (06/08), uma peregrinação noturna ao Santuário do Divino Amor, em Roma. A peregrinação partirá à meia-noite das Termas de Caracalla.

O Patriarca de Babilônia dos Caldeus, Dom Louis Raphael I Sako, dirigiu uma mensagem a todos os iraquianos a fim de libertar o Iraque dos homens do Califado. Entrevistado pela nossa emissora, eis o que disse:

Dom Sako: “É uma situação de expectativa muito complicada. Alguns perderam a esperança de voltar, porque há dois anos se ouvem palavras, discursos, ‘libertamos a Planície de Nínive’, e outras coisas, mas até agora não existe um plano claro. Então, pensam em ir embora. Estão muito preocupados e continuam vivendo em caravanas. A Igreja alugou casas e cada família tem um quarto. É uma situação difícil, mas nós continuamos esperando que a Planície de Nínive seja libertada logo.”
 
Quantos são os cristãos expulsos e onde vivem agora?

Dom Sako: “Vivem um pouco em todo lugar, mas a maioria vive em Irbil e no Curdistão. Quando fugiram eram 120 mil, mas agora alguns foram para a Jordânia, Líbano e Turquia, para depois chegarem ao Ocidente. Penso que permaneceram mais de 100 mil.”

O Senhor fez um apelo aos iraquianos sobre como enfrentar a ameaça do Estado Islâmico e fazer com que os cristãos voltem para casa. Quais são as medidas a serem tomadas?

Dom Sako: “A solução é mudar a mentalidade, mas também a cultura. O Islã deve fazer uma nova leitura e separar a religião do Estado. A terra é para todos, a cidadania é para todos, a religião é uma coisa pessoal. Não se pode fazer ou criar um Estado sectário, religioso. Isto não funciona! Como os cristãos são abertos, como aquele sacerdote francês, em Rouen, que ofereceu um terreno para que os muçulmanos construíssem uma mesquita, também eles devem ter iniciativas parecidas. Respeitar a liberdade de cada pessoa, respeitar também a humanidade das pessoas. Isto é muito importante. É fazer justiça para todos, não segundo critérios sectários, religiosos ou étnicos.” 

O senhor faz um apelo a não se deixar vencer pela frustração e pelo desespero. Nesse sentido, qual é o papel da Igreja para os cristãos refugiados?

Dom Sako: “O Papa foi muito prudente quando disse que não se pode seguir o caminho da reciprocidade no mal. Se está em andamento um ato de violência contra os cristãos, os cristãos não devem fazer o mesmo. O Papa falava com referência ao atentado em Rouen: a vingança não é uma cultura cristã. Os cristãos devem sempre esperar e colaborar com os outros pela paz e a estabilidade. Devem também difundir uma cultura do perdão e da reconciliação. Nós estamos fazendo muito aqui no Iraque: somos uma minoria, mas temos um impacto muito grande. A Igreja deve nos apoiar nesse testemunho. Os muçulmanos apreciam esta posição dos cristãos, esta abertura, este serviço de caridade. Nós ajudamos as famílias deslocadas sunitas e xiitas. É um gesto de solidariedade, de proximidade e amizade. Isso é muito apreciado. Nós temos um papel, temos um lugar aqui no Oriente Médio: é para o bem de todos que os cristãos permaneçam no Oriente Médio. Não se pode esvaziar o Oriente da presença cristã. Seria um pecado mortal!” 

(MJ)

 

 

 

 

 

 

 

 








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