LG: A Igreja como esposa de Cristo


Cidade do Vaticano -  No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar na edição de hoje da Constituição dogmática Lumen Gentium.

No programa passado, o Padre Gerson Schmidt, incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre, refletiu sobre a centralidade da Pessoa de Cristo na Igreja, ilustrando o tema com uma frase do Pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa: “De fato, não se aceita a Cristo por amor a Igreja, mas aceita-se a Igreja por amor a Cristo”, motivo pela qual a Eclesiologia do Concilio Vaticano II só se entende melhor dentro da Cristologia. Na edição de hoje, Padre Gerson nos traz uma reflexão sobre "A Igreja como esposa de Cristo":

"Uma das imagens muito bonitas, utilizadas pela Lumen Gentium, referindo-se a Igreja é que ela é a Esposa de Cristo. Já falamos aqui das outras imagens: Igreja como povo de Deus, Corpo de Cristo. Hoje acentuamos a imagem da Igreja como Esposa de Cristo, imagem esta recordada pelo pregador da Casa Pontifícia, Ramiero Cantalamessa, no advento do ano passado, quando recordou os 50 anos da Lumen Gentium, na perspectiva não teológica, mas espiritual.

Passados cinquenta anos após o fim do Concílio, São João Paulo II - na sua Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte – dizia que era possível restabelecer o equilíbrio entre esta visão da Igreja condicionada pelos debates do momento, e a visão espiritual e mistérica do Novo Testamento e dos Padres da Igreja. A pergunta fundamental não é “O que é a Igreja”, mas é “quem é a Igreja?”.

A grande resposta que aqui podemos dar, a partir da reflexão dos padres conciliares que a Igreja é corpo e esposa de Cristo. A alma e o conteúdo cristológico da Lumen Gentium (LG) emergem especialmente no capítulo I, onde se apresenta a Igreja como a esposa de Cristo e corpo de Cristo. Para o título de esposa, se lê assim na Lumen Gentium, número seis: A Igreja, chamada «Jerusalém do alto» e «nossa mãe» (Gál. 4,26; cfr. Apoc. 12,17), é também descrita como esposa imaculada do Cordeiro imaculado (Apoc. 19,7; 21,2. 9; 22,17), a qual Cristo ‘amou e por quem Se entregou, para a santificar’ (Ef. 5, 25-26), uniu a Si por um indissolúvel vínculo, e sem cessar ‘alimenta e conserva’ (Ef. 5,29), a qual, purificada, quis unida a Si e submissa no amor e fidelidade (cfr. Ef. 5,24), (LG, 6).

As grandes referências utilizadas aqui, nessa imagem da Igreja como esposa de Cristo, são tiradas da Carta de São Paulo aos Efésios, onde Paulo faz uma belíssima comparação do amor esponsal de Cristo que se entregou por inteiro, na cruz por amor a Igreja como o é o matrimônio cristão. Da mesma forma, como Cristo amou a sua Igreja e se entregou a ela, no matrimônio, os maridos devem amar as suas esposas. Há uma unidade esponsal de Cristo com sua Igreja da mesma maneira que no matrimônio.

Também aqui foi mérito do então Cardeal Ratzinger o ter destacado a intrínseca relação entre estas duas imagens da Igreja: a Igreja é corpo de Cristo porque é esposa de Cristo! Em outras palavras, na origem da imagem paulina da Igreja como corpo de Cristo não está a metáfora estóica da concórdia das partes no corpo humano (embora as vezes ele utiliza também esta aplicação, como em Rom 12, 4 ss em 1 Cor 12, 12 ss), mas há a ideia esponsal da única carne que o homem e a mulher formam unindo-se em matrimônio (Ef 5, 29-32) e ainda mais a ideia eucarística do único corpo que formam aqueles que comem o mesmo pão: “Uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos nós comungamos do mesmo pão.”(1 Cor 10, 17)[4].

Da mesma forma como homem e mulher se tornam uma só carne pelo amor esponsal, pela entrega mútua dos corpos, desta maneira a Igreja também se torna uma só carne, o corpo místico de Cristo, pela entrega de Cristo na cruz, uma vez por todas pela Igreja, pela salvação de todos. Deixemos essa frase do Cardeal Ratzinger ecoar hoje: “a Igreja é corpo de Cristo porque é esposa de Cristo!”. Portanto, há aqui uma esponsalidade, uma aliança, um amor mútuo, uma entrega, uma unidade indivisível entre Cristo e a Igreja. Bem por isso, entendemos quando Saulo escuta a voz no Caminho de Damasco: “Eu sou o Cristo a quem tu persegues”. Perseguindo os cristãos, Saulo estava perseguindo o próprio Cristo".








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