Comissão católico-ortodoxa faz releitura da vida do Beato Stepinac


Cidade do Vaticano (RV) – Realizou-se no Vaticano nesta terça e quarta-feira a primeira reunião da Comissão mista de especialistas croatas e sérvios, “encarregada de fazer uma releitura em comum da vida do Beato Cardeal Alojzije Stepinac, antes, durante e após a II Guerra Mundial”.

É o que informa um comunicado que explica como tal Comissão tenha sido “criada por iniciativa do Santo Padre, após vários encontros e consultas entre representantes da Santa Sé, da igreja Ortodoxa da Sérvia e da Conferência Episcopal croata para responder à necessidade de esclarecer algumas questões da história”.

Trabalho histórico-científico não interfere no processo de canonização

O Cardeal Stepinac, Arcebispo de Zagabria a partir de 1937, viveu inicialmente o período da II Guerra Mundial e depois, em 1946, sob o regime comunista de Tito, foi preso, processado e condenado. Morreu em prisão domiciliar em 1960. A Igreja Católica sempre se empenhou em reconhecer no Cardeal Stepinac o perfil de um pastor santo. Foi beatificado por João Paulo II em 1998. A notícia da beatificação, porém, foi acolhida com alguma perplexidade e oposição no mundo sérvio.

“A Comissão - presidida pelo Padre Bernard Ardura, Presidente do Pontifício Comitê de Ciências Histórica – foi encarregada de desenvolver um trabalho científico, seguindo a metodologia das ciências históricas, baseada na documentação disponível e na sua contextualização”.

O comunicado explica que esta não interferirá no processo de canonização do Beatro Cardeal Alojzije Stepinac, “que é de estreita competência da Santa Sé”. Prevê-se, outrossim, uma série de encontros que deverão concluir-se no arco de 12 meses. A próxima reunião terá lugar em Zagabria nos dias 17 e 18 de outubro.

Alguns testemunhos

Durante a sua vida, o Cardeal Stepinac se ocupava em salvar vidas, como testemunha, entre outros, um documento divulgado internamente na Igreja. No texto, lê-se que o purpurado convidava os sacerdotes a acolher, sem pedir-lhes nenhuma particular instrução religiosa, as pessoas de religião hebraica ou de confissão ortodoxa em perigo de morte e intencionadas a converterem-se ao catolicismo, para salvar sua vida.

“O compromisso e o dever do cristão é em primeiro lugar o de salvar a vida dos homens. Quando tiver passado este tempo de loucura – escrevia – permanecerão na nossa Igreja aqueles que tiverem se convertido por convicção, enquanto os outros, passado o perigo, retornarão à sua fé”.

Stepinac no pensamento dos Papas Francisco e Bento XVI

Em 7 de abril passado, no colóquio com o Papa Francisco, o Premier croata Tihomir Orešković deteve-se sobre a importância da figura do Beato Stepinac para os fieis croatas. O purpurado foi uma figura cara também para Bento XVI. Em 2011, por ocasião de uma viagem à Croácia, Ratzinger falou do papel do Cardeal Stepinac na luta contra todo e qualquer totalitarismo: “Soube resistir – afirmou – a todo totalitarismo, tornando-se no tempo da ditadura nazista e fascista defensor dos judeus, dos ortodoxos e de todos os perseguidos, e depois, no período do comunismo, “advogado” de seus fiéis, especialmente dos tantos sacerdotes perseguidos e mortos”.

Beatificado por João Paulo II

Quando o beatificou em 1998, João Paulo II explicou que o beato Stepinac não derramou sangue no sentido estreito da palavra. “A sua morte foi provocada pelos longos sofrimentos: os últimos 15 anos da sua vida foram um contínuo suceder de perseguições, em meio às quais expôs com coragem a própria vida para testemunhar o Evangelho e a unidade da Igreja”.

João Paulo II sublinhou, além disto, como na pessoa do novo Beato sintetiza-se, por assim dizer, “toda a tragédia que se abateu sobre as populações croatas e da Europa durante este século marcado pelos três grandes males do fascismo, do nazismo e do comunismo”. (JE/DD)








All the contents on this site are copyrighted ©.